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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Sara Tavares (1978-2023): o "balancê" inquieto e lutador de uma mulher de voz plena

Afirmativa, doce, insatisfeita, revelou-se na TV para depois fazer dançar o crioulo e o português de forma rara, sem fronteiras e entre canções de intimidade e consciência social. Morreu aos 45 anos.

Podia ter sido só mais um concurso televisivo em que anónimos cantam as canções dos seus ídolos. O ano era 1993 e “Chuva de Estrelas” um talent-show da SIC baseado no original holandês, “Soundmixshow”. Sara, então com 15 anos, era uma miúda tímida de Almada. De jeans e casaco de cabedal, estava na televisão para interpretar o tema de uma das suas cantoras favoritas, Whitney Houston.

“Tem música dos pés à cabeça”, “uma presença que não é vulgar numa pessoa só com 15 anos de idade”, ouviu dos jurados depois de cantar One Moment in Time. Surgia ali uma estrela chamada Sara Tavares, que venceria a primeira edição do concurso a 25 de março de 1994. Que depois ganharia festivais. Que pouco depois encontrava uma voz — única, inspirada noutras que vieram antes dela, mas criando um espaço único e pessoal, sempre transmitível, numa partilha e entre artista e público, África, Portugal e o mundo.

Meses depois do Chuva de Estrelas, a cantora e compositora portuguesa com ascendência cabo-verdiana era convidada a participar no Festival da Canção, com uma canção com letra de Rosa Lobato de Faria e e música de João Carlos Mota Oliveira. Contam-se pelos dedos das mãos quem não saiba de cor pelo menos alguns versos. “Vou pegar na tua mão/ Vou compor uma canção /Chamar a música”. Ao Chamar a Música (1994), vencia o festival com o máximo de pontuação de todos os jurados e representava Portugal em Dublin naquela que é até hoje considerada uma das melhores prestações portuguesas na Eurovisão. Voltou da Irlanda com o 8.º lugar.

Sara Tavares revelou pouco depois que só poderia ser muito mais do que “a menina do Chuva”. Com mestria e sensibilidade ímpares, fez da cultura africana a sua base, partindo dela para desenhar os seus dias, as suas vontades, os seus desafios e as suas crenças, pessoais e sociais, individuais e coletivas. Cada disco um novo desafio pessoal e uma renovada fronteira criativa para ser conquistada.

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Tudo transformou em canções, processos de escrita popular com a maior de todas as ambições: musicar a vida em comunhão com uma voz para ser partilhada. Morreu este domingo, aos 45 anos, depois de anos em luta contra um tumor no cérebro.  

Do “Chuva” a “Solta-se um beijo”

Sara Alexandra Lima Tavares nasceu a 1 de fevereiro de 1978, em Lisboa. Cresceu no Pragal, Almada, lugar com vista para Cacilhas e o Cristo-Rei.

É cabo-verdiana de segunda geração. “O meu pai trabalhava na construção civil, a minha mãe era empregada doméstica”, disse numa entrevista ao jornal Público em 2009. “Fui criada por uma senhora portuguesa da margem sul. Ia passar somente as férias com a minha mãe ao Algarve”, recordou numa conversa com Luísa Sobral, que a descreve assim: “A voz da Sara é algodão doce.” “As suas canções ou nos trazem uma paz profunda ou nos fazem descobrir movimentos de anca que nunca pensámos dominar. Viajamos entre o crioulo e o português mas sentimo-nos sempre em casa.”

Na infância, sonhava ser cantora ou futebolista — quando questionada sobre as canções que escolheu para levar ao Chuva de Estrelas, One Moment in Time ou The Greatest Love of All, Sara retorquiu: “Eram difíceis de cantar e eu era desportista nos pés e também queria ser desportista na voz”. Benfiquista, ainda chegou a ser federada, mas chegada ao futebol de 11 desistiu. “Era muito campo para correr”. E tinha o mundo lá fora à espera.

Continuou a cantar, mesmo quando vivia com a avó adotiva, Eugénia, que se queixava do seu “barulho” que “não a deixava concentrar nas novelas”. “Ela ainda estava viva quando comecei a cantar e permitiu-me vir para Lisboa ensaiar, aventurar-me, enfiar-me em projetos. Ela confiava nas pessoas com quem eu estava.”

