789kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

O atleta português, Norberto Mourão celebra após vencer a medalha de Bronze na prova de canoagem masculina caiaque singular VL2 -  200 metros esta manhã na pista de canoagem de Tóquio nos jogos Paralímpicos de Toquio 2020, Japão, 4 de setembro de 2021. MIGUEL A. LOPES/LUSA
i

Miguel A. Lopes/LUSA

Miguel A. Lopes/LUSA

"Quando o meu pai me pegou ao colo fez-se o clique mas enfrentei a vida": a entrevista com o medalhado paralímpico Norberto Mourão

Norberto Mourão chega aos Mundiais como campeão europeu, vice-campeão mundial e bronze nos Jogos. Em entrevista à Rádio Observador explica o antes e o depois do acidente onde perdeu as duas pernas.

Norberto Mourão gostava de jogar futebol na rua, perdia-se a ver os Jogos Olímpicos mas nunca tinha sido atleta federado. Em 2009, quando ia somando cursos atrás de cursos de aperfeiçoamento de técnicas de pastelaria, outro dos seus grandes amores, perdeu as duas pernas num acidente de mota. Só por uma vez sentiu o clique do que lhe tinha acontecido mas quis sempre focar-se no que tinha para ganhar no futuro. Assim, um ano depois, experimentou pela primeira vez a canoagem. Até hoje, neste caso federado.

[Ouça aqui a entrevista de Norberto Mourão no Nem tudo o que vai à rede é bola da Rádio Observador]

Norberto, do acidente de moto ao bronze nos Jogos

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nascido da freguesia de Mondrões, em Vila Real, Norberto, hoje com 40 anos, já estava na zona da Grande Lisboa quando teve o acidente. Por necessitar de reforçar a força nos membros superiores ainda tentou o kitesurf, o surf e o andebol em cadeira de rodas mas foi na canoagem que encontrou a sua zona de conforto. Aquilo que tinha sido quase uma “brincadeira” tornou-se algo sério, tão sério que, depois de vários pódios em provas internacionais, estreou-se nos Jogos Olímpicos com uma medalha de bronze na prova de 200 metros VL2, onde chegou como campeão europeu e vice-campeão mundial. Segue-se mais um Campeonato do Mundo, desta vez na cidade dinamarquesa de Copenhaga, com o foco de novo no pódio.

Qual foi a importância da medalha naquela que foi a primeira participação nos Jogos Paralímpicos aos 40 anos? Achou alguma vez que já não era possível?
Esta medalha foi fantástica. É um ponto alto. Tenho uma carreira com cerca de 10 anos, comecei em 2011 e tive momentos muito complicados em que falhei. Até que houve a mudança para a canoa e felizmente as coisas começaram a correr bem. Este ano foi extraordinário, esta a ser extraordinário. Esperemos que continue agora no resto desta semana, em que vamos fazer a última prova nos Mundiais. É uma sensação indescritível, a medalha alcançada em Tóquio, porque é uma prova diferente de todas as outras e é algo que nos enche de orgulho.

Os Jogos de Tóquio foram os mais atípicos de sempre pelo contexto de pandemia, pela falta de público e por todas as regras que existiam. Como é que viu a organização?
A organização foi excelente. É extraordinária a forma como o Japão segue as regras, o que é é o que é e eles não mudam um centímetro para cada lado. O que está pensado é aquilo que é executado. Mas só dessa forma é que foi possível ter os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em segurança e as condições para os atletas eram muitas. Mas, embora tenha sido uma prova extraordinária, acabou por ficar muito por viver. Não podíamos ir ver as provas dos outros atletas portugueses, só podia ver os da canoagem e os outros atletas só podiam ver os das suas modalidade. O povo japonês segue muito as regras, a 100%, e não permitiam que nós fôssemos mesmo para outros lados. A falta de liberdade foi muito grande mas também era a única forma de manter a segurança com estas questões da Covid. Só dessa forma é que foi possível realizar as coisas em segurança. Há a esperança de que em Paris seja tudo diferente, que exista liberdade. Nós precisamos das pessoas nos estádios, para quem faz as suas provas nos estádios, e nós ali na pista precisamos das pessoas nas bancadas. Ver as bancadas cheias é algo extraordinário e sentimos um pouco essa falta. Acredito que em Paris vai ser tudo muito mais intenso, vamos ter todos muito mais vontade e vai ser tudo vivido a 100%.

