Os números de internamentos dispararam com o aumento de novos casos de Covid-19, principalmente na região de Lisboa, onde um dos três centros hospitalares da cidade teve mesmo de abrir uma nova enfermaria Covid e outro teve de começar a utilizar uma unidade de medicina interna para estes doentes. Os internados são em vários hospitais cada vez mais jovens – nos cuidados intensivos do Centro Hospital Universitário de Coimbra, por exemplo, não está ninguém com mais de 60 anos internado.
Na região de Lisboa e Vale do Tejo a situação é delicada e o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), do qual faz parte o hospital Santa Maria e o Pulido Valente, teve mesmo de abrir “uma segunda enfermaria” com “21 camas, tendo em conta o aumento paulatino de internamentos no centro hospitalar”, explicou ao Observador fonte oficial.
E os números dão conta dessa pressão no centro hospitalar de que faz parte o Santa Maria: há um mês estavam 14 doentes internados, nove deles em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI); esta quarta-feira, já eram 34, nove dos quais em cuidados intensivos. “Desde a última semana de maio que tem vindo a crescer o número de doentes em Santa Maria infetados pelo SARS-CoV-2”, confirmou à Lusa o diretor do Serviço de Medicina II, António Pais Lacerda.
Também aqui, segundo a mesma agência, a idade dos internados tem vindo diminuir — desde a última semana de maio o maior número de pessoas internadas têm entre os 30 e os 50 anos, tendo havido casos de jovens “na casa dos 20 anos”, que desenvolveram doenças “muito graves”.
O Centro Hospital Lisboa Central (que integra o Hospital São José, Capuchos, Santa Marta, Dona Estefânia e o Curry Cabral) também tem sentido a pressão dos internamentos e está a aumentar a capacidade de resposta: estão hospitalizadas 40 pessoas com Covid-19 (29 em enfermaria e 11 em cuidados intensivos), uma subida face à ultima semana em que havia 38 hospitalizados, dos quais nove estavam em UCI.
Fonte oficial do centro hospitalar explicou que “além do internamento na unidade de doenças infecciosas, foi acionado um internamento de medicina interna”. E acrescentou que “o plano anteriormente definido mantém-se, portanto, ativo [e que] as enfermarias serão preparadas e ativadas conforme as necessidades”. No Centro Hospital Lisboa Central, a idade média dos doentes hospitalizados está agora nos 58 anos.
No que diz respeito ao Centro Hospital Lisboa Ocidental (que inclui o Hospital de S. Francisco Xavier, o Egas Moniz e o Hospital Santa Cruz), há 18 doentes internados em enfermaria e quatro em UCI. A idade dos doentes ronda os 60 anos.
Os dados divulgados esta quarta-feira ao Observador dão conta de 81 pessoas internadas em enfermaria e 24 em cuidados intensivos nos três centros hospitalares da capital. Cruzando estes dados com os do boletim epidemiológico divulgado esta quarta-feira pela Direção-Geral da Saúde, cujos dados foram reportados até às 00h00 (havia 351 pessoas hospitalizadas e 83 nas UCI), conclui-se que, caso os números nacionais se tenham mantido estáveis nas últimas horas, os hospitais da cidade de Lisboa concentram cerca de 23% dos pacientes em enfermaria e 28% dos utentes em cuidados intensivos no país.
Idades de internados em hospitais de Lisboa e Vale do Tejo a diminuir
Fora da cidade de Lisboa, mas ainda na região de Lisboa Vale do Tejo, também se verificou uma subida de internamentos em vários dos hospitais que enviaram os dados esta quarta-feira ao Observador. No Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), registam-se mais dois doentes em UCI em comparação com os dados da semana passada — esta quarta-feira, 25 pessoas estão hospitalizadas e sete necessitam de cuidados intensivos na unidade. Salienta-se ainda que a média de idades dos internados está a diminuir há vários dias: há três semanas estava nos 65, na última semana tinha-se fixado nos 63 anos e esta quarta-feira está já nos 60.
No Hospital Garcia de Orta, em Almada, os internamentos também dispararam. A 28 de maio, estavam hospitalizados sete doentes em enfermaria, não estando nenhum utente nos cuidados intensivos. Esta quarta-feira, esse número mais do que duplicou: em enfermaria estão 19 pessoas e em UCI estão três.
Também o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, tem registado um aumento de doentes internados. A 6 de junho estavam internadas 17 pessoas em enfermaria e quatro em UCI. Segundo os dados mais recentes, que datam de 12 de junho, já havia 20 pessoas hospitalizadas em enfermaria e cinco em cuidados intensivos. Maior parte dos doentes Covid tem entre 40 e 60 anos, uma faixa “mais jovem”, segundo fonte hospitalar, do que aquela que esteve internada na terceira vaga.
