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epaselect epa08885379 A protective face mask lies on the floor during shopping of the people in the city center at the 'Zeil' in Frankfurt, Germany, 15 December, 2020. Due to an increasing number of cases of the COVID-19 pandemic caused by the SARS CoV-2 coronavirus, new nationwide restrictions have been announced to counteract a rise in infections, as the closing of the single store starting tomorrow 16 December.  EPA/RONALD WITTEK
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Com as medidas mais restritivas caiu também o uso de máscara em muitos países da Europa

RONALD WITTEK/EPA

Com as medidas mais restritivas caiu também o uso de máscara em muitos países da Europa

RONALD WITTEK/EPA

Regras confusas, ruas cheias e o regresso dos confinamentos. As novas restrições na Europa vistas por cinco portugueses

Os Países Baixos foram dos primeiros a tomar medidas restritivas, na Áustria são para os não vacinados e na Alemanha mudam com frequência. Na Grécia há muitos protestos, mas na Noruega nem se nota.

Fora de Portugal há poucas semanas ou há já largos meses, a sensação entre os portugueses que vivem nos países onde as restrições contra a pandemia da Covid-19 estão a regressar é semelhante. Não importa em que país estejam: as ruas estão cheias, as máscaras faciais são pouco usadas e ainda há muita gente que não quer ser vacinada.

Os cinco portugueses com quem o Observador falou estão vacinados e dizem sentir-se seguros, mesmo estando a assistir a um aumento das restrições para o controlo da pandemia nos países onde se encontram. Mesmo vacinados dizem ter cuidado, não querem ser infetados.

Paulo Sousa, em teletrabalho desde o início da pandemia, ainda não sente a diferença das restrições e José Maria Mesquita, a trabalhar na construção civil, nunca as sentiu verdadeiramente porque o setor nunca confinou. Já Ana Grosso, recém-chegada ao novo emprego, ainda não sabe se vai estar 50% em trabalho presencial ou será obrigada a trabalhar de casa.

A atividade de André de Jorge Ferreira obriga-o a viajar muito pela Áustria e continua a achar o ambiente normal, com os mercados de Natal cheios. Na Grécia, por sua vez, Maria Cunha Silva estranha que os colegas do mestrado prefiram fazer testes três vezes por semana do que serem vacinados contra a Covid-19.

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Com mais vacinação, há menos mortes, mas é preciso considerar outros fatores

É o aumento dos casos, mas também a vacinação abaixo do que seria desejável, que leva muitos países europeus a impor novas medidas restritivas. Não só esperam travar os contágios e proteger os sistemas de saúde, como também, tanto quanto possível, forçar aqueles que resistem a vacinar-se a fazê-lo.

Os Países Baixos foram o primeiro país a regressar ao confinamento parcial: “Três semanas, numa tentativa de salvar o Natal e a passagem de ano”, diz Ana Grosso à rádio Observador. De forma resumida, obrigaram os estabelecimentos fecharem mais cedo, mas sem recolher obrigatório nem confinamento forçado.

Bares e restaurantes cheios, mas “as regras vão apertar”

A jovem de 25 anos está em Amesterdão há cerca de um mês e começou a trabalhar precisamente esta segunda-feira — o primeiro dia útil com as novas medidas em vigor. Começou o trabalho a partir de casa, mas confessa que as medidas são um “bocadinho confusas” — é uma recomendação, mas sem fiscalização, e cada empresa faz como entende.

No caso da empresa onde trabalha, vai poder ir ao escritório duas vezes esta semana. A ideia é que os trabalhadores façam metade do tempo em casa e metade no escritório. “Mas só têm de ir ao escritório se se sentirem confortáveis”, acrescenta.

[Média de casos diários, a sete dias, por milhão de habitantes na Europa.]

Ana Grosso confessa que acha que, mais tarde ou mais cedo, o teletrabalho vai tornar-se obrigatório. “Este confinamento parcial é uma primeira tentativa, as medidas vão apertar ainda mais.” Mas não vê nas pessoas muita “mentalidade de confinamento”: “Sábado foi primeiro dia das medidas e, na sexta-feira, os restaurantes e bares estavam muito cheios”.

“Vivo em Viena [Áustria], mas todos os dias viajo para outras três regiões, com governos regionais diferentes”, explica André de Jorge Ferreira à rádio Observador. “Sei que há regras diferentes [por região], o que às vezes é um bocado complicado. Mas como estou vacinado, em princípio, funciona tudo mais ou menos igual para mim.”

O português, de 38 anos, diz que as medidas que agora estão em vigor em toda a Áustria, como o confinamento dos não vacinados que só podem sair para “trabalhar, fazer compras, darem a volta de relaxamento e fazer desporto”, já estavam em vigor em algumas regiões e que agora foi alargado a todo o país.