Antes da final teve também a oportunidade de falar com várias pessoas, incluindo o já medalhado olímpico Fernando Pimenta. Como é a sua convivência com ele, que ligação criaram ao longo dos estágios e das provas?
Conheço o Pimenta desde que tive a minha primeira prova em pista, em 2011. Ele veio cumprimentar-nos, na altura até mais por causa de uma atleta que é a Carla Ferreira, que foi a primeira atleta da paracanoagem nacional. Ao longo dos anos temos convivido muitas vezes, ele está muitas vezes em Montemor-o-Velho, onde eu também treino e fazemos as provas sempre juntos. Ele não me ligou antes da prova mas mandou uma mensagem a desejar boa sorte e antes de ele ir para o Japão também tivemos oportunidade de falar um pouco. Até acabei por falar mais com o treinador dele, o Hélio Lucas, onde ele me explicou as condições que eles apanharam lá em Tóquio. Se eu tivesse apanhado as condições que eles apanharam ia ser extraordinário mas acabou por ser totalmente diferente porque as condições climatéricas vão mudando. Mas, essencialmente, o Pimenta vai desejando boa sorte, como desejaria a todos e como fazem todos os atletas da seleção nacional olímpica — onde eu destaco claramente o João Ribeiro [atleta olímpico da canoagem] que fez uma vídeochamada para dar apoio a toda a equipa.

"Precisamos das pessoas nos estádios, para quem faz as suas provas nos estádios, e nós ali na pista precisamos das pessoas nas bancadas. Ver as bancadas cheias é algo extraordinário e sentimos um pouco essa falta. Acredito que em Paris vai ser tudo muito mais intenso, vamos ter todos muito mais vontade e vai ser tudo vivido a 100%."

Quando voltou a Portugal teve uma grande receção no aeroporto e uma surpresa na sua aldeia de Quintela, em Vila Real, que contou até com o seu irmão que veio de França. Foi um daqueles momentos que fez valer a pena todos os anos de sacrifício?
O apoio é fundamental. Nós lá em Tóquio tivemos sempre o apoio de toda a gente e no aeroporto sabíamos sempre que íamos ter alguma receção, mas nunca a receção que tivemos e que acabou por ser muito maior do que o que estávamos à espera — onde destaco claramente os Bombeiros Voluntários de Camarate, que estiveram sempre do nosso lado. Aqui na aldeia foi mesmo uma surpresa, não estava a contar. O meu irmão chegou no mesmo dia em que eu cheguei e no dia a seguir disse-me que tinha deixado o carro lá na parte de baixo da aldeia, para irmos ver a minha avó. Fui lá para a ver e quando cheguei lá abaixo estava muita gente mesmo, até pensava inicialmente que era a missa porque a casa é ao pé da capela. Mas ao ver os carros da comunicação social local é que percebi que era uma receção, uma receção calorosa. Foi algo extraordinário. É bom sentir esse apoio, não só por palavras porque isso vamos tendo sempre muito mas também com as pessoas a virem ter connosco e darem-nos apoio, sentirem como nós sentimos na pele todas estas conquistas. É algo fantástico e é algo que fica marcado para a vida toda.

O atleta português, Norberto Mourão (D) acompanhado pelo atleta do Brasil Paulo Rofino (C) medalha de ouro e pelo atleta do Estados Unidos da America, Steven Haxton (E) medalha de prata, após vencer a medalha de Bronze na prova de canoagem masculina caiaque singular VL2 -  200 metros esta manhã na pista de canoagem de Tóquio nos jogos Paralímpicos de Toquio 2020, Japão, 4 de setembro de 2021. MIGUEL A. LOPES/LUSA

Norberto Mourão ganhou a medalha de bronze na primeira edição dos Jogos Paralímpicos em que participou aos 40 anos

Miguel A. Lopes/LUSA

Em 2016, em caiaque, não conseguiu a qualificação para ir aos Jogos Paralímpicos do Rio por milésimos. De que forma é que essa desilusão o motivou para se superar em Tóquio?
Essa foi mais uma das desilusões, porque a vida não é só vitórias e comecei a ter as minhas desilusões na paracanoagem ainda cedo. A primeira foi em 2012. Fiz a minha primeira prova internacional e passei direto à final mas acabei por virar nos últimos 10 metros. Em 2013, tive um problema no leme que não me permitiu ter um resultado que podia ter sido ao nível dos que tenho vindo a alcançar. Mas foram desilusões e aprendizagens e com estas falhas vamos ficando mais fortes e vamos aprendendo. Só desta forma é que foi possível ultrapassar todas as dificuldades e foram essas desilusões que me permitiram ganhar coragem para mudar do caiaque para a canoa. E foi uma aposta acertada, felizmente.

