Catarina Martins e Pedro Fidalgo Marques estavam a disputar o mesmo eleitorado (de esquerda e ambientalista) no segundo dos únicos frente-a-frente das europeias — serão sete na Rádio Observador. Mas entre ambos havia um claro abismo de experiência política. A ex-líder do Bloco de Esquerda e agora cabeça de lista do partido às europeias e o estreante escolhido pelo PAN falaram do possível envio de tropas (da NATO) para a Ucrânia, do apoio da UE a Israel e da situação em Gaza, do controlo e escrutínio do BCE e acabaram a discutir sobre as bandeiras ambientais do PAN que o Bloco acusou de terem sido esquecidas na Madeira.
Os frente-a-frente na Rádio Observador, os únicos nestas europeias continuam esta quinta-feira, com três debates: a nossa “Super Thursday” terá às 17h00 o debate entre o cabeça de lista do Chega, António Tânger-Corrêa e o cabeça de lista do PAN, Pedro Fidalgo Marques; às 18h00, o debate entre a cabeça de lista do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, e o cabeça de lista da CDU, João Oliveira; e às 19h00, o debate entre o cabeça de lista da AD, Sebastião Bugalho e o candidato da IL, João Cotrim Figueiredo. Pode consultar o calendário completo aqui.
Quem esteve melhor? Ao longo destes dias, um painel de avaliadores do Observador vai continuar a dar notas de 1 a 10 a cada um dos candidatos nos frente-a-frente da Rádio Observador. O mesmo modelo que temos usado, e vamos continuar a manter, nos debates a quatro das televisões (que se manterá e estenderá ao debate a oito, quer das televisões, quer das rádios). A média surge a cada dia, no gráfico inicial, onde pode ver a classificação geral e saber quem tem estado melhor e quem lidera.
[Já saiu o segundo episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio.]
Quem ganhou o frente-a-frente da Rádio Observador, Catarina Martins ou Fidalgo Marques?
Filomena Martins — Fidalgo Marques tinha dois caminhos para este frente-a-frente na Rádio Observador. Ou vinha preparado com todas as causas ambientais e animais de que se lembrasse para atirar para cima de Catarina Martins, porque é a única e pequena parte do eleitorado que o PAN ainda pode pensar disputar com o Bloco; ou tinha aproveitado o mau arranque da ex-líder bloquista sobre a ameaça da guerra nuclear por causa da Ucrânia e não “deslargava” até a fazer dizer se era a favor ou contra uma saída da NATO, dúvida que pairou nas legislativas. Mas nem uma coisa, nem outra. Primeiro não só a deixou passar pelo terreno escorregadio, limitando-se a um inocente “fico feliz por Catarina Martins agora já falar da NATO, quando antes a punha em causa”, como lhe permitiu ficar com frase a frase de grande efeito do tema — “fala-se de guerra como se estivesse a jogar Playstation” —, enquanto ele se limitava à preocupação da “contaminação do solo com tanto armamento”. Depois foi quase doloroso ver como Catarina lhe tirou o tapete nas “causas ambientais” e disse ser “imperdoável” ter-se esquecido delas nas alianças na Madeira e nos Açores. Fidalgo acabou encolhido a um canto a dizer que a ideologia do PAN era ser progressista de causas. Muito verdinho para uma Catarina madura. Por muito que se discorde do que ela diz e pensa.
Pedro Jorge Castro — Um partido em vias de extinção nas legislativas, que só conseguiu eleger a líder para o Parlamento. A concorrência de ex e futuros líderes em quase todos os partidos adversários. E a sombra de outro novato político, igualmente desconhecido, que tem surpreendido pelo atrevimento. Dificilmente o cenário eleitoral podia ser pior para o PAN e para o candidato anónimo Pedro Fidalgo Marques. Conseguiu dar uma outra bicada (sobre a NATO) em Catarina Martins, mas bastou a ex-líder do Bloco soprar na parte final contra a incoerência do PAN nos Açores e na Madeira para Fidalgo Marques ficar encolhido, sem a capacidade de reação e a eficácia de comunicação necessárias para contrariar o anunciado triste horizonte do PAN nesta campanha. A candidata do Bloco já anda nisto há demasiado tempo para não dominar um debate destes sem esforço nenhum. Não surpreendeu, mas também não desiludiu a sua base, sem dar hipótese ao adversário em nenhum dos temas. Se havia indecisos entre BE e PAN, esfumaram-se depois deste frente-a-frente.
Miguel Pinheiro — “Quando concordas com o teu adversário, procura as divergências.” Esta devia ter sido a máxima de Pedro Fidalgo Marques no segundo frente-a-frente da Rádio Observador. Sendo o BE um partido que partilha as causas ambientais, o cabeça de lista do PAN teria tido vantagem se procurasse refúgio nas propostas sobre bem-estar animal: é aí que está o eleitorado que o partido precisa de mobilizar, numas europeias onde, além do BE, também disputa o voto dos verdes com o Livre. Mas Pedro Fidalgo Marques não fez isso. E, ao não fazer isso, permitiu que Catarina Martins reduzisse o PAN à insignificância política. Já no final do debate, falando sobre a Madeira e sobre os Açores, a cabeça de lista do BE acusou o adversário de deixar cair as “bandeiras ambientais” sempre que se aproxima do poder. Para Catarina Martins, foi um debate de serviços mínimos; para Pedro Fidalgo Marques, foi um debate de perdas máximas.
Rui Pedro Antunes — Catarina Martins foi muito mais eficaz que Fidalgo Marques em vários temas. Na Guerra da Ucrânia, o candidato do PAN até enviou uma farpa à bloquista quando disse que ficava “feliz” por ela estar a falar na NATO quando nas legislativas “punha em causa” a organização — mas não soube capitalizar o ataque. Na questão da Palestina a bloquista defendeu o reconhecimento do Estado da Palestina e, de alguma forma, infantilizou a proposta do PAN que pretende acolher estudantes palestinianos em Portugal. Sobre o BCE, defendeu a descida dos juros, que diz mais ao quotidiano dos eleitores, enquanto o candidato do PAN não saiu da proposta de aprofundar os processos de vetting ao board do BCE. Mas a maldade final de Catarina Martins a Fidalgo Marques foi quando lhe atirou com a coligação do PAN com Miguel Albuquerque na Madeira ou com a viabilização de um orçamento regional que ajudou a direita nos Açores. Há um eleitorado, apartidário, que vota no PAN “só” pelas causas, mas Catarina Martins terá sido implacável num ponto: a convencer o eleitorado de esquerda ambientalista, anti-capitalista e defensor das minorias que o candidato deles é ela e não Fidalgo Marques. Dava-lhe jeito também, eventualmente, um debate com Paupério.
Frente-a-frente do Observador. Quem ganhou, Francisco Paupério ou Tânger-Corrêa? Veja as notas