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Este é o 9.º artigo de uma série sobre a história da nomenclatura automóvel ao longo de 137 anos e três continentes. As partes anteriores podem ser lidas aqui:

Hyundai

No início da década de 1980, americanos e europeus já tinham deixado de olhar com sobranceria para as marcas japonesas e aceitado que, além de produzirem carros baratos, eficazes, fiáveis e com boa relação qualidade/preço, aquelas também estavam a dar cartas no domínio da qualidade absoluta. Porém, a estreia nos mercados ocidentais de uma marca sul-coreana terá encarada com alguma suspeição por alguns condutores ocidentais. O Hyundai Pony, o primeiro carro de passageiros fabricado na Coreia do Sul, lançado em 1975, começou a ser exportado para o Ocidente na viragem dos anos 70/80 e acabou por superar a desconfiança em relação a um fabricante ignoto nas nossas paragens.

Hyundai Pony de 1984 (2.ª geração)

Embora o Pony tenha sido o primeiro modelo da marca, a Hyundai tinha uma história que remontava a 1947, com a fundação da Hyundai Togun, vocacionada para as áreas da engenharia e construção e que, 20 anos depois criou a subsidiária Hyundai Motors. O Grupo Hyundai foi convertendo-se num mega-conglomerado (chaebol, na designação coreana), com presença na construção naval, indústria química, semicondutores, computadores, construção civil, empreendimentos turísticos, elevadores, logística, banca, etc. A crise económica asiática de 1997-98 levou ao desmembramento do grupo e a Hyundai Motor Company tornou-se numa empresa autónoma. A crise acabou por proporcionar à Hyundai o ensejo de, em 1998, adquirir a rival Kia, o 2.º maior fabricante automóvel coreano, que entrara em insolvência. A recuperação foi rápida: em 1999 a dupla Hyundai/Kia ocupava o 13.º lugar no ranking mundial de construtores e em 2014 chegou ao 3.º lugar, que mantém desde então, com excepção do ano incaracterístico de 2020, em que foi ultrapassada pela General Motors; em 2021 regressou ao podium, com 6.7 milhões de veículos vendidos. É da Hyundai a maior fábrica de automóveis do mundo: fica em Ulsan, na Coreia do Sul, tem capacidade para fabricar 1.6 milhões de unidades/ano e não fica longe do maior estaleiro naval do mundo, que é pertença das Indústrias Pesadas Hyundai.

Hyundai provém do coreano “hyoendae”, que significa “moderno, contemporâneo”. Alguns SUVs Hyundai foram baptizados com topónimos como Creta, Santa Fe (uma cidade no Novo México), Tucson (uma cidade no Arizona, cujo nome os americanos pronunciam como “tusson” e o resto do mundo como calha; em 2021 foi o modelo mais vemdido da marca, com 477.000 exemplares), Bayon (alusão à cidade francesa de Bayonne) e Veracruz (um estado mexicano).

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O 2.º modelo mais vendido da Hyundai em 2021 foi o Elantra, cujo nome provém, alega a marca, do inglês “elation”, que significa “exaltação”, “elevação”, “êxtase” – serão estas, supostamente, as sensações que acometerão os seus condutores, dispensando-os portanto de gastar dinheiro em drogas que produzam o mesmo efeito. É provável que a justificação tenha sido criada a posteriori, já que o veículo começou por ser comercializado na Europa como Lantra. Se há no nome Elantra bastante presunção, ela torna-se ainda mais explícita no veículo executivo de topo de gama, o Grandeur. Merecem referência os nomes do desportivo Tiburon (“tubarão”, em espanhol), que se comercializou na Coreia do Sul como Tuscani (uma alusão à região italiana da Toscana?), e a sub-marca da Hyundai consagrada à mobilidade eléctrica a Ioniq, que combina “ion” (ião) com “unique” (“único” no sentido de “incomparável”, “sem par”, “excepcional”). O Hyundai Kona é um SUV compacto surgido em 2017, cujo nome provém de uma região da maior ilha do arquipélago do Hawaii. Em Portugal, por razões óbvias, é comercializado com outro nome: Kauai, que é uma ilha do mesmo arquipélago.

Hyundai Kona

Kia

A Kia Motors é o 2.º maior fabricante de veículos da Coreia do Sul. Foi fundada em 1944 como fábrica de componentes para bicicletas, com o nome Kyungsung, alterado em 1952 para Kia, que significa “erguendo-se do Oriente”. Após ter passado pelo fabrico de motociclos (derivados da Honda) e camiões (derivados da Mazda), estreou-se nos veículos de passageiros quase em simultâneo com a Hyundai, em 1974. Nos primeiros anos limitou-se a montar, sob licença, modelos Fiat e Peugeot; passou depois a carros baseados em modelos da Mazda e Ford, antes de, em 1992, ter lançado o seu primeiro modelo original, o Sephia.

