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PIB disparou, taxa de mortalidade caiu e ter telemóvel é comum. 20 anos de Afeganistão sem os talibãs

Em duas décadas, as áreas urbanas passaram a contar com mais 4% da população e cresceu a pique o acesso à água potável — de 27% para 75%. Também o acesso à rede de saneamento é duas vezes superior.

Vinte anos depois, os talibãs chegaram ao poder num Afeganistão totalmente diferente daquele que foram forçados a deixar em 2001: o país tem agora um PIB cinco vezes maior, viu as exportações crescerem (ainda que mantenha a balança comercial desequilibrada) e a população praticamente duplicou. Os indicadores mostram ainda que há menos subnutrição e que se registou uma significativa diminuição das taxas brutas de mortalidade e natalidade. E, até os dados do acesso dos afegãos aos telemóveis e à internet mostram as diferenças.

Os números falam por si. Começando pelo Produto Interno Bruto, ou seja, a riqueza que o país consegue gerar, o salto foi gigante nestas duas últimas décadas.  Segundo dados disponibilizados pelas Nações Unidas (National Accounts – Analysis of Main Aggregates, AMA), em 2001, quando os EUA avançaram para o Afeganistão, o PIB fixava-se nos 3.621 milhões de dólares, situando-se dez anos depois já acima dos 19 mil milhões — o pico foi em 2013, quando o PIB afegão bateu nos 21.610 milhões de dólares. Apesar de uma ligeira descida nos anos seguintes — em 2019 estava nos 17.987 milhões –, no ano passado o valor ascendeu aos 19.807 mil milhões de dólares, segundo o Banco Mundial. Quanto às exportações, estas representavam em 2018 quase 885 milhões de dólares, com uma trajetória positiva, ainda que claramente insuficiente para equilibrar a balança comercial, dado que do outro lado, as importações, representavam no mesmo ano mais de 7 mil milhões.

A subida do PIB foi acompanhada por um grande aumento da população no país, o que faz com que, olhando para o PIB per capita, não se assista a um crescimento tão grande. Como se pode ver no gráfico em baixo, este indicador passou de 173 dólares em 2001 para 470 em 2019. O ano com um PIB per capita mais elevado foi 2012, quando atingiu os 695 dólares.

Mas não foi só a população a crescer, passando de perto de 21 milhões para cerca de 39 milhões, de acordo com os dados do World Population Prospects. As informações disponibilizadas pela divisão de população da Organização das Nações Unidas dão ainda conta do reflexo desta quase duplicação da população no indicador densidade demográfica: em 2001 havia em torno de 32 habitantes por cada quilómetro quadrado, número que disparou para perto de 60 em 2020.

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E se é certo que a percentagem da população com mais de 15 anos economicamente ativa caiu ligeiramente nestas duas décadas em que os talibãs estiveram longe do poder, o que não pode ser lido de forma isolada do aumento rápido da população, por outro lado os números mostram o porquê do receio de um retrocesso no que toca aos direitos das mulheres: nestas duas décadas, a percentagem de mulheres acima dessa idade economicamente ativas no subiu, de menos de 15% (desde 1995 a tendência era de queda) para 21,77%. Os dados da Organização Internacional do Trabalho (ILO, sigla em inglês) apontam para um início de caminho rumo à convergência entre as percentagens de homens e mulheres, que muitos agora acreditam que poderá ser revertido.

Nestas duas décadas, segundo as Nações Unidas, assistiu-se ainda a um aumento de 4% da população a viver em áreas urbanas, sendo em 2020 mais de um quarto (26%) do total dos afegãos.

As evolução, expressa nos dados de diversas entidades, reflete-se também nas taxas brutas de mortalidade e natalidade — número de mortes e nascimentos por mil habitantes –, de acordo com dados do Banco Mundial. E se, quando os talibãs estavam no poder em 2001, havia em média mais de 11 mortes por mil habitantes, esse número caiu consideravelmente, atingindo as 6,6 em 2018 (ver gráfico em baixo). Já a taxa bruta de natalidade passou de 47,25 em 2001 para 32,49 em 2018.

A esperança média de vida, que há vinte anos estava nos 56 anos, também mostra uma evolução positiva, passando para os 64,8 em 2019, de acordo com dados das Nações Unidas. Em parte devido à melhoria das condições de vida, como o maior acesso à água potável (a percentagem de pessoas com acesso a água potável passou de cerca de 27% da população em 2001 para mais de 75% no ano passado) e à rede de saneamento de águas residuais (entre 2002 e 2020, a percentagem de pessoas com acesso mais do que duplicou, de 25% para 50,5%). A evolução é evidenciada pelos dados do Programa Conjunto de Monitorização OMS/UNICEF para o Abastecimento de Água e Saneamento e Higiene.

Já no que toca aos gastos públicos com educação e saúde nestas duas décadas, os números que existem, das Nações Unidas e da Organização Mundial de Saúde, dão conta de uma evolução muito tímida, praticamente inexpressiva, como mostra o próximo gráfico.

Mas se, por um lado, o Estado pouco apostou nos cuidados de saúde dos afegãos, por outro houve sinais encorajadores no que toca à alimentação. A Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), a agência das Nações Unidas especializada no combate à fome, dá conta de um percurso positivo na incidência de subnutrição, que passou dos 46,1% no período compreendido entre 1999 e 2001 para menos de 30% em 2017-2019. Um outro dado disponível é o consumo calórico, que aumentou de 1792 calorias por dia para 2048 kcal/dia nestes últimos vinte anos.

Por fim, no que se refere ao acesso a tecnologias, há igualmente dois países completamente diferentes separados por duas décadas. Os dados da agência da ONU especializada em tecnologias da informação e comunicação (a International Telecommunication Union) revelam que o crescimento do número de assinaturas de telecomunicações móveis foi avassalador, passando de zero para perto de 60 assinaturas por cada cem habitantes em 2019. Também o acesso à internet cresceu, havendo em 2017 mais de 10% da população com acesso à web.

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