“Para sempre Minina di Céu”: morreu a cantora e compositora Sara Tavares, aos 45 anos

Em 1993, vê um anúncio da televisão para o concurso que mudaria tudo. É a melhor amiga que a convence a enviar uma cassete para o Chuva de Estrelas, conta numa entrevista de vida ao Observador, em 2018. “Apanhava-se o barco de Cacilhas para o Terreiro do Paço e depois autocarro. Fui com um vizinho, porque era preciso assinar um termo de responsabilidade e eu era menor. Ia contente.”

Não terminou o liceu nem precisou de escolher o que estudar. Gostava de desenhar, e ainda pensou em design, mas “a escolha fez-se por si”. “O prémio [do Chuva de Estrelas] era um automóvel e um disco. Na altura o A&R da BMG [era Tozé Brito, responsável do departamento Artistas e Reportório da editora] dava total liberdade de fazer o disco que quiséssemos. Lembro-me de ele me ter dito: ‘Se quiseres fazer um disco de assobio, podes fazer um disco de assobio’. Era mesmo livre.”

Gravou então um disco de gospel chamado Sara Tavares e os Shout! (1996), pela BMG. A música negra americana era ainda o seu amor, alimentado por Stevie Wonder, Aretha Franklin, Whitney Houston, Tina Turner, Nat King Cole. Ídolos de uma América que era também a “única terra em que via os negros a serem bem-sucedidos. Olhava para aqui e só via o Eusébio, não havia outros negros na televisão” (DN, 2017).

Sara Tavares com os Shout, em 1996. Três anos depois, "Mi Ma Bô" (1999) era disco de ouro

D.R.

No mesmo ano, deu voz à célebre Longe do Mundo (1996), versão portuguesa da música God Help the Outcasts, do filme da Disney, Corcunda de Notre Dame. A balada da personagem Esmeralda é uma reflexão sobre a diferença. “Se eu p’ra ti sou uma estranha/ Que o coração perdeu/ É ao ver-te que eu pergunto/ Se já foste como eu”.

Não seria o seu único registo no universo Disney. Tavares entrou também nas versões portuguesas das canções de Hércules (1997), dando voz a Calíope, uma das musas da mitologia grega, ao lado de Rita Guerra, Susana Félix, Ana Paula Oliveira, e Sandra Fidalgo, em temas como De Zero a Herói.

Em 1999, colaborou com a Ala dos Namorados no sucesso Solta-se o beijo, com composição de João Gil e letra de Catarina Furtado (que tinha conhecido no Chuva). Sara cruzou a voz com Nuno Guerreiro no tema que chegou a platina e foi com essa canção que conquistou um Globo de Ouro em 2000. Foi a primeira vez que um artista negro venceu a categoria de Melhor Intérprete Individual nos prémios portugueses.

Cabo-verde, terra e berço

Sara Tavares não se considerava uma compositora. Queria cantar. Experimentou pedir canções, mas percebeu que não lhe serviam. “Comecei a tentar escrever quando fiz o meu segundo disco. O primeiro ainda fiz com os Shout!, depois recolhi-me”, revelou no podcast de Luísa Sobral.

“Sentia que estava a ser meramente intérprete, e percebi ao longo do tempo que faltava representatividade. Porque é que eu gostava tanto da Whitney Houston ou da Aretha Franklin ou desses cantores americanos? Porque havia uma certa representatividade da música gospel, além da ideologia. Aquilo não era para o público, era para Deus, era para algo superior”. Em 1999, editou o álbum Mi Ma Bô, ainda com a BGM, um disco mais maduro e com mais ligação às suas raízes.

Pisou “Cabo Verde terra estimada” pela primeira vez “em 1995 ou 96”, numa visita oficial de Cavaco Silva, então primeiro-ministro. “Ele levou-me na comitiva como exemplo de uma cidadã de ascendência cabo-verdiana”. “Foi bom porque havia um evento, um concerto, onde iam cantar os Tubarões e eu cantei com eles. Portanto para mim foi a música, foi a oportunidade de poder estar com músicos cabo-verdianos e de conhecer o país. Foi muito rápido, foram uns diazinhos mas ficou o bichinho e desde então que volto sempre, sempre, sempre.”