Em 1998, na sequência da crise económica coreana e da falência da Kia, a Hyundai  adquiriu 51% da empresa, participação entretanto reduzida para cerca de 33% – sem que a Kia tenha perdido a sua autonomia como marca.

Kia Sephia de 1.ª geração (1992-94)

Tal como acontece na Hyundai, alguns SUVs da Kia têm sido baptizados com topónimos: é o caso do Mohave, que alude a um deserto no Sudoeste dos EUA (dividindo-se pelos estado da Califórnia e Nevada e mais frequentemente grafado como Mojave) e que nos EUA e China é comercializado como Borrego (uma zona desértica e um parque natural na Califórnia, mas que seria uma escolha desastrosa para o mercado português). Outro recebeu o nome de Telluride, uma cidade no Colorado, conhecida – mas não muito – como estância de ski e sede de um festival de cinema independente. Há ainda um SUV baptizado como Sorento, que talvez tenha sido inspirado pela cidade na Baía de Nápoles.

Kia Borrego

O Amanti (2003-10) era um carro executivo topo de gama, não necessariamente vocacionado para infidelidades conjugais, mas com amplo espaço interior e conforto para tal, caso necessário; também foi comercializado como Opirus. O Kia Cee’d, que foi o primeiro concebido pelo gabinete europeu da marca e foi especificamente pensado para o mercado europeu, deriva, supostamente, o seu nome de CEE + ED (European Design), a que depois se removeu um “e”. É uma nomenclatura rebuscada e pouco plausível, pois o modelo foi lançado em 2006, 13 anos depois de a designação Comunidade Económica Europeia ter dado lugar a União Europeia. A Hyundai afirma que o SUV Seltos, lançado em 2019 e que foi o 2.º modelo mais vendido da marca em 2021, foi buscar o nome a Celtos, uma obscuríssima figura da mitologia greco-romana que seria filho de Hércules e Celtine. Muitos modelos automóveis fazem referência à toponímia italiana e a Kia não é excepção, com o Sorento, que acena à cidade de Sorrento, situada na Baía de Nápoles e com vista para o Vesúvio e para a Ilha de Capri (que baptizou um famoso modelo da Ford).

Kia Sorento de 2019 (4.ª geração)

O Kia Picanto deriva o seu nome da palavra “picante” (igual em espanhol e similar em italiano), que seria bem mais adequada a um desportivo do que a este pequeno carro citadino; na Coreia foi comercializado como Morning, um nome que, de acordo com a marca, alude à designação “Land of the morning calm” (“Terra da calma matinal”), cunhada pelo escritor americano Percival Lowell numa História da Coreia que recebeu o título Chosön, the land of morning calm (1885). A Coreia tem sido conhecida por diferentes nomes ao longo dos séculos, quer pelos seus habitantes quer por quem a olha de fora, e Yi Seong-gye, o primeiro governante da nova dinastia que subiu ao trono em 1392, escolheu substituir o antigo Goryeo, que designava um reino fundado em 918, por Joseon (também transcrito como “Choson”), que faz referência a Gojoseon, um reino que dominou a Península da Coreia até 108 a.C. Joseon/Choson tem sido traduzido no Ocidente, aproximativamente, como “calma/sol matinal”, mas a expressão “Land of the morning calm” é praticamente desconhecida entre os coreanos – e entre os anglófonos que não tenham lido o obscuro livro de Percival Lowell – pelo que a explicação do nome do modelo da Kia parece ser uma daquelas lérias rebuscadas que os marqueteiros congeminam para justificar as suas opíparas remunerações.

Daewoo

Em 1997, na véspera da grande crise económica asiática, o Grupo Daewoo era o 2.º maior conglomerado empresarial da Coreia do Sul, atrás do Grupo Hyundai. Empregava 350.000 pessoas e tinha uma quarentena de divisões, cobrindo áreas como electrónica de consumo, construção naval, maquinaria pesada, construção civil, empreendimentos turísticos, finanças, têxteis, que, após a insolvência do grupo, em 1999, foram liquidadas ou vendidas a outras empresas. A Daewoo Motors (que teve origem remota na Saenara Motor, fundada em 1962 para montar Datsuns sob licença, por sua vez com antecedentes numa companhia fundada em 1937) foi vendida em 2001 à General Motors, que, em 2011, extinguiu a marca, dando lugar à GM Korea.

