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A equipa liderada pelo cirurgião Hélder Ferreira realiza uma cirurgia "inovadora" e minimamente invasiva no tratamento de malformações uterinas e vaginais que afeta uma em cada 4.500 jovens mulheres, no Centro Materno Infantil do Norte, no Porto, 15 de julho de 2019. (ACOMPANHA TEXTO DE 17/07/2019)  ESTELA SILVA/LUSA
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ESTELA SILVA/LUSA

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Portugueses são dos que mais dificuldades tiveram no acesso a cuidados de saúde extra Covid

Só na Hungria é maior a percentagem de pessoas que não tiveram tratamentos de que precisavam. Retrato do Eurofound mostra ainda que, em Portugal, 31% têm dificuldade em fazer face às despesas diárias.

Desde o início da pandemia, precisou de um exame médico ou de um tratamento que não recebeu?” Para mais de três em cada dez portugueses (34,2%) inquiridos pelo Eurofound, entre fevereiro e março deste ano, a resposta a esta pergunta foi “sim”. Que a pandemia tinha atrasado consultas e cirurgias essenciais à saúde e bem-estar dos portugueses já se sabia, mas o estudo daquele organismo da União Europeia dedicado a política social permite ter outra dimensão do problema e traçar paralelismos. De facto, o país não compara bem neste indicador: só a Hungria o ultrapassa (e por pouco), com 35,2%. As causas são diversas e, pelas respostas apontadas pelos inquiridos, são mais imputadas aos serviços do que ao receio dos próprios utentes em relação à Covid-19.

Ora vejamos: mais de metade das pessoas — 51,5% — que responderam “sim” à pergunta anterior, apontaram como uma razão “muito importante” para esses atrasos o facto de “a marcação ou o tratamento” não estarem “disponíveis devido à pandemia”. Ainda assim, é uma queda face ao que se registou no inquérito anterior, realizado no verão: nessa altura 75,8% tinham identificado esta causa.

No mais recente inquérito, divulgado esta segunda-feira, é a Polónia quem lidera pela negativa (74,6%) neste indicador, seguida da Lituânia com 71,9%. Portugal está, por exemplo, numa melhor posição do que a Alemanha (60%) — só que no país liderado por Angela Merkel apenas 13,7% disseram ter ficado por receber um tratamento ou com um exame médico por realizar. O Eurofound alerta, porém, que há países onde os dados podem não ser suficientes para tirar conclusões fiáveis: como Itália, Polónia, Alemanha ou Espanha, entre outros (Portugal não se inclui neste leque).

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Em segundo lugar, foi o receio de apanhar o vírus que provoca a Covid-19 a afastar os utentes portugueses dos hospitais ou centros de saúde: 27% dos inquiridos apontaram esta causa como relevante para não terem recebido um tratamento ou sido sujeitos a um exame médico que até precisavam. A percentagem dispara para os 48,3% na Roménia e, no lado oposto, é na Polónia (14,4%) onde os cidadãos menos receio expressam.

Também as longas listas de espera foram, para 26,1% dos portugueses escolhidas como uma razão “muito importante” para não se terem realizado tratamentos ou exames, ainda assim um valor longe da Letónia (56,2%), o país onde esta causa tem maior expressão. Mas também afastado da Bulgária (15,2%), a nação melhor classificada neste ponto. A título de exemplo, o jornal Público noticiava, em janeiro, com base em dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) que, em 2020, a percentagem de pessoas inscritas para cirurgia que aguardavam a intervenção dentro do tempo aceitável foi diminuindo e atingiu o pior resultado em agosto. Nesse mês, dos 226.129 inscritos, apenas 48,8% estavam dentro do tempo adequado para a cirurgia.

Segundo o Eurofound, houve outros motivos a adiar a prestação de cuidados de saúde em Portugal: a falta de dinheiro foi um deles — ao impedir 22,8% dos portugueses de acederem a cuidados de saúde de que precisavam. Já 8,9% disseram que não o puderam fazer porque não tinham tempo livre, nomeadamente por terem de tomar conta dos filhos ou outros dependentes. E 7% apontaram a falta de meios de transporte ou a longa distância.

