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Quase 30 invasões de campo em 36 jogos do Euro. O que se passa nos estádios alemães?

Já houve pelo menos 27 invasões de campo no Euro. Muitas visam Ronaldo. E até Gonçalo Ramos se magoou numa delas. UEFA quer contrariar a moda, mas o que fará? Como são os bastidores da segurança.

Quando Cristiano Ronaldo viu uma criança correr para ele durante o Turquia-Portugal, fez um sorriso inesperado. Abriu os braços a convidar ao abraço e recebeu o menino, Berat, de 10 anos, como se não estivesse a meio de um jogo do Campeonato da Europa. Berat abraçou CR7, tirou uma foto com ele, e entre carinhos saiu a correr para fora do relvado. Minutos depois, outro adepto teve a mesma ideia de Berat, este já sem o brilho de criança nos olhos. Era um jovem adulto, com o mesmo objetivo: tirar uma foto com Ronaldo. O capitão não gostou, ainda menos quando este lhe colocou o braço à volta do pescoço.

Tal como não gostou quando um terceiro adepto entrou no campo durante um pontapé-de-canto. E outro durante uma jogada. E outro, e outro. No total foram seis os adeptos que invadiram o relvado do Signal Iduna Park, em Dortmund, durante a vitória de Portugal contra a Turquia. Quatro das invasões aconteceram durante o jogo, duas já depois do apito final. Mas mesmo assim, não é este o recorde do Euro 2024: no jogo entre a Croácia e a Albânia, da segunda jornada do Grupo B, foram sete (!) as entradas de adeptos no relvado, estas todas já com o jogo terminado. Com a bola a rolar, essa marca pertence mesmo a Portugal.

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Cristiano Ronaldo sorriu na primeira invasão de campo do Turquia-Portugal, mas não gostou das restantes

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O total assusta: pelas contas (não oficiais) mas feitas pelo Observador, nos 36 jogos da fase-de-grupos feitos neste Europeu, houve pelo menos 27 invasões de campo. Dá uma média de entrada de um adepto a cada 120 minutos, quase uma por jogo. Portugal e Albânia foram as equipas mais “penalizadas”, com invasões de campo em todas as partidas, ainda que no primeiro e no último jogo tenham acontecido apenas depois do apito final do árbitro. E uma dessas podia ter tido consequências graves: Gonçalo Ramos foi abalroado por um segurança que escorregou enquanto corria para travar nova invasão  após terminar o encontro contra a Turquia. O avançado português saiu a coxear e teve mesmo de ser avaliado pelo departamento médico. Também um adepto podia ter saído seriamente magoado — e magoado Ronaldo — quando se lançou do cimo da cobertura do túnel de acesso ao relvado do estádio Arena Auf Schalke, no final do Geórgia-Portugal. Uma queda de mais de três metros que deixou o número sete sem palavras.

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Perante os números absurdos de incidentes e com a subida da gravidade das mesmas, a UEFA foi obrigada a falar, não confirmando se houve ou não pedido por parte das Seleções. O organismo que gere o futebol europeu, e organizador da competição, enviou às redações um comunicado onde diz que, sendo a “segurança uma prioridade”, “serão implementadas medidas de segurança adicionais nos estádios para para evitar tais incidentes”. Ainda assim, conclui o comunicado a UEFA, que “por razões de segurança”, não vão ser reveladas as alterações feitas. Mas quais são os parâmetros de segurança usados até agora? O Observador falou com os adeptos e conta como se entra nos estádios do Euro 2024, seja com bilhete ou com credencial.

As invasões de campo do Euro 2024

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1 no Portugal-Geórgia
1 no Turquia-Chéquia
1 no Dinamarca-Sérvia
1 no Espanha-Albânia
6 no Portugal-Turquia
1 no Roménia-Bélgica
1 no Eslovénia-Sérvia
7 no Croácia-Albânia
2 no Portugal-Chéquia
2 no França-Áustria
1 no Bélgica-Eslováquia
2 no Ucrânia-Roménia
1 no Itália-Albânia

Totais:
– 13 durante o jogo
– 14 depois do jogo
27 invasões de campo no total

Observador

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Uma imagem que temos visto quase em cada jogo deste Euro 2024

Anadolu via Getty Images

Guarda bilhete, tira bilhete e as fitas coloridas

Para percebermos as medidas originais e se algo mudou nas medidas de segurança, falámos com três adeptos distintos. Um esteve no primeiro jogo, contra a República Checa, em Leipzig; outro em Dortmund, no confronto com a Turquia; o último em Gelsenkirchen, contra a Geórgia. A conclusão é que nada mudou em termos de acesso ao estádio e as três descrições coincidem. E três é mesmo um número importante: há três pontos de controlo desde que um adepto chega ao perímetro do estádio até se sentar na bancada. Um primeiro, é feito por voluntários, onde acontece um primeiro “scan” ao código presente no bilhete; no segundo, já entram os stewards, os seguranças privados, que fazem também uma revista ao adeptos, à procura de objetos interditos; um terceiro, já dentro do estádio, junto aos chamados “vomitórios” das bancadas, onde aí basta mostrar o bilhete.