Adorava passear entre a vila da Ponta do Sol e a aldeia das Fontainhas, na ilha de Santo Antão. “O caminho é feito montanha acima, a contemplar o mar. Diz-se que até os pardais sentem vertigens; avistam-se casas espalhadas acima das nuvens”, descreveu à revista Visão. “Tudo parece pura ficção na ilha do meu coração.”

Tavares nunca se sentiu “representante da música cabo-verdiana”, antes “parte de uma geração de jovens da diáspora de Cabo-Verde”. “Sou cabo-verdiana pela cor de pele, pela língua e pela história, mas também sou portuguesa. Nasci cá.” (Público, 2009)

É inegável que o contacto com o arquipélago e seus músicos revolucionaria a sua obra. “Como não fui criada com os meus pais, senti mesmo que encontrei um berço”. Comprou livros e “tudo o que era cabo-verdiano em Lisboa”. Em Cabo Verde encontrou as raízes. Em Portugal a poesia. Foi desse encontro e cruzamento que a artista começou a tecer a sua linguagem. “Faço poesia com mais facilidade em português. O meu léxico em crioulo é mais limitado, mas falo com o coração. Com o português tenho de pensar mais”, conta no podcast. “Levam-me para sítios diferentes”. O crioulo “é mais visceral”, o português leva-a para um sítio “mais metafísico”.

Levou seis anos até se lançar em Balancê (2005), editado pela World Connection (que então também editava Mariza). Disco de afirmação, conquistou a crítica, nacional e além fronteiras — foi nomeado pela BBC Radio 3 como um dos melhores do ano. Pô-la em palcos Europa fora, nos Estados Unidos. Fez centenas de concertos e festivais, tocou nas rádios internacionais, colheu louros da imprensa especializada. Alcançou disco de ouro.

“Acho que a partir do Balancê é que encontrei uma linguagem”, admitiria mais tarde (Observador, 2017). “Tinha de fazer uma cena real, baseada na verdade”, recorda ao Público. “E com todo o respeito e todo o amor, essa verdade não era o português do Paulo de Carvalho [que escreveu para o seu segundo álbum], nem o português que fiz com a Ala dos Namorados, do João Gil ou do Carlos Tê. E fui percebendo que não era também o crioulo da Cesária Évora, mas qualquer coisa entre o crioulo e o português. Então comecei a olhar para a minha mãe e para as pessoas próximas de mim, e a traduzir. Comecei a olhar para as comunidades crioulas jamaicanas em Inglaterra, para o inglês dos nigerianos, o francês dos congoleses e a perceber que temos uma linguagem parecida em Lisboa. E tentei desenvolver uma escrita mais ou menos como a nossa comunidade africana fala.”

Somaram-se concertos, numa agenda mais preenchida lá fora do que por cá. “Demos a volta por fora. Estava a ser neutro, não estava a ser tratada como um produto português, nem como um produto cabo-verdiano, estava a ser tratada como música”. Confessaria depois à revista Sábado que foi a estratégia da editora holandesa que a levou à internacionalização. “Distribuíram os meus discos por vários países e não investiram tanto em Portugal como lá fora. Aqui eu já tinha uma carreira, as pessoas conheciam-me, conheciam o que eu fazia, iam naturalmente à procura sem eu ter que lhes estar a ser apresentada. Decidiram fazer assim e Portugal foi ficando um bocadinho com menos presença minha e isso é uma coisa que gostava de recuperar. Portugal, Cabo Verde, Moçambique, aqueles países que me dizem muito respeito e que ficaram um bocadinho para trás.”

Em tour pelos Estados Unidos da América, em 2007

D.R.

No ano de 2009 regressou aos originais com o álbum Xinti, mas em plena digressão nos EUA foi diagnosticada com um tumor benigno no cérebro, que lhe exigiu uma intervenção cirúrgica. Foi forçada a parar. “Não tirei o meu tumor totalmente, tirei parcialmente porque estava colocado na zona da fala”, explicou em entrevista à RTP África. Mulher de fé, viu em “benigno” um duplo significado. “Acabou por ser uma bênção. Senti uma paz enorme e acho que essa paz vinha da fé. Fé em Deus. Senti que Deus pôs a mão e que eu fiquei muito calma. Ironicamente eu estava a precisar de parar. Eu estava com uma vida profissional demasiado intensa. Não estava a viver, estava a sobreviver e a ser escrava da minha profissão.”