Polícia nas ruas, em esplanadas e nos mercados de Natal. Assim foi o primeiro dia de confinamento para não-vacinados na Áustria

Para se entrar em bares e restaurantes, em museus ou em mercados de Natal, é preciso provar que se está vacinado ou recuperado. André de Jorge Ferreira, vacinado, não teve dificuldade em entrar no mercado de Natal e descreveu o ambiente como “normal”. Como não é obrigatório o uso de máscara, havia pouca gente a fazê-lo.

“Sinto as pessoas muito à vontade”, confessa o português. Mas também diz que, nas conversas diárias, já se fala na possibilidade de as medidas agravarem e, “no futuro, restaurantes e discotecas terem de fechar mais cedo”.

Os mercados de Natal na Europa Central são bem conhecidos e muito visitados e os da Alemanha não são exceção. Mas, este ano, ainda não se sabe bem como vai ser, diz Paulo Sousa à rádio Observador. “Há uma grande incerteza, se devem fazer-se ou não, ou com que regras. Alguns foram cancelados”, conta.

Para o português a viver em Munique, a incerteza atravessa vários domínios: “As regras mudam constantemente e rapidamente.” Não que isso interfira demasiado na sua vida quotidiana, conta. “Estou em teletrabalho desde março de 2020, o meu dia a dia não varia assim tanto.”

Em Berlim, quem não se vacinou não pode ir a bares, discotecas, restaurantes, ginásios, cinemas, teatros e muito mais

Como se não houvesse pandemia: “Tira a máscara, aqui não se usa”

Uma das restrições que pode voltar a ser imposta é a apresentação do certificado de vacinação ou de recuperação da doença na entrada de bares e restaurantes. Paulo Sousa diz que os proprietários veem isso com melhores olhos do que um novo confinamento. E o português espera que as restrições levem as pessoas a decidirem, finalmente, vacinar-se.

“As pessoas que conheço ponderam vacinar-se”, diz Paulo Sousa sobre aqueles que ainda não foram vacinados contra a Covid-19.

Paulo Sousa está vacinado, mas não está totalmente tranquilo. Sabe que mesmo assim pode ser infetado, como aconteceu a um colega vacinado. “Há sempre um receio de levar uma vida normal. Será que serei o próximo? E como será ter Covid-19?”

Na Grécia, mesmo com as restrições e a exigência do certificado digital — em restaurantes, lojas e discotecas —, Maria Cunha Silva não vê as pessoas mais motivadas a irem à vacinação. As restrições motivam, pelo contrário, protestos — pelo menos, dois por semana — de alunos e da população em geral. Às vezes, com temas misturados.

“As pessoas estão muito revoltadas com a situação e não acreditam na vacinação”, conta ao Observador. A jovem estudante, num mestrado de Jornalismo em Salonica, diz que os órgãos de comunicação gregos também são, em parte, responsáveis pela situação. As notícias focam-se muito nos efeitos secundários e pouco nas vantagens das vacinas, conta, depois da análise feita numa das aulas. E os alegados especialistas que fazem comentários na televisão, muitas vezes, não têm conhecimento sobre o assunto do qual estão a falar.

Portugal no amarelo, leste da Europa pintada de vermelho. ECDC divulga mapas sobre Covid-19

Maria Cunha Silva está vacinada e tem de apresentar o certificado de vacinação sempre que vai ter aulas na universidade, três vezes por semana. Os colegas gregos não vacinados, pelo contrário, não pensam vacinar-se apesar das restrições e preferem ter de fazer um teste rápido de cada vez que têm de entrar na universidade. Isto, enquanto continuarem as aulas presenciais. “O diretor do departamento já nos avisou que podemos ter de passar para aulas online.”

Os portugueses lá fora contaram ao Observador a pouca frequência com que as pessoas usam máscara, mesmo em espaços fechados, mas o relato mais supreendente foi o de José Maria Mesquita. “Tira a máscara, aqui não se usa”, disseram-lhe assim que chegou ao aeroporto. E, de facto, quando viu uma pessoa de máscara na rua até estranhou, como se algo tivesse de facto mudado.

José Maria Mesquita é diretor de obra e está a viver perto de Oslo há apenas duas semanas. Em Portugal, diz que sempre cumpriu todas as medidas — vacina, máscara, desinfeção das mãos —, mas que chegou a um certo ponto e deixou de pensar na pandemia. Na verdade, com a sua profissão nunca soube o que era o confinamento, por isso as coisas não mudaram muito.

Na Noruega, pelo contrário, é tudo muito diferente: ninguém usa máscara em lado nenhum, nem dentro dos centros comerciais, e nem sequer existe álcool gel ou desinfetante à entrada das lojas como em Portugal. “Aquilo que tenho visto é como se não houvesse pandemia”, conta o português de 30 anos ao Observador.

No sábado, em Oslo, a rua principal estava repleta de gente, a biblioteca também e o mesmo se passava no mercado de Natal. O único sítio onde viu cuidados foi na missa: antes de comungar, todas as pessoas passaram pelo dispensador de álcool gel.

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