A ideia inicial de Helena Matos era fazer um documentário sobre Fátima. Foi precisamente isso que propôs à RTP há mais de um ano. As negociações com a estação pública de televisão levaram, contudo, a investigadora a ir por outros (mas não assim tão diferentes) caminhos. “Nas conversas que foram sendo mantidas acordou-se que, além do documentário, seriam também feitos 80 pequenos episódios. Obviamente, não tinha noção do trabalho que esses 80 pequenos episódios dariam, nem de como eles me ajudariam a construir um documentário”, conta Helena Matos ao Observador.

Episódios de cerca de dois minutos que, segundo a própria, permitiriam abordar diversos aspetos — “narrativas, histórias, casos, protagonistas” — ligados a Fátima sem “ter a tentação” de os colocar no documentário, que será transmitido a 11 de maio pelas 21h00.

Portugal tem o hábito de não contar as suas grandes histórias, porque elas não são a história por que se esperava. Ora, Fátima é claramente uma história a exigir ser contada. Levamos anos a ver Fátima ‘ser transmitida’ pelas televisões, mas sem perguntar como é que de três crianças, em maio de 1917, se passa para dezenas de milhar de pessoas em outubro de 1917. Como é que uma freira carmelita acaba a influenciar o Vaticano?”.

É precisamente a estas questões que Helena Matos responde ao longo dos episódios — um transmitido depois do Jornal da Tarde, outro depois do Jornal da Noite até ao dia 12 de maio — da série documental “Povo que Reza”. Um nome que vai muito além das orações ou preces religiosas: “Eu queria mostrar um povo que reza no sentido da fé e também de dar ordens. Numa linguagem mais popular, o verbo rezar tem um sentido de mandar dizer… É um povo que reza que se vê naqueles episódios. Foi isso, aliás, que expliquei ao Daniel Deusdado nas conversas que mantive com a RTP: não estava interessada em dar conta da relação que as pessoas hoje têm com Fátima, mas sim como Fátima aconteceu num determinado país, que é Portugal.”

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Um trabalho que envolveu longos meses de pesquisa, mais concretamente entre novembro de 2016 e abril de 2017, no acervo da RTP, mas também recorrendo a testemunhos de “descendentes de quem lá esteve”, jornais, livros e arquivos.

Já se passaram cem anos desde as aparições de Fátima e o fenómeno está longe de se concentrar nas aparições: há uma série de elementos que não podem ser descartados. “Fátima enquanto mensagem está longe de ser um facto fechado nas aparições de 1917: as memórias de Lúcia; as cartas dela aos papas, a questão do segredo, vão introduzindo novos elementos. E depois Fátima em si mesma muda: quando se veem as imagens dos filmes dos anos 40 percebe-se que a charneca dos anos 20 deu lugar a um santuário, mas também constatamos que esse santuário não é aquele que nós vemos hoje”, explica Helena Matos.

Estas informações foram compiladas e repartidas entre os 80 episódios e o documentário, produzidos pela SP Televisão para a RTP. O documentário conta a história “a partir das cartas da [irmã] Lúcia: “Os episódios fazem sentido com uma outra peça: o documentário. Ao fim de oitenta episódios e muitas horas a ler e investigar, eu tinha uma história para contar sobre Fátima. Mas em televisão ninguém conta uma história sozinha: a Patrícia Sequeira, enquanto realizadora, que já tinha concebido o formato para os pequenos episódios, pegou no guião, nas imagens, no som… e de repente o puzzle passou a fazer sentido”.

Uma embaixada celestial: especulação financeira? — 1ª notícia sobre Fátima, 23 de julho de 1917 (episódio 2)

O administrador levou os pastores (episódio 4)

O Sol bailou (episódio 7)

A Maria da Capelinha (episódio 27)

Um rosto para Fátima (episódio 19)

O bispo de Leiria (episódio 9)

Isto também pode ser um engano do demónio (episódio 47)

Fátima, com todo o conforto moderno (episódio 10)

As mulheres (episódio 6)

Emissão especial: a viagem do Papa (episódio 26)

Eu estava na Guiné e fiz uma promessa à Senhora (episódio 11)

A procissão do adeus (episódio 42)

Olha os peregrinos (episódio 20)

Lúcia — o poder da palavra e do silêncio (episódio 57)

Treze anos — reconhecimento oficial (episódio 58)

Questões de gosto — o gosto do povo (episódio 66)

Dar a Nossa Senhora (episódio 60)

A bênção dos doentes (episódio 61)

Consagração — do mundo (episódio 65)

A revelação do segredo (episódio 73)

A série documental “Povo que Reza” é uma produção SP Televisão/RTP.