Aqueles que com ela cresceram nela encontram a inspiração para começos e recomeços. Nove meses depois estava recuperada e em cima de um palco, ainda que o ritmo fosse outro. Viajou, criou uma peça de teatro para crianças, comemorou duas décadas de carreira com concertos no Teatro São Luiz. E fez colaborações, muitas: Voodoo Love (2011), com os Buraka Som Sistema, The Most Beautiful Thing (2012), com Nelly Furtado (2012), Krioula / Blá, Blá, Blá(2015), com Carlão, ou Knock Me Out (2015), com Richie Campbell. Mas sem o calendário de outros tempos.

Voltou aos discos oito anos mais tarde, com “Coisas Bunitas”, single que lançou em 2016 de avanço para o álbum Fitxadu (2017), editado pela Sony Music. “Diz-me coisas bonitas/ Sussurradas ao ouvido com sabor/ Diz-me que a minha carapinha te faz lembrar uma coroa de rainha.”

Rainha de muitos, elencada como ídolo de toda uma nova geração de cantores, sempre revelou inquietude na escrita. “Para fazer uma canção, ê/ É preciso o coração”, diz em Ter Peito e Espaço. “Sou muito crítica. Tenho de me fazer balançar a mim própria na cadeira e achar que estou a dizer algo mais. Não tem de ser super pertinente, mas tem de ser algo ligeiramente diferente”, reflete em entrevista à TSF, em 2017, sobre a sua motivação para compôr.

Para chegar aos 11 temas de Fitxadu, que significa em crioulo cabo-verdiano “fechado”, dividiu uma sala com o Nando Nobre (Fernando Nobre) na zona de Santos, em Lisboa, para a qual convidou pessoas para ir fazer canções consigo. No disco entraram nomes como Bilan, Nancy Vieira, Kalaf Epalanga, Edu Mundo ou Paulo Flores. As canções foram feitas entre Santos, Massamá e Cacém e Sara participa na autoria de quase todas, quer como compositora ou letrista. “Ter peito e espaço pra morrer. E renascer. E renascer”.

O seu quinto álbum de originais viria a ser nomeado para um Grammy Latino na categoria de Melhor Álbum de Raiz, mas, horas antes, a cantora diz que vai “dormir descansada” e “sem grandes expectativas”. Finda a tour, volta a sair de cena.

No ano passado, ressurge após mais um período de silêncio, com uma entrevista à Blitz. Conta como, depois da digressão do Fitxadu, “as coisas não correram tão bem quanto queria”. “Então retirei-me. Dispensei a equipa de management e agenciamento e retirei-me. Tenho a segurança dos meus direitos de autor… Vivo com muito pouca coisa, sou muito simples. Não saí do Pragal, praticamente.”

“Estou com uma recidiva [do tumor no cérebro a que foi operada em 2009] e com as mazelas que tenho há certas coisas na música que não consigo fazer”, revela por fim. “Ainda assim, agora que não consigo tocar guitarra, tenho uns beats mesmo f**idos. Isso diverte-me imenso. Estes miúdos estão malucos. Tenho ouvido para a música eletrónica. Quero muito descobrir e isso mantém-me muito ligada à música. Como autora, então, nem se fala. Sou mesmo bebé como escritora.”

Sara Tavares no festival Vodafone Mexefest, em 2016

FÁBIO PINTO/OBSERVADOR

“Não sei se é vudu, se é festa, se é política”

Mesmo não podendo tocar guitarra, nada a demoveu de lançar nova música: Grog d’Pilha, som que traz um batida diferente à sua música, com apontamentos eletrónicos. “Surgiu numa altura em que queria fazer música com beats e fui ter com o Fumaxa, o MIGZ, a malta da linha de Sintra, tentando continuar o trabalho começado no Fitxadu. Entretanto, o Pedro, o meu manager, surge-me com este beat e comecei a escrever para ele. Está super diferente, pus-lhe ali uns baixos, umas guitarras. As guitarras são do Lula’s, de Cachupa Psicadélica, o baixo do Gogui Embaló, músico guineense que tocou uns tempos bem largos na minha banda. Entretanto o miúdo que fez o beat, o DJ BeBeDera, desapareceu, então nós não conseguíamos ter as autorizações devidas, mas queria mesmo que fosse isto a começar a minha vibe nova. Queria que esta canção fosse mais uma canção na playlist das pessoas, porque tem um beat e uma letra engraçados, com uma ironia que eu não esperava de mim”, contou naquela que viria a ser uma das suas últimas entrevistas.

