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Ano novo, gadgets novos. Alguns dos principais fabricantes do mundo tecnológico e uma boa dose de empresas quase desconhecidas começaram 2023 a revelar novidades e tendências para os meses que se seguem. Logo na primeira semana do ano instalou-se uma montra global em Las Vegas, com o Consumer Electronics Show (CES).
O evento anual é o pontapé de saída para o ano da indústria tecnológica, onde marcas mostram protótipos e anunciam produtos que vão chegar às lojas ao longo dos próximos meses. Além disso, 2023 marca o regresso das grandes multidões ao evento: passaram pelos corredores do centro de convenções 100 mil participantes, mais do dobro do que em 2022. Em 2020, o CES não chegou a debater-se com a pandemia de Covid-19, já que o evento se realizou quando a pandemia ainda não passava de um vírus misterioso na China. Em 2021, o evento passou para um formato exclusivamente online e, na edição do ano passado, teve restrições no número de participantes devido à variante ómicron.
Este ano, o cenário foi outro. As multidões voltaram a encher os stands à procura de novidades. O evento tinha como datas oficiais 5, 6, 7 e 8 de janeiro, mas muitos anúncios da edição de 2023 foram feitos ainda antes da chegada do público ao centro de convenções de Las Vegas. As marcas tentam deslumbrar com lançamentos em diversas categorias, especialmente nos televisores e monitores, mas também há espaço para gadgets invulgares.
O evento quer ser uma bola de cristal daquilo que vai estar no mercado este ano e, por isso, seria difícil não ter no programa nada ligado a um tema quente do setor: o metaverso. A edição de 2023 foi mesmo a primeira a contar com uma área de exposição a si dedicada e houve várias conferências sobre o tema.
Será este o ano do televisor sem fios?
Os televisores costumam ser um dos principais focos do evento, com a indústria a apregoar equipamentos com imagens mais nítidas, ecrãs mais brilhantes e cores mais vivas. Mas, num mar de televisores, há algumas propostas que se destacam por quererem resolver uma dor de cabeça de muita gente: os cabos à vista.
Há conceitos diferentes entre as empresas que trabalharam estas ideias dos equipamentos sem fios – a recente Displace e a gigante sul-coreana LG. A Displace desenvolveu um televisor que promete ser totalmente sem fios e que pode ser instalado em qualquer superfície plana. Num dos exemplos da CNET, o televisor foi instalado numa janela. Tudo isto é feito através de um suporte desenvolvido pela empresa, que funciona através de ventosas. O televisor de 55 polegadas é leve, com cerca de nove quilos, e funciona através de quatro baterias, que podem ser trocadas mesmo quando o equipamento está em funcionamento. Estima-se que as quatro baterias consigam aguentar um dia inteiro de visualização. Mas de onde vem a imagem? Tudo é processado numa unidade independente, uma espécie de computador, que a empresa diz que poderá controlar até seis televisores.
Além de não ter fios, este equipamento também não tem comando. Todos os controlos são dados por gestos, reconhecidos através de uma pequena câmara instalada na parte superior do equipamento. Uma vez que se trata de um conceito novo, um equipamento deste género é muito mais dispendioso do que comprar um televisor tradicional. O sistema com um ecrã e uma unidade de processamento custa 3 mil dólares (2.830 euros), mas quatro ecrãs com uma unidade podem chegar aos 9 mil dólares (8.490 euros).
A LG não fez um televisor que se consegue colar às paredes, mas também não quer cabos à mostra. Este equipamento tem um ecrã ainda maior, de 97 polegadas, descrevendo-o a marca como o “primeiro televisor OLED do mundo wireless”. Trata-se de um equipamento da série M3, que tem uma caixa externa onde é possível fazer todas as ligações, a partir da qual o televisor consegue receber a imagem até uma distância de 9 metros.
Ou seja, embora continue a ser preciso ter ligações e fios, é possível escondê-los, noutro lugar longe do televisor. Não há, no entanto, informação sobre disponibilidade ou sequer preço deste equipamento, mas é de esperar que não seja barato: a título de exemplo, um televisor OLED da marca com esta dimensão pode rondar os 25 mil euros.
Um forno que deixa fazer partilha dos assados – e sem queimar
A Samsung apresentou um pouco de tudo na edição deste ano do CES: monitores, muitos equipamentos de internet das coisas e uma mão cheia de eletrodomésticos conectados. Na área dos gadgets para cozinha, apresentou um forno que poderá ser útil para os mais distraídos, já que não deixa queimar a comida.
O Bespoke AI Oven é um forno para ser instalado numa parede e promete reconhecer de forma automática o que se está a cozinhar, deixando sugestões sobre temperatura adequada, tempo de cozedura e modo de utilização. Através de uma câmara e com recurso à inteligência artificial, consegue fazer alertas quando a comida estiver a ficar queimada.