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UEFA via Getty Images

Mas estes três momentos podem transformar-se em mais: dois dos adeptos contaram ao Observador que quando saíram da bancada para ir ao bar ou à casa-de-banho, ainda dentro do estádio, tiveram sempre de voltar a mostrar o bilhete. “Lembro-me que a certa altura até saí por duas vezes muito próximas uma da outra e o segurança lembrava-se claramente de me ter visto sair e entrar. Mesmo assim tive de mostrar de novo o bilhete”, conta um dos adeptos portugueses. Uma verificação apertada nas entradas, mas também no controlo da pirotecnia. Outro dos adeptos conta ao Observador que a identificação das pessoas acontece até mesmo fora do estádio: “Em Dortmund, no cortejo para o estádio, os adeptos identificados pelo caminho a usarem pirotecnia foram notificados à entrada do estádio. Com os que a usaram lá dentro foi ainda pior. Vimos pessoas que usaram fumos na primeira parte e ao intervalo os sterwards expulsaram-nos e entregaram-nos às autoridades. Depois soubemos que pagaram mais de 2 mil euros”.

O controlo é feito também sobre objetos “menos graves” do que estes elementos pirotécnicos. O Euro 2024 tem sido prolífico em cartazes humorísticos de provocações saudáveis entre os adeptos, o que dá um colorido ao ambiente. Desde “Bacalhau > Kebab” ou “Leitão is better than a Turkey”, tem havido um bocadinho de tudo. Até música. Guilherme Costa partiu de Lisboa para assistir ao Geórgia-Portugal em Gelsenkirchen. No meio da bagagem levou um cartaz onde escreveu, bem visível “Georgia on My Mind”, mas com o nome do país rasurado e substituído por “Portugal”. “Portugal on My Mind” substituía o título da música de Ray Charles de 1960 com sentido de humor. Nem isso escapou. “Mal entrei, dois seguranças viram-me com o cartaz e puxaram-me para a direita, puseram-me de parte. Um deles perguntou-me o que é que estava lá escrito, mas o outro percebeu logo e disse ‘oh, é a música do Ray Charles, não tem problema’”, conta Guilherme. E só assim pôde entrar com o adereço, que até fez sucesso entre as televisões.

Guilherme Costa usou uma música de Ray Charles para brincar com os georgianos. Os seguranças, com fair-play, deixaram o cartaz entrar no estádio

Também a comunicação social tem um controlo apertado. Os pontos de controlo de bilhete — aqui acreditações — são menos, apenas um. Mas é um mais apertado. Para além de revista feita por stewards, com palpação e detetor de metais, é ainda feita revista com raio-x às malas e equipamentos levados, qual aeroporto. Se tudo estiver em conformidade com as regras de segurança, é colocada uma fita colorida em cada mochila e vai-se ficando com uma boa coleção delas. Na saída do estádio, há nova diferença para os adeptos: todos os media têm de picar novamente a acreditação, numa espécie de check-out.

O que foi feito então depois de a UEFA dizer que ia melhorar a segurança depois das invasões? E do próprio selecionador Roberto Martínez se ter mostrado preocupado com o assunto? Sobre isso, nenhuma informação do organismo. Nem nenhuma mudança percetível pelos adeptos. Nenhum deles conseguiu perceber se houve um aumento do número de stewards, nem as transmissões televisivas dão para tirar conclusões. Ainda assim, um dos adeptos que conversou com o Observador, e que esteve no Turquia-Portugal, deixa um apontamento: “Apesar de haver muitos stewards, eles estavam entre a bancada e os painéis publicitários. Ou seja, assim que alguém saltava, fugia-lhes logo. A certa altura, depois de duas ou três invasões, mudaram de sítio. Passaram a estar ente os painéis publicitários e a linha-lateral. Foi mais eficaz”, explica.

Adeptos invadem o relvado para abraçar e tirar fotos com Cristiano Ronaldo. Martínez preocupado: “Intenções podem ser más”

Na fase a eliminar que começou este sábado o teste de fogo não é só para as seleções, é também para a UEFA. Depois de uma invasão de campo na final da Champions e já 27 no Euro 2024, qualquer problema pode trazer enorme impacto. A segurança do Europeu foi sempre uma enorme preocupação para a Alemanha, e já houve um ataque na fan zone dos Países Baixos. Mas, e se nos relvados, as inocentes selfies ganharam outra dimensão?

Euro 2024. Os ataques, a resposta policial e os planos de segurança da Alemanha

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