O edifício que em tempos foi a sede da Daewoo, em Seul, e que foi rebaptizado como Seul Square

O nome “Daewoo” significa “Grande Woo” e homenageia Kim Woo-jung (1936-2019, também grafado Kim Woo-choong), que fundou o grupo em 1967 e o dirigiu até 1999.

O crescimento do Grupo Daewoo foi muito rápido quando comparado com o dos seus rivais Hyundai, Samsung e LG, o que Kim atribuiu às suas excepcionais qualidades de gestor, que propagandeou num best-seller de 1989 que vendeu um milhão de exemplares em seis meses, que foi comercializado no mundo anglófono com o título “It’s a big world and there’s lots to be done” (O mundo é grande e há muito para fazer) – outra compilação dos seus pensamentos intitulou-se Every street is paved with gold: The road to real success (Todas as ruas estão pavimentadas a ouro: A via para o verdadeiro sucesso).

Porém, quando a Daewoo colapsou, em 1999, e Kim Woo-jung fugiu para o Vietnam, percebeu-se que boa parte do seu sucesso se devia antes a “engenharia financeira” (o grupo, aparentemente poderoso, tinha dívidas de 70.000 milhões de dólares) e ao favorecimento propiciado pelo autocrático presidente Park Chung Hee (no poder em 1963-79), que tinha sido discípulo do pai de Kim.

O Daewoo Matiz, lançado em 1998 (na foto, a versão de 2004), foi um dos modelos mais populares da marca; foi também comercializado como Chevrolet Spark e vários outros nomes, por diferentes subsidiárias da GM

Quando Kim Woo-jung regressou à Coreia em 2005, foi julgado por fraude, financiamento ilegal e desvio de fundos: foi condenado a 10 anos de prisão e parte da sua fortuna (22.000 milhões de dólares) foi confiscada. Deu entrada na prisão em 2006 mas foi amnistiado em 2007 pelo presidente Roo Moo-hyun. Atendendo a este imbróglio, só é de estranhar que a GM tenha esperado dez anos para extinguir a marca “Grande Woo” (claro que, aos portugueses, parecerão assaz insólitas estas situações – um grupo económico que parece ser dono-disto-tudo mas afinal está endividado até às orelhas, promiscuidade entre grandes grupos económicos e poder político, gestores de sucesso que lançam livros presunçosos sobre como triunfar nos negócios e vêem o seu império desmoronar-se pouco depois – já que cá nunca se ouviu falar de nada parecido).

Os primeiros modelos fabricados pela Daewoo foram versões de modelos da General Motors. Em 1987 surgiu o primeiro modelo de concepção própria, o Espero, que foi rebaptizado como Aranos nalguns mercados hispanófonos, já que, em espanhol (ou português), “espero” propiciava piadas sobre o desempenho e a fiabilidade do carro.

O nome do Daewoo Tosca (comercializado na Europa como Chevrolet Tosca) seria, segundo a marca, um acrónimo de “TOmorrow Should Come Always” (um truísmo disfarçado de proclamação filosófica), mas a maioria das pessoas associará o nome à célebre ópera de Puccini. O Daewoo Leganza foi, segundo a marca, buscar o nome à fusão das palavras “elegante” e “forza”, mas os italianos, que sabem da existência da palavra “eleganza” (elegância) acharão a justificação tola.

Daewoo Tosca

SsangYong

A SsangYong foi outro dos mega-grupos sul-coreanos que colapsou após a crise asiática de 1997. A sua divisão automóvel, a SsangYong Motor Company, foi adquirida em 1997 pela Daewoo, mas quando esta também se viu em apuros, vendeu-a à chinesa SAIC. Em 2011, após atritos entre a SAIC e os trabalhadores e o governo coreano e com a empresa à beira da insolvência, a SsangYong acabou nas mãos da indiana Mahindra & Mahindra.

A SsangYong – fundada em 1986 e cujo nome significa “duplo dragão” – teve origem na Dong-A Motor, que, por sua vez resultou da fusão de uma fábrica fundada em 1954 para construir jipes, camiões e autocarros para o exército dos EUA, com outra empresa.