Mas essa não é a única utilidade da câmara interna. A empresa refere que este forno poderá ser “excelente para criadores de conteúdos e chefs ávidos que querem partilhar os seus pratos”, já que consegue enviar imagens para as redes sociais daquilo que está a ser cozinhado. Se não tiver interesse em partilhar a cozedura de um bolo de iogurte no Instagram, pode sempre aproveitar a câmara para espreitar a confeção sem abrir a porta do forno.
Uma t-shirt para sentir os jogos na pele
A Owo é uma empresa de Málaga, Espanha, que quer que a realidade virtual consiga gerar mais sensações. No ano passado, a empresa já chamou à atenção com a revelação de uma t-shirt capaz de reproduzir sensações daquilo que o jogador está a ver num headset de realidade virtual. Por exemplo, se sentir uma pancada no peito no jogo, a t-shirt (ou colete) conseguirá reproduzir essa sensação com pequenos sinais elétricos.
O Techradar experimentou uma segunda versão da t-shirt apresentada no ano passado – um aparelho de licra, com uma bateria junto à anca, capaz de enviar pequenos sinais elétricos aos músculos do estômago, costas, braços ou peito, para simular diferentes sensações. Tudo isto é personalizável, podendo ser mais ou menos intenso. É preciso instalar pequenos elétrodos, mas diz quem experimentou que a sensação nem sempre é agradável. A Owo contou ao site que está em negociações com algumas empresas de jogos para conseguir licenciar a tecnologia.
Este ano, a companhia apresentou mangas para completar a t-shirt. Quem quiser ter a sensação do que “vive” nos jogos, desde a imitação de levar tiros ou golpes de facas, terá de pagar 399 euros por uma t-shirt. A segunda versão desta vesta só será lançada no mercado em fevereiro.
Um ecrã é bom, mas dois pode ser melhor – especialmente se prometer não gastar muita bateria
Pelo CES já passou um pouco de tudo no que diz respeito a portáteis – equipamentos maiores, com mais do que um ecrã, mais ou menos coloridos. Várias marcas apresentaram linhas renovadas de computadores, mas a Lenovo mostrou um conceito com dois ecrãs diferentes.
A parte superior do Lenovo ThinkBook Plus Twist, a tampa, pode ser girada para escolher que ecrã quer usar: de um lado está um OLED de 13,3 polegadas e 400 nit e do outro um E-ink de 12 polegadas — este é também usado nos leitores de eBooks, com uma tecnologia que tenta imitar tinta em papel e que, como apresenta menor luminosidade, promete prolongar a duração da bateria. A ideia é que seja possível escolher o ecrã a usar, consoante a atividade – se estiver a ver um vídeo pode usar o lado OLED; se estiver só a consultar o email poderá ser suficiente o lado E-Ink.
Este modelo deverá chegar ao mercado em junho, com preços a rondar a partir de 1.649 dólares (1.554 euros).
Um ecrã que pode ser dobrado de um lado e aumentado do outro
No campo dos protótipos, a Samsung levantou a ponta do véu do Flex Hybrid, um tipo de ecrã que a marca descreve como “o futuro dos dispositivos móveis inteligentes”.
Qual a promessa deste tipo de ecrã? É juntar num único ecrã duas opções existentes na indústria: o dobrável e o deslizável (ou extensível). Em comunicado, a empresa apresentou alguns detalhes sobre o conceito: no lado esquerdo é possível dobrar o equipamento, enquanto do lado direito é possível tornar o ecrã maior numa lógica extensível. Assim, é possível ver vídeos num ecrã de 10,5 polegadas com um rácio de 4:3 ou, aumentando o ecrã, em 12,4 polegadas e em 16:10.
Samsung desvenda protótipo de ecrã que não dobra só – também é extensível
Uma bicicleta que também é secretária
A Acer revelou uma bicicleta-secretária, a eKinekt, na qual se pode pedalar enquanto se trabalha – ou vice-versa. A “bike desk” quer combater o sedentarismo e, ao mesmo tempo, consegue gerar alguma energia, tornando possível o carregamento de portáteis, smartphones ou outros equipamentos. A Acer estima que uma hora de pedalada constante a 60 rotações por minuto seja suficiente para gerar 75 watts de energia.
Na parte superior do equipamento existe a área de secretária para pousar o computador. É possível usar dois modos – “working” ou “sports”. No primeiro a secretária aproxima-se da cadeira/selim, para que seja mais conveniente trabalhar. No segundo, o tampo da secretária fica mais distante para que se tenha mais espaço para as pernas, potenciando um treino mais intenso.
