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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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Sebastiãozinho dos mercados? Salta, pede bolos e beijinhos como um preferido das avós

A política também se faz de forma e o cabeça de lista da AD estreia-se nas lides mas não perdeu tempo em ir ao palco onde mais votos se caçam e usar as habilidades mediáticas.

Cinco dias de campanha, quatro mercados e uma feira. O candidato que se ri com indisfarçável orgulho sempre que lhe atiram com paralelismos com Paulo Portas segue-lhe as pisadas também na rua. “Não tenho chapéu de palha”, responde Sebastião Bugalho depois do mercado da fruta nas Caldas da Rainha, mas vai usando tudo o resto. Ainda não dançou, como “Paulinho das feiras” faria, mas salta, bate palmas a si mesmo, canta, abraça, troca “esferográficas” por fruta, passa para lá do balcão, agarra e distribui beijinhos. Não raras vezes, por entre as bancas dos vendedores, deixa de se perceber quem é que afinal está a fazer negócio ali.

Os mercados sempre foram palco forte na caça ao voto. Paulo Portas explicou porquê há anos, em 2011: é onde “se pode encontrar pessoas sem gastar dinheiro”, é um decisivo teste eleitoral do algodão. “Só vai às feiras quem pode andar de cabeça erguida”, explicava então o antigo líder do CDS, e são “um duche de realidade” — no que era, na verdade, um auto-elogio às suas próprias capacidades. No caso da AD a questão não é financeira, é mesmo aposta para tirar proveito de um “ilustre da comunicação”, como lhe chama um deputado do PSD em conversa com o Observador, junto das pessoas.

Numa eleição que não faz rodar cabeças, pode ser precioso um trunfo mediático como o do independente que saltou dos ecrãs do comentário televisivo diretamente para uma campanha eleitoral. O PSD percebeu isso, congelando momentaneamente as dúvidas e resistências iniciais sobre a escolha de um inexperiente político que o próprio Montenegro classificou de “ousada”. Bugalho não se cansa de fazer esse agradecimento aos dirigentes locais que vai encontrando, por acolherem “um independente na família política”, e dá tudo para provar que pode (ainda) não somar tantos quilómetros como um político comum no mesmo lugar, mas tem o “quê” que é preciso.

Na prática política dos mercados, Bugalho não tem dados sinais de estar verde, pelo menos, naquelas lides. À comitiva que o acompanha vai sempre dizendo que é o palco do terreno eleitoral de que mais gosta. Aos jornalistas diz, politicamente correto, que a AD quer estar onde estão as pessoas. Fez logo essa declaração de intenções na primeira ação da campanha oficial, em Olhão: “Esta campanha não será feita de grandes comícios nos centros urbanos. Queremos levar a campanha às pessoas.” E seguiu para dois mercados, um ali mesmo e o outro em Faro. Esta quarta-feira, ao fim do dia, garantiu que não faz mais do que “uma campanha de proximidade”.

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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Sendo independente e novo na política, consegue passar ao lado das habituais acusações de promessas falhadas ou da fatal igualdade apontada a quem faz da política carreira. É antes reconhecido pelo percurso televisivo. Não chegam os dedos das mãos para contar a quantidade de pessoas que o abordam como se fala com quem se conhece. “Todos os dias me entra em casa, pá”, atira-lhe um homem junto ao Mercado da Fruta nas Caldas da Rainha. “Gosto muito de o ouvir na televisão, fala muito bem”, ouve entre as bancas de legumes frescos.

[Já saiu o terceiro episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio e aqui o segundo episódio.]

No insuspeito mercado do Livramento em Setúbal (distrito que a esquerda lidera e que assustou o PS, nas últimas eleições, com a aproximação a passos largos do Chega), foi recebido sem problemas e também se multiplicaram as referências aos tempos recentes do comentário televisivo. “Gosto muito de o ver” ou “ouvir” na televisão, são dois dos mais repetidos. “Ó Bugalho!”, gritam-lhe três homens mais velhos a meio da manhã numa esplanada em Almada, como se o candidato que lhes interrompeu o café uns minutos fosse lá de casa. É mais raro, mas também apanha com alguns apupos, como aquele numa rua das Caldas onde um homem que passou pela comitiva largou um audível “vai acabar de te criar”.

Candidato “da TV” alinha com o líder no ataque ao PS, mas corrige-o na fasquia eleitoral

Um preferido das avós, agora em “carne e osso”

As senhora mais velhas que circulam pelos mercados que a caravana cruza nas manhãs de dias de semana vão mais longe. Agarram-lhe a cara entre as mãos. “Eu vi-te na tv. És muito novo. És muito bonito”, diz-lhe uma senhora à porta do mercado de Faro. “Se for tão bom político como foi comentador”, atira outra lá atrás. O mesmo nas Caldas, mal entra no mercado e uma mulher sentada num banco da Praça da Fruta atira logo que já o conhece da televisão. “Agora conhece em carne e osso“, responde o candidato ao mesmo tempo que a sua interlocutora que explica que agora que “tem vagar” vê mais televisão.