O facto de não ter vivido a experiência total dos Jogos, devido à pandemia e a todas as restrições e limitações que existiam em Tóquio, deixa-o com ainda mais vontade de marcar presença em Paris daqui a três anos?
Sem dúvida.  E outra das questões é que o meu irmão vive em Paris e vou querer estar nesse sítio, na cidade em que ele vive. Sei que irei ter todo o apoio dos portugueses que vivem em Paris e que já vão dando muito apoio. Vai ser algo extraordinário, viver uns Jogos na sua plenitude, algo que não foi possível agora em Tóquio. Acabamos por sentir a falta do público, tal como no futebol se sente a falta de ver as bancadas cheias também nós acabamos por ter essa necessidade de viver tudo na sua plenitude. Paris é um objetivo para o futuro. Agora é continuar a trabalhar forte para chegar a uma das vagas. É lutar para lá estar porque faltou viver muito e esperamos viver tudo muito mais intensamente ainda em Paris.

"O meu irmão vive em Paris e vou querer estar nesse sítio, na cidade em que ele vive. Sei que irei ter todo o apoio dos portugueses que vivem em Paris e que já vão dando muito apoio. Vai ser algo extraordinário, viver uns Jogos na sua plenitude, algo que não foi possível agora em Tóquio."

O Norberto teve em 2009 um acidente de mota que o deixou biamputado dos membros inferiores. Até aí já tinha alguma ligação ao desporto? E o que é que sentiu de diferente naquela primeira experiência que teve de mergulho e de paracanoagem em 2010?
A primeira experiência que tive, de canoagem de mergulho, foi em setembro de 2010. Nessa altura acabei por experimentar apenas a paracanoagem, acabei por deixar o mergulho para mais tarde, e foi algo que gostei bastante. Como tudo na vida, aquilo que nós precisamos é de nos sentirmos motivados e para continuar a sentir isso foi entrar na competição. As coisas foram correndo bem, os resultados foram aparecendo. Nunca pensei em chegar a uma medalha nos Jogos Paralímpicos, nunca pensei sequer nessa altura ir aos Jogos Paralímpicos, mas é algo que estamos agora a viver de uma forma indescritível.

Na altura o Norberto tinha de trabalhar os membros superiores mas houve alguma razão para ter sido a paracanoagem, houve uma vontade especial nesse sentido?
Sempre gostei de praticar desporto mas nunca tinha feito nada como federado, gostava também muito de ver os Jogos Olímpicos porque Paralímpicos passa muito pouco. Quando tive o acidente e precisava de fortalecer os braços, e em contacto com alguns amigos que fui conhecendo, alguns amputados, neste caso um jovem que era o Anderson, que estava também no Hospital dos Capuchos, falou-me de uma rapariga que estava na paracanoagem que era a Carla Ferreira, a primeira atleta nacional na paracanoagem. Foi ela que me falou desse primeiro evento. Teria sempre de fortalecer os braços por causa das próteses e pensei no remo e na canoagem. Experimentei a canoagem e adorei, sentirmos a liberdade dentro de água é fantástico. Foi essa a razão pela qual fiquei na canoagem ou na paracanoagem.

O atleta português, Norberto Mourão em ação durante a prova de canoagem masculina caiaque singular VL2 -  200 metros esta manhã na pista de canoagem de Tóquio nos jogos Paralímpicos de Toquio 2020, Japão, 2 de setembro de 2021. MIGUEL A. LOPES/LUSA

Atleta português vai agora tentar defender ou melhorar a medalha de prata conquistada nos últimos Mundiais

Miguel A. Lopes/LUSA

Além dessas modalidades, experimentou mais algumas ou ficou logo rendido?
Fui experimentando bastantes modalidades… Ainda estive no kitesurf um ano e qualquer coisa, o surf com o meu amigo Nuno Vitorino que tem uma associação e cheguei a federar-me entre muitas experiências, ainda fiz uns treinos com a equipa de andebol de cadeira de rodas do Sporting quando estava ligado ao clube mas estava focado na canoagem porque era a única onde me sentia completamente independente a partir do momento em que punha o barco na água. Vou sozinho para onde quero e como quero. No surf tinha alguma dependência para passar a zona de rebentação, no kitesurf também, no andebol sentia-me muito limitado e a paracanoagem era mesmo a modalidade certa para mim.