Trabalhar para aquecer? Nesta bicicleta que também é secretária pedala-se para gerar energia
A inteligência artificial que ajuda no jardim
Há quem crie robôs humanóides cada vez mais sofisticados, mas também há quem só queira simplificar as tarefas diárias. A norte-americana Dandy Technology pertence ao segundo grupo e dedica-se ao desenvolvimento de robôs para manutenção do jardim.
Durante o CES revelou dois robôs, o Dandy DT-01 e Dandy DT-01XL, virados para clientes domésticos. À primeira vista parecem um aspirador comum, mas o olhar engana: os robôs usam inteligência artificial e fazem processamento de imagens para conseguir perceber onde estão as ervas daninhas e aplicar uma pequena dose de herbicida – a empresa promete uma precisão a rondar os 95%. Tudo isto é feito sem intervenção humana. Pode ser controlado através de uma aplicação para smartphone e quando terminar a tarefa – o DT-01 consegue pulverizar mil ervas daninhas e o XL pulveriza 2.700 – regressa sozinho à base.
Os robôs vão estar disponíveis na primavera, com preços a rondar os 700 dólares no caso do equipamento mais pequeno e 800 no robô com um depósito maior.
O 3D chega ao portátil – e sem óculos
Há uns bons anos, a indústria tecnológica esperava que a “next big thing” passasse por televisores com 3D, que precisavam de óculos. Quando, em 2009, o primeiro filme de “Avatar” chegou aos cinemas, muita gente ficou maravilhada o 3D no entretenimento – e a indústria queria reproduzir essa lógica em casa. O problema era o preço destes equipamentos e a experiência pouco prática de usar os óculos específicos para ver televisão, além dos parcos conteúdos que tirassem partido pleno do 3D. Em 2015, já havia poucas marcas a produzir equipamentos do género.
Pode não ser um televisor, mas com uma das novidades deste ano a Asus resolveu uma parte da questão. O Vivobook Pro 16 X 3D é um computador portátil que traz a promessa do 3D mas dispensa os óculos. E, ao contrário dos televisores, no portátil há mais aplicações para o 3D, especialmente para quem trabalha em áreas como desenvolvimento de jogos, design de produto ou efeitos visuais.
Mas como é que são dispensados os óculos? Com uma tecnologia chamada Asus Spatial Vision, que usa um tipo de painel OLED 3D e tecnologia para acompanhar o movimento dos olhos. Quando esta ferramenta é ativada, surgem as imagens 3D, que são “projetadas diretamente através de uma camada microscópica de lentes que estão no painel do ecrã”. Não há ainda informação sobre preços.
Afeela, o carro que é um casamento entre Sony e Honda
No ano passado foi revelada a criação de uma joint venture entre a Sony e a Honda, virada para a área da mobilidade elétrica. Meses depois da oficialização da união, o CES foi o local escolhido para revelar o primeiro protótipo de um automóvel elétrico desenvolvido em conjunto.
Chama-se Afeela e foi revelado durante a apresentação da Sony. Neste momento, não há indicação sobre preços, mas foi divulgado que a intenção passa por fazer chegar este elétrico ao mercado da América do Norte em 2026. O carro tem câmaras, radares e mais de 40 sensores.
Uma vez que se trata de um protótipo, não há indicações sobre possíveis preços, mas as duas empresas assumiram que pretendem competir no campeonato dos modelos mais premium e dispendiosos. No entanto, esta não foi a primeira vez em que a Sony revelou um carro em palco: há três anos, a marca mostrou um protótipo chamado Vision-S, gerando surpresa.
Aska mostrou protótipo de “carro-voador” – e funcional
Na vida há três certezas: a morte, a necessidade de pagar impostos e a lógica de que alguém vai levar um “carro-voador” ao CES. O conceito correto chama-se eVTOL, que quer dizer veículo elétrico de descolagem e aterragem vertical. A Aska foi uma das empresas a trabalhar no desenvolvimento destes equipamentos a mostrá-lo nesta edição do CES, surgindo com o Aska A5.
Mas a verdade é que muitas empresas têm aproveitado o evento para mostrar evoluções mais ou menos ambiciosas e nem tanto o equipamento em si. Afinal, esta é uma área onde a investigação não só é dispendiosa como requer diversas autorizações e certificações.
A empresa instalou um dos equipamentos nas áreas exteriores do CES, mas deixou a ressalva de que a chegada aos ares, estimada para 2026, está dependente de autorizações. O equipamento tem uma autonomia estimada de cerca de 250 quilómetros e tem capacidade para até quatro passageiros.
Para já, o equipamento vai estar disponível em pré-venda, mesmo que a comercialização só seja esperada para daqui a três anos.
