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José Maria Ricciardi esteve três horas e meia a depor em tribunal. E esta sexta-feira continua a ser interrogado
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José Maria Ricciardi esteve três horas e meia a depor em tribunal. E esta sexta-feira continua a ser interrogado

TERESA DIAS COSTA/OBSERVADOR

José Maria Ricciardi esteve três horas e meia a depor em tribunal. E esta sexta-feira continua a ser interrogado

TERESA DIAS COSTA/OBSERVADOR

Uma denúncia, alertas ignorados e o controlo "total" do grupo. Como os Ricciardi cercaram Salgado em tribunal no dia 3 do GES

Terceiro dia do julgamento ficou marcado pelo testemunho de José Maria Ricciardi e pela reprodução do depoimento de António Ricciardi. Os dois colocaram Salgado no centro do plano que arruinou o BES.

Ricardo Salgado seria mesmo o dono daquilo tudo, manteria um controlo total sobre tudo o que se passava no grupo e no Banco Espírito Santo e só em 2014 Ricciardi — um dos depoentes chave no julgamento do GES/BES — terá conseguido lançar mão a um documento que, disse em tribunal o antigo quadro do BESI, mostrava preto no branco como as contas da instituição tinham sido falsificadas para esconder um buraco milionário que, no final, levou à derrocada completa de uma das principais instituições financeiras do país. No dia 3 do julgamento, os Ricciardi — pai (que morreu em 2022 mas gravou um depoimento em 2015) e filho — cercaram o antigo homem forte do Grupo Espírito Santo.

O Ministério Público já foi muito claro sobre quem considera ser o “big boss” do GES e, esta terça-feira, esses dois testemunhos vieram dar força à acusação: para António Ricciardi e para o seu filho, José Maria Ricciardi, quem “controlava tudo” era Ricardo Salgado. E se o primeiro não fundamentou as perceções que tinha, durante o depoimento que fez em 2015, o segundo deu exemplos e aproveitou até para envolver o antigo governador do Banco de Portugal no caso. As acusações dos dois membros da família do ex-banqueiro — José Maria Ricciardi é primo e António Ricciardi, que morreu em 2022, era tio de Salgado — não foram novidade, mas há detalhes importantes que colocam na roda outros arguidos — como o antigo contabilista Machado da Cruz, que terá sido “forçado” a mentir sobre as contas do banco.

António Ricciardi morreu em 2022, mas será a primeira testemunha do julgamento do GES. O que disse o comandante em 2015

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Os testemunhos ouvidos esta quinta-feira em tribunal colocam Ricardo Salgado no centro do alegado esquema de corrupção, construído através de um também alegado grupo que formou uma associação criminosa para desviar fundos do banco com o objetivo de financiar outras empresas do grupo. Mas as acusações feitas por José Maria Ricciardi ainda não terminaram e vão continuar esta sexta-feira, dia em que a defesa do ex-banqueiro poderá confrontar o antigo presidente do BESI.

“Salgado fazia tudo o que lhe apetecia e sobrava-lhe tempo”

A acusação do Ministério Público aponta Ricardo Salgado como o mentor de todo o esquema financeiro que levou à derrocada do Grupo Espírito Santo — é, aliás, o arguido acusado de mais crimes —, e a procuradora Carla Dias focou as suas questões precisamente nesse ponto: quis, sobretudo, saber quem controlava o banco e as respetivas contas. E José Maria Ricciardi foi a jogo e descreveu a primeira reunião do conselho superior do GES em que esteve presente.

Este conselho superior, onde estavam representados os cinco ramos da família, era “teoricamente um lugar onde se tomavam as decisões mais importantes em relação ao grupo”. Mas não foi isso que José Maria Ricciardi encontrou logo no primeiro encontro em que participou: “Estavam todos os membros, incluindo o meu pai. E o meu pai informou que [o conselho superior] não podia começar, porque não estava o dr. Salgado”. Surgiu, por isso, “um grande espanto, porque o dr. Salgado era um vogal como os outros”. Quando Salgado finalmente chegou à reunião, “começou a debitar o que decidiu fazer, o que tinha feito e o que se ia fazer”.

Depoimento de António Ricciardi, gravado em 2015, foi exibido esta quinta-feira de manhã.

TERESA DIAS COSTA/OBSERVADOR

José Maria Ricciardi usou este exemplo para deixar logo dois recados: foi nesse momento que começou a desentender-se com o primo — porque questionou “se era um conselho para ouvir o que o dr. Salgado decidiu” — e o episódio mostra como Salgado dominava e controlava quem estava à sua volta. “O dr. Salgado fazia tudo o que lhe apetecia e sobrava-lhe tempo. Nós não sabíamos o que acontecia”, acrescentou ainda Ricciardi durante a tarde desta quinta-feira.