“Não sei se é vudu, se é festa, se é política”, lança no tema. “Sempre pratiquei uma política cultural em todos os meus passos. Fiz-me respeitar pela minha cultura, pela minha identidade. Não havia ninguém que me conseguisse desviar, por maior que a sedução fosse”, diz na dita entrevista. “Por mais que a minha mãe quisesse que eu desfrisasse o cabelo, eu não o fazia. Percebi que o meu cabelo é bonito! Portanto, há um testemunho e uma política interna de me fazer respeitar por aquilo que sou. Por isso é que acho que todos os ativistas, se são da arte, têm de ser ‘artivistas’. Se não são da arte, primeiro há que praticar uma política interior e pessoal. O Bob Marley dizia que uma pessoa não pode mudar o mundo se não se mudar a si primeiramente. Está comprovado que se uma pessoa fizer isso muda pelo menos as pessoas do seu bairro, do seu círculo. Não vale a pena gritares do palanque se deixas a tua mulher em casa a sentir a tua falta. A minha relação com a política é essa: joga a tua política pessoal.”

Sara Tavares sempre fez da sua voz agente de mudança, usando o seu espaço mediático em prol de lutas maiores que a própria. Fê-lo em 2015, quando reivindicou os direitos humanos em Angola, em 2018, ao apelar a uma mobilização nacional contra o racismo. “Se ficarmos neutros perante a injustiça, optamos pelo lado do opressor”, escrevia então no Facebook, citando Desmond Tutu, arcebispo que se tornou porta-voz internacional da luta contra o apartheid na África do Sul.

Em 2020, foi uma das signatárias, entre diversas personalidades da cultura e sociedade portuguesa, de uma petição para uma nova versão portuguesa do filme da Disney Soul, pedindo a entrada em cena de vozes negras que representem a “importância histórica” do momento. O filme gerou polémica pois tinha um protagonista negro e a voz de atores negros na versão original mas, na versão portuguesa, a dobragem foi feita por atores brancos.

Em 2021, assumiu publicamente a sua bissexualidade. No podcast O Avesso da Canção, em que artistas são convidados a descortinar os seus processos criativos, a cantora levantou o véu sobre a criação de Muna Xeia, faixa do álbum Balancê (2005). “Fala sobre duas pessoas”, explicou Sara Tavares sobre a música que fez “em dois dias, praí”. “Foi o meu primeiro amor feminino. Em Cabo Verde. E sobre a minha mãe”. “Essa mulher pela qual estava apaixonada era uma mulher silenciosa, muito zen, quase monja!” Muna Xeia “é uma [canção] etérea sobre esse amor que me assustou. Eu já tinha 24 anos quando percebi que era bissexual.”

Dois meses depois, no Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, a artista escreveu no Instagram: “Falei sempre na descontra sobre isso (minha sexualidade) porém ninguém tem nada a ver com minha vida particular”. “Quando me perguntaram muitas vezes foi de forma ofensiva como se tivesse que me justificar”, continuou. “Quem me conhece sabe que sou rebelde desde menina, não admito isso, em bom português, caguei, pago meus impostos não devo nada a ninguém”. “Viva a liberdade de amar e de pensamento desde que não pisemos a liberdade de ninguém.”

Raro momento de partilha de uma cantora que se descrevia como contida e reservada. “Não sei se foi por crescer como filha única… Não sou filha única mas cresci com uma avó como se fosse filha única. Talvez por isso, por ter crescido longe dos pais… Mas eu sou mesmo assim, é do signo Aquário, tenho um espírito assim tranquilo”.

Em maio lançou Mumentu, o terceiro single a interromper o silêncio e tranquilidade desde o aclamado Fitxadu. Seguiu-se Kurtidu, em setembro. Foi a última canção que deixou.

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