O candidato não se fica, devolve os amassos e, a meio do mercado da fruta, até se ajoelha para ficar da altura de mais dois beijinhos. “Sou pequenininha”, diz-lhe a senhora que vê o rapaz da tv ali, de joelho esquerdo no chão. “Nós portugueses somos pequenos e conseguimos fazer coisas grandes”, devolve Bugalho quase ao estilo Marcelo e a glorificação do grandes feitos nacionais. “Dos pequeninos e dos altos, os votos valem todo os mesmo”, ainda acrescenta, de olhos postos no negócio eleitoral, antes de se levantar e sacudir o joelho das calças bege de bolsos debruados de tecido com xadrez.

Como a AD tenta segurar o dia seguinte do seu Governo em três pontos

Sapatos de vela ou mocassins, camisa sempre, ou azul clara ou branca, e em alguns momentos um blusão azul escuro mais desportivo. Quando discursa, veste sempre um blazer azul escuro. Explicou na entrevista a Guilherme Geirinhas que se habituou a vestir assim por causa da televisão e de ter de se apresentar bem quando entra na casa das pessoas, como diria um verdadeiro preferido das avós que nem sequer canetas distribui, chama-lhes “esferográficas” como se fosse da mesma geração.

Mas é da geração dos seus netos, o que também tem dado jeito para o efeito. Em Setúbal encontrou Carlos e Júlia numa banca de peixe e ouviu logo que era da idade de um dos netos. Ato seguinte: uma queixa sobre a eventual saída dos quatro netos, jovens licenciados, para o estrangeiro. O candidato deixa-se estar a fazer render as críticas que ainda caem em quem governou nos último oito anos.

“Esta é uma candidatura com tanto sucesso que até a uma segunda-feira no mercado tem votos”. Cada vez que alguém promete confiar-lhe o voto, pede palmas aos jotas que o acompanham na volta: “Mais um voto para a AD”. Levanta os braços e aplaude para os outros jovens que vão atrás, de bandeiras, sacos de panfletos e canetas da AD e uma coluna com rodas que insiste em encher ouvidos com a música que esta candidatura herda da volta de Montenegro, ainda há três meses.

Mesmo com o partido a abrir caminho, o treino da televisão faz com que o candidato procure com eficácia situações que ficam bem nos ecrãs. No Algarve, por exemplo, chegou mais tarde do que o previsto ao mercado de Olhão que já estava praticamente vazio de cliente, mas Sebastião Bugalho não hesitou e foi por ali com a comitiva passando imediatamente para trás de cada um dos balcões, perguntando como ia o negócio e debicando uvas ou frutos secos.

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Nas Caldas: “Troco uma esferográfica por uma pêra”. Trocou e seguiu a comer a peça à dentada. Uns passos mais à frente e deixou a dica ao experiente antigo autarca do PSD (Óbidos) Telmo Faria, que queria ir comer “beijinhos”. Em minutos chegava um saco com os bolinhos típicos das Caldas. “Arranja aí uma senhora para lhe dar um beijinho. Ó Sebastião, agora vamos aqui fazer aqui isto para as câmeras“, pregava o autarca ao candidato que já se tinha posto no cenário ainda antes dele ter chegado. Na caravana garantem que não é nada disso. Que antes mesmo de andar rodeado de jornalistas, na pré-volta pelo país, é natural neste tipo de contactos.

O risco maior que terá corrido nestas investidas em ajuntamentos terá sido o da Feira Medieval de Torres Novas, quando o cabeça de lista da AD entrou pelo recinto para um contacto com a população. Já ia adiantada a hora de jantar e além de famílias havia grupos de amigos à volta das mesas rodeados de vários copos já vazios.

Um grupo chamou-o, bateram no tampo da mesa no espaço de um lugar vazio para que o candidato se sentasse. Hesitou e aproveitou a demora em trazerem-lhe o copo para se tentar esquivar com uma piada: “Estão a ver, afinal não são só os políticos que não cumprem as promessas”. Mas os convivas não desistiram, novo toque no tampo de mesa e o candidato lá se enfiou no banco corrido, encolhido entre o grupo grande. Bebeu rapidamente enquanto lhe exibiam selfies que tinham nos telemóveis com a deputada do Chega Rita Matias. Não disse muito mais e saiu sempre a sorrir, mas bem menos à vontade do que nas manhãs de mercados onde o Sebastião político ainda dá os primeiros passos, atrás do padrinho que mais lhe apontam, “Paulinho das feiras”.

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