Em relação ao Centro Hospitalar do Oeste, das doze camas para internamentos em enfermaria por Covid-19, quatro estão ocupadas e a idade média situa-se nos 53 anos.
Segundo o boletim epidemiológico da DGS, é também em Lisboa e Vale do Tejo que se regista o maior número de contágios por Covid-19. Dos 1.350 casos registados esta quarta-feira em Portugal, 68% foram nesta região, que também registou a totalidade dos óbitos reportados nas últimas 24 horas — seis.
Fora de Lisboa e Vale do Tejo internamentos mantêm-se estabilizados
No resto do país, tendo por base os hospitais que responderam ao Observador, não tem havido um aumento da pressão hospitalar tão significativo. Mesmo no Hospital de Braga, concelho que esta sexta-feira apresentava uma taxa de incidência de 177 casos por 100 mil habitantes e que não avançou no desconfinamento, o número de internados mantém-se “estável”, de acordo com fonte hospitalar. Neste momento, estão internados oito doentes em enfermaria e um está em cuidados intensivos.
No Centro Hospital Universitário de Coimbra (CHUC) até tem havido um aliviar da pressão hospitalar, principalmente nos cuidados intensivos. A semana passada, cinco utentes estavam internados nestas unidades, número que desceu para os quatro desta quarta-feira, enquanto 16 doentes continuam nas enfermarias.
Em relação às idades dos doentes hospitalizados, tem havido uma diminuição significativa no CHUC — aspeto comum a outras unidades do Serviço Nacional de Saúde. Há cinco meses, na terceira vaga da pandemia, os pacientes tinham entre 70 e 75 anos; agora, maioria tem entre 40 e 69 anos, sendo que em cuidados intensivos não está ninguém com de 60 anos internado.
Por sua vez, Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) registou um aumento do número de internamentos em enfermaria, o que não teve impactos nos cuidados intensivos.
Apesar de “ainda não ter sido esgotada a capacidade de internamentos”, com a “expressiva retoma da atividade normal”, especialmente no “nível da recuperação de listas de espera cirúrgicas”, houve já a necessidade de reativar “camas em unidades adequadas mobilizadas para manter e aumentar ambas as respostas necessárias”.
O CHUA garantiu ao Observador que “tem a capacidade de aumentar a sua resposta quer em internamentos, quer em UCI” se a “evolução da pandemia assim se justificar”.
No Hospital de São João, no Porto, há um ligeiro aumento no número de internados em comparação com maio, mas “o plano de contingência em vigor tem conseguido responder ao aumento das necessidades, de forma planeada, pelo que a resposta tem sido realizada de forma programada e serena”, assinala fonte hospitalar.
Além disso, tal como na maioria dos restantes hospitais consultados pelo Observador, a média de idades diminui das ondas anteriores do que acontecem em janeiro. Nessa altura, os doentes tinham cerca de 70 anos e agora tem cerca de 55 anos, “o que reflete o efeito da vacinação ao evitar o internamento nas idades mais avançadas e já com elevadas coberturas vacinais”, diz a mesma fonte.
Internamentos voltaram a subir em junho, depois de chegaram quase aos 200
Os internamentos em Portugal já estão a aumentar há quatro dias consecutivos, mas a tendência de subida já se verifica desde o início de junho. No dia 1 desse mês, havia 268 doentes nas enfermarias e esta quarta-feira esse número já era de 351.
Os números das hospitalizações estão, no entanto, muito longe dos registados no pico da terceira vaga, em que chegaram a atingir os 6869 a 1 de fevereiro. Com o início do confinamento decretado em janeiro de 2021, os internamentos foram diminuindo — a 15 de fevereiro estavam 4826 pacientes hospitalizados e a 1 de março esse número já era de 2167.
Em março, reportou-se uma acentuada descida — a 1 de abril, estavam nos hospitais portugueses 539 doentes. E esta tendência prolongou-se no mês de maio: o menor números de internamentos em 2021 foi registado a 21 de maio com 207 internados nos hospitais portugueses. Mas desde aí que os números têm vindo a aumentar.
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Também os casos têm vindo a aumentar. Esta quarta-feira, Portugal registou o maior número de infeções desde 24 de fevereiro — nas últimas 24 horas, foram reportados 1325 casos de Covid-19. Depois de em janeiro terem-se superado 15 mil casos diários, os contágios desceram devido ao confinamento decretado, sendo que em maio rondavam os 400 diários. Durante este mês tem-se registado uma nova subida dos casos, especialmente em Lisboa, que é um dos concelhos do país mais afetado.
O aumento dos casos e dos internamentos ainda não teve efeito no número de mortes, que continua a ser baixo. Esta quarta-feira registaram-se seis óbitos, mas na segunda-feira, por exemplo, não houve qualquer associado a complicações da doença.
Atualizado às 18h57 com a resposta do Hospital São João