Entre os modelos da SsangYong estão o Musso – “rinoceronte”, em coreano –, o Korando – de “Korea can do” –, o Istana – “palácio, em malaio –, o Actyon – que pretende combinar “action” e “young” –, o Kyron – de “chi” (letra grega) + “run” e significando, supostamente, “corrida infinita” –, o Rodius – que, na cabeça de quem o concebeu, significa “senhor da estrada”, de “road” + “Zeus” (!). Os brainstormings para escolha de nomes na Daewoo parecem ter sido generosamente regados com soju…

SsangYong Korando de 4.ª geração, apresentado em 2019

Pyeonghwa

Face à pujante indústria automóvel da Coreia do Sul, a Coreia do Norte apenas tem para apresentar, no domínio dos automóveis de passageiros, a modestíssima Pyeonghwa. A empresa foi fundada em 2000 e o seu nome significa “paz”, que era uma das palavras favoritas na imagem oficial da antiga URSS e continua a ser exibida pelos países e instituições que mantiveram vínculos políticos e afectivos com a URSS; muito apropriadamente, o logótipo representa duas pombas brancas.

A Pyeonghwa, que detém o exclusivo do fabrico e comercialização de automóveis de passageiros (novos e usados!) na República Democrática da Coreia do Norte, resultou de uma parceria entre a Ryonbong, uma empresa estatal norte-coreana, e a Pyeonghwa Motors, uma empresa sul-coreana propriedade da Igreja da Unificação, uma seita religiosa de inspiração cristã fundada por Sun Myung Moon (1920-2012) e que tem entre os seus desígnios a reunificação das duas Coreias. A parceria nasceu durante o período de desanuviamento na geopolítica coreana conhecido como “Sunshine Policy”, mas, quiçá por ter passado 13 anos a acumular prejuízos, em 2013, o parceiro sul-coreano alienou a sua participação na empresa, que passou a ser detida na íntegra pelo Estado norte-coreano. Até 2013, os modelos da Pyeonghwa foram, dominantemente, versões baratas de Fiats, a partir desse ano a base da inspiração passou a vir de modelos chineses.

Pyeonghwa Pronto, uma versão norte-coreana de um modelo da marca chinesa Huanghai

A produção é irrisória: 314 unidades em 2003, 1600 unidades em 2015, embora, teoricamente, a fábrica em Nampo tenha capacidade para fabricar 10.000 por ano. Mesmo com tão magra produção, a debilidade da concorrência faz com que os Pyeonghwa representem 20% do parque automóvel da capital norte-coreana. Mesmo que a produção fosse mais robusta, as vendas não deveriam aumentar, já que o PIB per capita no país é de cerca de 2000 euros/ano e o preço dos Pyeonghwa vai dos 8000 aos 25.000 euros, pelo que é intrigante que a marca invista em publicidade e seja mesmo a única marca autorizada a fazê-lo na Coreia do Norte, onde a propaganda está limitada à política – o primeiro cartaz outdoor comercial do país surgiu em 2002 e exaltava as qualidades de um modelo da Pyeonghwa.

Publicidade ao Pyeonghwa Hwiparam (uma versão do Fiat Siena), em Pyongyang

Tata

A ideia de comprar um carro fabricado na Índia será recebido por muitos ocidentais com um sorriso de perplexidade ou até de zombaria e a marca Tata não dirá nada à maioria dos portugueses. A reacção poderá ser outra se se souber que a Tata Motors 1) comprou em 2008 a Jaguar e a Rover, duas jóias da indústria automóvel britânica, 2) vendeu mais de 1.1 milhões de veículos em 2021 e 3) faz parte de um mega-grupo empresarial que emprega mais de 700.000 pessoas em todo o mundo e cujas receitas representam cerca de metade do PIB português.

As origens da Tata estão numa pequena empresa fundada em 1868 por Jamsetji Tata (1839-1904), que adquiriu um lagar em Chinchpokli e o converteu numa fiação de algodão.

Jamsetji Tata, por Edwin Arthur Ward, 1889

Jamsetji Tata e os seus descendentes – a direcção do grupo sempre esteve nas mãos da família Tata – foram diversificando e expandindo e geograficamente os negócios e o Tata Group é hoje um colosso que se reparte pela produção e distribuição de energia, fabrico de aço, indústria química, sistemas de informação e comunicações, hotelaria, banca e serviços financeiros, imobiliário, consultoria, logística, aviação comercial, cerâmica, vestuário, decoração, bebidas, livrarias e um longo etc.

As actividades da Tata no ramo automóvel remontam a 1945, com a criação da Telco – Tata Engineering and Locomotive Company –, dedicada ao fabrico de locomotivas. Em 1954 aliou-se à Daimler-Benz para produzir veículos comerciais, actividade em que rapidamente se tornou dominante no mercado indiano. O seu primeiro automóvel de passageiros, o SUV Tata Sierra (sem relação com o modelo homónimo da Ford), baseado na pickup Tata Telcoline (que começara por chamar-se Tatamobile), surgiu apenas em 1991, mas, desde essa data, o desenvolvimento da Tata Motors em termos de refinamento tecnológico e estético e implantação no mercado internacional tem registado progressos rápidos.