Um comedouro para pássaros que até tira fotografias
O CES é a prova de que há cada vez mais coisas conectadas à internet. A Bird Buddy dá a tecnologia aos amantes de pássaros. A empresa já tinha comedouros inteligentes para pássaros, mas este ano decidiu dar um passo em frente, com tecnologia para captar imagens e vídeos de pássaros mais pequenos e esquivos: os beija-flor.
Através das imagens, é possível identificar diferentes pássaros que pousem nestes comedouros e adicionar a fotografia a uma galeria na aplicação. A empresa criou também uma comunidade online para a partilha destas imagens.
Uma “impressora” para nunca errar as sobrancelhas
A L’Óreal transformou-se numa presença habitual no CES ao longo dos anos, para apresentar produtos que se movem na área do skincare e maquilhagem. A gigante, que controla diversas marcas de beleza e perfumaria, incluindo marcas de luxo como a Lâncome ou a Yves Saint Laurent, revelou dois novos “gadgets” este ano – um aplicador para quem tem mobilidade limitada na mão e no braço e uma espécie de “impressora” para as sobrancelhas.
O primeiro, chamado Hapta, foi pensado para uma população estimada em 50 milhões de pessoas que têm capacidades motoras limitadas. É um aplicador de maquilhagem computadorizado, ajudando na aplicação por exemplo de batom. Tem um acessório magnético e permite uma utilização de 360 graus de rotação e 180 de flexão. Conta com uma bateria com uma utilização contínua estimada de uma hora. O Hapta não estará disponível ainda ao público: primeiro vai passar por um projeto-piloto, com uma das marcas do grupo, a Lancôme.
Já o Brow Magic, um pequeno gadget para conseguir ter umas sobrancelhas personalizadas, deverá ser lançado ainda este ano. Resultado de uma parceria com uma tecnológica especializada em tatuagens impressas e não permanentes, a Prinker, permite ao utilizador escolher o tipo de formato de sobrancelha pretendido através de uma aplicação com realidade aumentada.
Depois de aplicar um primário de sobrancelhas é hora de “imprimir”. Através de 2.400 pequenos picos e tecnologia de impressão, é feita a aplicação no rosto. Trata-se de uma pequena impressora portátil e tudo pode ser removido com um desmaquilhador comum. Não há notícias sobre preço deste pequeno gadget.
Um novo “headset” de realidade estendida vindo da HTC
Se o metaverso fez a estreia no CES como tema de conferências e área de exposição, era de esperar que fossem lançados produtos. A HTC, que já tinha equipamentos de realidade virtual, cumpriu a expectativa da indústria, que aguardava um novo “headset” da marca.
O HTC Vive XR Elite é a novidade, mas trata-se de um equipamento de XR – realidade estendida, que vai além da realidade virtual, conseguindo fazer a sobreposição de imagens virtuais no mundo real. Ou seja, poderá ser um concorrente à altura da novidade anunciada pela Meta no ano passado, o Meta Quest Pro.
A marca promete um equipamento leve. E mesmo quem tem necessidade de óculos poderá usar este equipamento, já que ajusta as dioptrias em cada uma das lentes, dispensando os óculos.
Este equipamento vai custar 1450 euros e só chegará ao mercado a 15 de fevereiro.
Os caros “gadgets” de casa de banho da Kohler chegam ao mercado este ano
Não foram apresentados pela primeira vez este ano, mas a novidade saída do CES de 2023 é a chegada ao mercado de dois “gadgets” para casa de banho desenvolvidos pela centenária Kohler. A banheira Stillness Infinity Bath e a sanita Numi 2.0 são considerados equipamentos de luxo, tendo por isso obviamente um preço elevado a acompanhar esse estatuto.
A banheira, que já tinha sido anunciada em 2021, enche-se sozinha, já que é ativada por voz e compatível com a Alexa da Amazon. Tenta ao máximo reproduzir uma experiência de Spa em casa, com vapor, aromaterapia e circulação de água filtrada. Há ainda luz para acompanhar e tentar recriar um ambiente relaxante. O preço é que não é para todos: a banheiro custa 16 mil dólares, cerca de 15 mil euros, e ficará disponível no terceiro trimestre do ano.
A sanita Numi 2.0 não fica atrás nas funcionalidades. É ativada por movimento e tem uma coluna e luzes na base. A sanita pode ser controlada através da assistente digital Alexa e tem Bluetooth. Ou seja, mesmo que não tenha uma coluna para ouvir música na casa de banha, a Numi 2.0 pode fazer isso.
Além disso, tem todas as funcionalidades que são habituais nas sanitas do mercado asiático, incluindo a capacidade para o aparelho se limpar sozinho. Já está disponível para compra, é preciso é ter 8.500 dólares no bolso — cerca de 7.930 euros.