Rastreios, dentista ou ajuda psicológica: o que a pandemia veio atrasar

Os dados constam na mais recente atualização do inquérito do Eurofound “Living, working and COVID-19”. O organismo da União Europeia que agrega informação sobre questões de política social tem estado a monitorizar, desde o início da pandemia, os efeitos da Covid-19 no emprego, na saúde e noutros aspetos da sociedade e economia. O mais recente inquérito, cujos resultados foram divulgados esta segunda-feira, foi realizado em fevereiro e março deste ano, “durante o ressurgimento de casos da Covid-19,que levaram a novos confinamentos ou ao prolongamento de confinamentos existentes em muitos Estados-membros”.

Em Portugal, este período esteve, de facto, marcado por um segundo confinamento geral, mas também apanhou o início do desconfinamento, em meados de março. Face ao último inquérito, realizado em julho de 2020, numa altura em que os países também estavam a reabrir, os números de agora mostram apenas uma ligeira melhoria, um ano depois do início da pandemia: em julho de 2020, 35,9% responderam afirmativamente à pergunta com que iniciámos este artigo, valor que passou agora para os 34,2%.

Uma análise mais à lupa ajuda a perceber que tipo de tratamentos foram — e continuam — adiados na vida dos portugueses. “Qual o tipo de exame médico ou tratamento de que precisa mas que atualmente não pode receber?“: para 38,6% a resposta foi “rastreios preventivos e testes”. Por exemplo, segundo o Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, da DGS, ao Público, houve menos meio milhão de convocados para rastreios oncológicos de cancros da mama, colo do útero e do cólon e reto, devido à pandemia da Covid-19.

Menos meio milhão de convocatórias para rastreios ao cancro em 2020

Já em relação ao tratamento do cancro, incluindo cirurgias, apenas 0,9% dos inquiridos portugueses pelo Eurofound dizem não ter tido acesso a estas intervenções, mesmo apesar de precisarem. É o terceiro valor mais baixo dos países estudados pelo Eurofound. Além disso, 48,5% responderam “outro exame ou tratamento num hospital ou especialista” e 8,5% indicaram “outra cirurgia agendada”, mas o inquérito não precisa a que intervenções se referem os respondentes.

A pandemia está também a pôr em causa marcações em dentistas (30,2%) e de consultas de saúde mental (19,6%). No primeiro indicador, é a Grécia quem está pior (51,9%) e a Itália quem está menos mal (17%). No segundo, é a Alemanha que pior pontua (34%) e a Bulgária que apresenta os resultados menos negativos (5,1%). Aliás, ainda a propósito de saúde mental, entre os inquiridos portugueses, 20,9% disse sentir-se “desanimado e deprimido” “sempre ou a maior parte do tempo”, uma percentagem que é o dobro da que foi registada no inquérito anterior, em julho (11,7%).

“De forma significativa, as necessidades não atendidas de cuidados de saúde foram mais comuns na Hungria, Portugal e Letónia, com a situação a piorar desde o ano passado nalguns países e a melhorar noutros (notavelmente, na Lituânia)”, resume o Eurofound.

A instituição nota que “a pandemia, inicialmente, perturbou a provisão de serviços públicos, incluindo cuidados de saúde essenciais, rastreios preventivos e cuidados de saúde mentais”. E se, “enquanto que a provisão de cuidados de saúde em geral foi restabelecida de forma relativamente rápida na maioria dos países, os dados do inquérito mostram que ainda há problemas no acesso a cuidados de saúde em partes da Europa“. Ao todo, foram inquiridas 46.800 pessoas nos 27 países da UE.

Consultas recuperam ligeiramente em março, cirurgias programadas ainda não

Foi logo a 16 de março, 14 dias depois de ter sido confirmado o primeiro caso de Covid-19 em Portugal, e numa altura em que os novos casos diários diagnosticados se aproximavam da centena, que a ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou que o Governo iria avançar com o adiamento de consultas e outras atividades não urgentes em todo o país, de forma libertar espaço para os doentes Covid-19. A medida esteve em vigor até 2 de maio, o que acabou por ter impacto nos tempos de espera para consultas e cirurgias.

Em julho, para recuperar esses atrasos, o Governo chegou mesmo a criar incentivos pagos aos profissionais de saúde pela recuperação de consultas e cirurgias que ficaram por fazer por causa da pandemia. Assim, as primeiras consultas do SNS tinham um bónus de até 95%, e as cirurgias de 75%. A medida foi já prolongada até ao final deste ano.