Tata Nano

O seu trunfo continuam a ser os carros pequenos e económicos, cujo modelo mais conhecido é o Nano, produzido entre 2008 e 2018 e que tinha a reputação de ser o carro de produção em massa mais barato do mundo. O seu nome provém da palavra grega para “anão”.

Em 2011, para assinalar o 5000.º aniversário do início da arte da joalharia na Índia e para mostrar ao mundo que a Tata deixara de ser um fabricante de carros low cost, a marca apresentou o Nano Goldplus, um bling car extravagantemente decorado com 80 Kg de ouro, 15 Kg de prata e 10.000 pedras preciosas, cujo valor foi estimado em 4.47 milhões de dólares.

Um dos primeiros Tata – o Indica, surgido em 1998 – tem nome que remete para a origem geográfica da marca, mas de resto a nomenclatura dos modelos adopta o tom neutro de quem visa o mercado internacional. No final de 2015, quando a Tata se preparava para lançar o Zica (contracção de “Zippy Car”, tendo “zippy” o significado de vivo, enérgico, azougado), eclodiu na América do Sul uma epidemia do vírus Zika, que foi associado ao nascimento de bebés microcéfalos e levou a Tata a, apressadamente, rebaptizar o novo modelo como Tiago, escolhido através de uma votação online. Se Tiago, a ouvidos portugueses, poderá soar bizarro e propício a equívocos, a verdade é que o 2.º nome mais votado, Civet, também não era feliz, já que designa um pequeno felídeo conhecido quase exclusivamente pelo seu intenso odor almiscarado.

Tata Tiago

Maruti

Talvez poucos europeus estejam conscientes de que a Índia tem, nos anos mais recentes, oscilado entre o 4.º e o 5.º lugar no ranking do fabrico de automóveis, e que em 2021 atingiu os 3.6 milhões de unidades, o que a coloca no 3.º lugar, à frente da Coreia do Sul e Alemanha e representa o quádruplo da produção da França. Há porém que colocar o sucesso da indústria automóvel indiana em contexto: tal como aconteceu até há pouco tempo com a China, muita da produção resulta da parceria com empresas ocidentais, japonesas ou sul-coreanas.

O maior fabricante indiano é a Maruti Suzuki, que, em 2021, detinha uma quota de 49% do mercado indiano de automóveis de passageiros, seguida pela Hyundai India, Tata e Mahindra & Mahindra. A Maruti, que foi fundada em 1981 como Maruti Uyog Ltd., teve uma efémera vida independente, já que no ano seguinte a Suzuki adquiriu 26% do seu capital e esta parcela foi subindo até atingir 56% em 2013. Os modelos Maruti Suzuki são réplicas ou versões muito próximas de modelos da Suzuki e a maioria é comercializada sob o nome Maruti Suzuki ou Suzuki (as excepções foram os Maruti 800, 1000 e Gypsy). Entre os 10 carros mais vendidos na Índia em 2021, oito são Maruti Suzuki: Wagon R (1.º lugar), Swift (2.º), Baleno (3.º), Alto (4.º), Dzire (6.º), Vitara Breeza (7.º), Eeco (8.º) e Ertiga (9.º), com as intromissões no top 10 a limitarem-se ao Hyundai Creta (5.º) e ao Tata Nexon (10.º).

Maruti Suzuki Baleno

O nome Baleno vem da palavra italiana para “relâmpago” e Ignis vem do latim para “fogo”; o nome do minivan Ertiga vem de R-tiga, um cozinhado que combina o indonésio “tiga” (três) com um “R” de “row” (fila, em inglês) para indicar que possui três filas de bancos; o nome Celerio, vem, segundo uma versão, de “celestial river”, como sinónimo de Via Láctea, segundo outra, do latim “celer” (“rápido” ou “célere”), o que acaba por ser sinónimo, em inglês de Swift.

Maruti, que significa “filho do ar”, é um dos nomes dados a Hanuman, um deus-macaco do panteão hindu, filho de Pavana, deus do vento, e da deusa Anjanâ, e um fiel companheiro de Rama. É um dos protagonistas da narrativa épica Ramayana e é mencionado no Mahabharata e noutros textos sagrados indianos.

Estátua de Hanuman/Maruti, dinastia Chola, século XI