Mas não eram apenas as reuniões do conselho superior que Ricardo Salgado monopolizava. Ali dentro, destacou José Maria Ricciardi, José Manuel Espírito Santo, líder de um dos cinco ramos da família, “fazia aquilo que o dr. Salgado lhe mandava fazer”. “Tinha uma postura de tentar ajudar, mas fazia aquilo que o dr. Salgado mandava fazer”, acrescentou.

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Se José Manuel Espírito Santo, que morreu em fevereiro de 2023, sabia ou não o que estava a fazer, José Maria Ricciardi não disse, mas durante a manhã, quando se ouviu o depoimento feito pelo pai, chegou-se à resposta: “Duvido que o José Manel tivesse a noção da importância que existia na falsificação das contas. Não estava com certeza consciente”. ” Se soubesse, teria feito qualquer coisa. O José Manel não é pessoa de saber e deixar estar”, sublinhou António Ricciardi, no depoimento feito em 2015.

Os alertas feitos por rival de Salgado que foram desconsiderados

José Maria Ricciardi assumiu logo no início do seu testemunho que não era “nem amigo, nem inimigo” de Ricardo Salgado. No entanto, sabia bem com quem é que o primo se dava ou com quem tinha discussões. Do lado dos confrontos, surgiu um dos nomes que mais impacto teve neste processo: Pedro Queiroz Pereira, líder do grupo Semapa que morreu em 2018, mas cujo depoimento ficou gravado e será exibido em breve no tribunal.

Pedro Queiroz Pereira surgiu aqui para mostrar ao tribunal que este empresário sabia que as contas do BES tinham sido falsificadas sem o conhecimento da maioria dos seus membros e que Ricardo Salgado estava no centro de tudo. E para mostrar, acima de tudo, que, mesmo assim, Salgado continuava a escapar.

“O dr. Pedro Queiroz Pereira veio dizer-me várias vezes que o banco estava em péssimas condições, mas como o dr. Pedro Queiroz Pereira andava sempre em guerras com o dr. Salgado e nunca mostrou provas”, Ricciardi desvalorizou os alertas que lhe chegavam.

A confissão de Machado da Cruz a um advogado

Já depois dos alertas de Pedro Queiroz Pereira, que foram desvalorizados, José Maria Ricciardi disse ter percebido que as contas do BES foram falsificadas no final do ano de 2013, altura em que pediu uma auditoria para apurar responsabilidades. “Quando se percebeu que as contas estavam falsificadas, ali início de dezembro de 2013, apresentei um papel para a ata do conselho a dizer que não tinha qualquer conhecimento daquilo e que queria uma auditoria para apurar responsabilidades”, revelou Ricciardi.

José Maria Ricciardi testemunhou esta quinta-feira durante a tarde e vai continuar a falar esta sexta-feira.

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As suas ações, porém, não tiveram consequências. Mais uma vez, porque Ricardo Salgado controlava o grupo. É só em maio de 2014 que Ricciardi tem acesso a um documento — através de uma fonte que não quis revelar em tribunal — que mostrava concretamente que, afinal, as contas tinham sido mesmo falsificadas a mando de Salgado. A denúncia era feita por Machado da Cruz, contabilista do grupo e que tem ido todos os dias assistir ao julgamento em que é também arguido e está acusado de associação criminosa.

“Houve a narrativa de que ele [Machado da Cruz] se tinha enganado nas contas e em maio chegou-me um documento em que Machado da Cruz disse a uma das maiores sociedades de advogados que não tinha havido nenhum erro nas contas, mas que tinha havido falsificação por ordem do dr. Ricardo Salgado“, explicou Ricciardi. “É um documento que é uma espécie de conversa gravada entre o dr. Machado da Cruz e o senhor Schumer [advogado], em que explicava a verdade.”

A denúncia ao Banco de Portugal. “Carlos Costa assobiou para o lado”

Com este documento na mão, nesse mesmo dia, Ricciardi disse que o reencaminhou diretamente para o Banco de Portugal. E que terá sido só nesse momento que o Banco de Portugal começou a perceber o que estava a acontecer. Disse “só”, porque já no ano anterior, em 2013, tinha falado com o então governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.

Quando essa conversa aconteceu, em outubro de 2013, Ricciardi ainda não teria conhecimento da falsificação das contas, nem da dimensão do problema do GES. Sabia, no entanto, que algo se passava.

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“Tinha a sensação de que havia um banco dentro de um banco e que queria demitir-me”, explicou. Mas Carlos Costa “disse que não devia fazer nada disso, que já tinha feito pessimamente em falar nos jornais, que estava a prejudicar o sistema financeiro”.

O dr. Carlos Costa assobiou para o lado, não quis saber de nada e disse para estar quieto“, deixando assim, no entender de Ricciardi, Salgado livre para dar continuidade aos seus planos no banco.

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