Incentivos para recuperar consultas e cirurgias estendidos até final de 2021

Com o agudizar da pandemia, em novembro, alguns hospitais voltaram a cancelar consultas e cirurgias não urgentes, e o Governo acabou por publicar despachos nesse sentido. Em janeiro deste ano, Marta Temido enviou aos hospitais do SNS um despacho para que passassem os seus Planos de Contingência para o nível máximo e suspendessem “a atividade assistencial programada não urgente que possa reverter em reforço de cuidados ao doente crítico”. Sublinhava, porém, que tal apenas poderia ser feito se a “suspensão, pela sua natureza ou prioridade clínica”, não implicar “risco de vida para os utentes, limitação grave do seu prognóstico e/ou limitação de acesso a tratamentos periódicos ou de vigilância, designadamente no âmbito do acompanhamento da gravidez, exacerbação das doenças crónicas ou outros”.

Mais recentemente, à medida que os internamentos de doentes Covid-19 começam a cair, e a pressão nos hospitais ameniza, os hospitais têm retomado as cirurgias adiadas, assim como a atividade presencial. Mas há muito que recuperar. A comparação do número de cirurgias e consultas realizadas no ano pré-pandemia e em 2020 ajudam a perceber o impacto.

Segundo os cálculos do Observador com base nos dados do Portal da Transparência do SNS, de janeiro a dezembro de 2020, foram realizadas 11,1 milhões de consultas, menos 1,3 milhões do que em igual período do ano anterior. Este ano, os meses de janeiro e fevereiro ainda ficaram abaixo dos níveis de 2020 (no pré-pandemia), mas em março já houve uma melhoria (o que pode ser explicado com o facto de em março de 2020 terem sido canceladas, em grande parte do mês, as consultas não urgentes). Até março deste ano foram feitas 3,03 milhões de consultas, mais 22.361 do que em igual mês do ano anterior.

A ministra da Saúde, Marta Temido, intervém durante a conferência de imprensa de atualização de informação relativa ao Plano de Vacinação contra a covid-19, no Infarmed, em Lisboa, 21 de abril de 2021. RODRIGO ANTUNES/LUSA

Em julho do ano passado, para recuperar os atrasos, o Governo criou incentivos pagos aos profissionais de saúde pela recuperação de consultas e cirurgias que ficaram por fazer por causa da pandemia

RODRIGO ANTUNES/LUSA

Já as cirurgias programas passaram de 602 mil em 2019, para 488 mil em 2020. Neste caso, os valores até março de 2021 (130 mil) ainda não recuperaram face ao período homólogo (139 mil).

31,5% tem dificuldade em fazer face às despesas do dia-a-dia. E o número está a aumentar

O Eurofound focou-se também em vários aspetos da vida financeiros dos cidadãos europeus. Para 31,5% dos portugueses inquiridos pagar as despesas do dia-a-dia é feito “com dificuldade ou muita dificuldade”, um número pior do que os 26,2% registados no inquérito anterior, feito no verão. Pagar as contas mensais, como eletricidade, água e gás é mesmo visto como um problema para os 18,3% que se atrasaram, nos últimos três meses, a pagar essas despesas (uma deterioração face aos 13% do inquérito anterior). Já 15,4% atrasaram-se a pagar as despesas com telemóvel ou internet.

“Na primavera de 2021, mais respondentes reportaram estar atrasados no pagamento das suas despesas diárias e com telefone, telemóvel e internet do que nas rondas anteriores do inquérito”, refere o Eurofound. O organismo nota que “a proporção de respondentes que reportaram problemas a pagar é maior entre os desempregados — 77% deste grupo estão classificados como financeiramente frágeis”.

O Eurofound procurou ainda saber o grau de satisfação dos europeus em relação às medidas de apoio adotadas pelos respeitvos países. De forma geral, “é evidente que, enquanto que a satisfação com as medidas de apoio é baixa e a cair ao longo do tempo, há diferenças consideráveis entre os países“. Por exemplo, “níveis de satisfação particularmente baixos foram evidentes na República Checa, Alemanha, Polónia, Portugal, Eslováquia e Espanha”. No sentido oposto estão a Dinamarca, Estónia, Irlanda, Lituânia, Luxemburgo, Malta e Eslovénia.

No caso português, apenas 5,5% consideram que as medidas chegam a quem mais precisa, contra 68,7% que discordam ou discordam muito dessa afirmação (os restantes não concordam nem discordam). Da mesma forma, apenas 11,1% dizem que as medidas são “justas” (57,3% rejeita essa ideia).

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