"Experimentei o kitesurf, o surf e o andebol em cadeira de rodas mas estava focado na canoagem porque era a única onde me sentia completamente independente a partir do momento em que punha o barco na água."

A seguir ao acidente foi conseguindo quebrar todas as previsões que iam sendo feitas pelos médicos e sempre a olhar para a frente. Que importância tiveram essas semanas em que esteve internado e como conseguiu arranjar a força para superar a situação?
Mesmo nas horas más temos de saber tirar partido das coisas boas. Podemos pensar assim ‘O que há de bom quando perdemos as duas pernas?’ mas neste caso foi pensar naquilo que vem para a frente, no agarrar as oportunidades que aparecem. Foi sempre assim que enfrentei a vida. A primeira preocupação que tive foi perceber exatamente o que tinha e fazer com que todas as pessoas que me vinham visitar saíssem com um sorriso no rosto. Para mim era importante perceber que eles estivessem bem para que quando não estivesse tão bem me pudessem ajudar. Depois aos poucos fui evoluindo, fui aprendendo a fazer tudo. Houve momentos complicados como por exemplo quando pedi para ir a casa quando estava internado. Na altura do acidente estava a um mês de fazer anos, fui nesse dia e ao chegar a casa, antes de almoço, senti necessidade de ir à casa de banho e foi o meu pai que me foi lá levar e buscar ao colo. Fez-se o clique, foi o mais complicado e fez com que reaprendesse tudo o mais rápido possível, sendo que aprendi muito enquanto estive internado um mês e uma semana. A seguir houve a reabilitação, tudo o que aprendi foi extraordinário. Depois é trabalho e querer ser melhor.

Trabalhava numa pastelaria até ao acidente, esteve nove anos na pastelaria desde o convite do seu irmão quando estava a acabar o 12.º ano. Ganhou algum gosto em especial? E voltou depois do acidente?
Gosto muito do trabalho de pastelaria, não gosto de fazer bolos em casa. Nunca gostei mas o trabalho na pastelaria era algo que fazia com muito amor e dedicação como pasteleiro. No início foi um convite do meu irmão que precisava de um ajudante, depois quando deixou de ter algo para me ensinar fui para outra pastelaria para aprender algo diferente. Desde aí, o meu irmão tem uma pastelaria em França, já lá fui e fiz uns bolos em termos de decoração mas não é a mesma coisa porque não consigo ter a posição vertical que precisava de ter. Posso meter as próteses mas não é confortável. Vou conhecendo várias pessoas da área, dão-me muito apoio como o Centro de Formação da Pontinha, onde fiz dez cursos de aperfeiçoamento na altura em que era pasteleiro, onde criámos ligações fortes.

"Gosto muito do trabalho de pastelaria, não gosto de fazer bolos em casa. Nunca gostei mas o trabalho na pastelaria era algo que fazia com muito amor e dedicação (...) Vou conhecendo várias pessoas da área, dão-me muito apoio como o Centro de Formação da Pontinha, onde fiz dez cursos de aperfeiçoamento na altura em que era pasteleiro."

Olhando agora para a frente, realizam-se esta semana os Mundiais de velocidade de canoagem. Esteve alguns dias sem treinar depois da medalha nos Jogos, como é que recupera o foco e quais são os objetivos que leva para mais uma competição internacional?
Não vai ser fácil recuperar o foco porque foram três semanas no Japão, vivemos tudo muito intensamente, regressámos a casa finalmente com alguns dias para descansar mas também não consegui treinar porque uma canoa está a vir do Japão e a outra foi logo para a Dinamarca. Vou treinar esta quarta-feira na pista já em Copenhaga e depois são logo as provas, vou fazer no máximo um ou dois treinos. Mas o objetivo é sempre o máximo: ir à final, dar tudo e ver onde leva esse máximo. Mas isto passa-se com todos os atletas, os atletas do Brasil também voltaram e entretanto estavam de novo a viajar para a Europa.

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora