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Este é o 8.º artigo de uma série sobre a história da nomenclatura automóvel ao longo de 135 anos e três continentes. As partes anteriores podem ser lidas aqui:

Toyota

A Toyota, que tem ocupado desde 2006 o 1.º lugar no ranking dos construtores de automóveis (com um hiato em 2011 devido ao terramoto de Tōhoku), teve um início modesto: em 1891, aos 24 anos, Sakichi Toyoda patenteou um tear manual, em resposta a um concurso lançado pelo governo. Toyoda foi melhorando a sua invenção e desenvolveu um tear mecânico (o primeiro do Japão) que começou a produzir numa fábrica que fundou. Esta acabou por soçobrar quando, em 1910, o Japão passou por uma recessão económica, mas Toyoda viajou até aos EUA para recolher ensinamentos sobre a indústria têxtil e regressou ao Japão para lançar novo empreendimento nessa área. Desta vez o sucesso foi mais duradouro e Toyoda, que ficara impressionado com a omnipresença do automóvel na vida americana, enviou o filho, Kiichiro aos EUA e à Europa para se instruir sobre a indústria automóvel.

Kiichiro Toyoda (1894-1952)

Kiichiro criou na empresa da família uma divisão automóvel, que, em 1934 iniciou a produção de motores de combustão interna e em 1936, lançou o primeiro modelo da marca: o AA. A boa recepção justificou que no ano seguinte a divisão automóvel se autonomizasse, ao mesmo tempo que ocorria uma alteração no nome: Toyoda foi convertido em Toyota, por a escrita desta palavra em caracteres katakana ser feita com apenas oito traços e o oito ser visto como número da sorte no Japão, por “toyoda” significar “arrozal fértil” (associação indesejável para quem pretendia associar-se a inovação tecnológica e progresso e não ao Japão rural) e por outras vantagens completamente alheias a quem não fale e escreva japonês. Kiichiro Toyoda não veria o seu projecto desenvolver-se, pois faleceu em 1937.

Toyoda AA

Durante a II Guerra Mundial a Toyota centrou-se na produção de camiões e no pós-guerra, devido à debilidade da economia japonesa e a conflitos laborais, a empresa ficou à beira do colapso, de que foi salva pela Guerra da Coreia, que levou o exército americano a fazer-lhe uma vultosa encomenda de camiões.

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A expansão internacional da marca começou pelo Sudeste Asiático e Austrália, mas as tentativas de entrada no mercado dos EUA foram bloqueadas pelo aumento de tarifas, obstáculo que a Toyota contornou construindo fábricas nos EUA. A reputação de elevada fiabilidade, resultante do apurado controlo de qualidade do processo industrial, e a crise petrolífera de 1973, que fez os compradores de automóveis americanos reorientarem-se para automóveis menos gulosos, implantou decisivamente a Toyota nos EUA e na Europa.

Toyota Corolla 1100 Deluxe de 1968 (1.ª geração). A 1.ª geração de Corolla foi produzida entre 1966 e 1970 e desde então já surgiram mais 12 gerações, datando a mais recente de 2018. Em 2016, as vendas acumuladas das várias gerações de Corollas atingiam 44 milhões de veículos

Em 1997, a Toyota lançou o Prius, o primeiro veículo híbrido a entrar em produção em massa – o nome do modelo vem da palavra latina que significa “o primeiro”, “o que vai à frente” e foi uma escolha muito adequada. O Prius tornou-se rapidamente o carro de eleição dos que tinham “consciência ambiental” (ou que pretendiam dar essa ideia aos outros) e, enquanto as outras marcas não responderam com modelos equivalentes, “Prius” tornou-se quase num sinónimo de “automóvel híbrido”. 11 anos após o seu lançamento, o Prius não só ocupava o 1.º lugar das vendas de híbridos nos EUA como as suas vendas superavam a soma dos restantes nove modelos no top 10 de automóveis híbridos; até ao início de 2017 tinham sido vendidos 6.1 milhões de unidades de Prius nas suas múltiplas versões e gerações.

Toyota Prius de 4.ª geração: o Excel VVT-i de 2018

A designação Prius pode, porém, criar alguns engulhos: os anglófonos pronunciam-na como “práiâss”, o que pode desorientar um português habituado a dizer “priuj” ou um latinista (espécie quase extinta) que lerá “priuss”. Mas mesmo entre anglófonos podem surgir divisões e mal-entendidos, quer na pronúncia quer no que diz respeito à forma plural, uma vez que, nas palavras de origem latina, a língua inglesa nuns casos se limita a adicionar um “s” no fim, noutros assume as regras do latim para formação de plurais. O plural latino de “prius” deveria ser “priora”, mas já existia um modelo de Lada com esse nome e, de qualquer modo, nunca alguém não-versado em latim se lembraria de tal opção. A filial norte-americana da Toyota tentou impor ordem na proliferação de plurais para “Prius” e, após ter sondado os seus clientes, escolheu “Prii” – um esforço inglório, pois muitos anglófonos ignoram a versão “oficial” e usam “Priuses” (práiâssiss).

O Toyota Camry resulta da adaptação da palavra japonesa “kanmuri”, que significa “coroa”, uma escolha susceptível de gerar confusão, já que a marca comercializa também o modelo Crown (“coroa”, em inglês), que desde 1955 já conheceu 15 gerações. Em 1984, a Toyota lançou um modelo desportivo que foi comercializado com o nome MR2 em todo o mundo excepto nos países francófonos, onde o “2” foi suprimido, dado que soaria como algo muito pouco lisonjeiro em francês.

Toyota MR2 de 1.ª geração (1984-89)

O Grupo Toyota inclui as marcas de veículos Lexus, Hino, Daihatsu e Ranz e empresas subsidiárias que se espraiam por actividades muito diversas. Uma delas, a Toyota Industries, pode ser vista como a descendente da fábrica de teares automáticos fundada por Sakichi Toyoda e dedica-se à produção de maquinaria industrial, nomeadamente para a indústria têxtil. Outras actividades incluem o fabrico de aço, rolamentos, empilhadoras, componentes para a indústria automóvel, aparelhos de ar condicionado e baterias, a construção civil, as telecomunicações, a navegação e os serviços financeiros. A direcção da companhia tem estado nas mãos da família Toyoda – o actual presidente é Akio Toyoda, neto do fundador da marca.

Lexus

Após ter-se afirmado no mercado dos carros baratos, acessíveis e fiáveis, no final dos anos 80 a Toyota começou a expandir a oferta para os segmentos mais elevados e, numa jogada ambiciosa, criou, em 1989, a Lexus, a marca de luxo do grupo, dirigida, antes de mais ao mercado norte-americano (só começou a ser comercializada no Japão em 2005), onde rapidamente ganhou uma reputação comparável à da Mercedes, Audi ou BMW.

O primeiro Lexus: o LS 400 de 1989

Uma “etimologia popular” sugere que Lexus é um acrónimo de “Luxury EXports to the US”, mas a verdade é que, como muitos nomes de marcas e modelos, não tem nenhum significado e foi escolhido a partir de uma lista de 219 nomes. A selecção do nome terá sido feita tendo em conta sobretudo o mercado internacional, já que a peculiar fonética japonesa converte Lexus em “rekusasu”.

Um dos modelos de Lexus mais luxuosos que pode comprar-se em Portugal é o Lexus LS 500h, apresentado em 2017: tem motorização híbrida, com um V6 de 3500 cm3 como motor a gasolina, e acelera dos 0 aos 100 Km/h em 5.5 segundos; os seus bancos proporcionam massagens (cinco programas à escolha), o seu sistema de som inclui 23 colunas e está dotado com 12 airbags. O seu preço em Portugal começa nos 132.500 euros.

Lexus LS 500h

Nissan

A Nissan é o mais antigo fabricante de automóveis do Japão, tendo origem na empresa Kaishinsha, fundada em Tóquio em 1911 por Masujiro Hashimoto. O seu primeiro modelo, de 1914, foi baptizado como DAT, a partir dos apelidos dos três principais investidores na empresa, Kenjirō Den, Rokurō Aoyama e Meitarō Takeuchi. A partir de 1925, DAT passou também a designar a empresa, mas foi alterado logo no ano seguinte para DAT Jidōsha Seizō, por fusão com o fabricante de automóveis de Osaka Jitsuo Jidōsha.

Em 1930, uma lei japonesa determinou que a condução de veículos com cilindrada inferior a 500 cm3 não requeria carta de condução, ao que a DAT respondeu lançando uma série de pequenos veículos com motor de 495 cm3 baptizados como Datson (no sentido de “filho de DAT”), tendo o primeiro sido o Datson Modelo 11, de 1932.

Datson Modelo 11

Em 1933-34, a DAT Jidōsha Seizō foi adquirida pelo conglomerado Nippon Sangyō (isto é, Indústrias Japonesas), fundado em 1928 e cujos interesses abrangiam imobiliário, minas, fundições e companhias de pesca e cuja designação a Bolsa de Tóquio abreviou para “Nissan”. O sector automóvel do conglomerado passou a chamar-se Nissan Jidōsha (Motores Nissan) e a marca dos seus carros passou de Datson para Datsun, por, em japonês, “son” significar “perda”.

No pós-guerra, após ter fabricado camiões para o exército americano (durante a Guerra da Coreia) e automóveis Austin sob licença, a Nissan começou a vender os seus Datsuns nos mercados asiáticos (embora recorrendo à marca Nissan no mercado doméstico) e conseguiu implantar-se no mercado norte-americano, com argumentos similares aos da Toyota: os seus carros eram acessíveis, fiáveis e frugais nos consumos. Uma vez consolidada esta imagem, mostrou que também era capaz de produzir automóveis desportivos como o Datsun 240Z, surgido em 1969.

Datsun 240 Z

Em 1984, foi descartada a designação Datsun e todos os carros da Nissan passaram a ser designados por Nissan. Em 2013, a marca Datsun foi recuperada, mas apenas para os “mercados emergentes”, como Índia, Indonésia, Rússia e África do Sul.

Em 1999 a Nissan, que estava à beira da insolvência, estabeleceu uma parceria com a Renault, que se revelou providencial – na espectacular recuperação da Nissan foi decisiva a actuação do gestor Carlos Ghosn, que já antes tinha resgatado a Renault de sérios apuros financeiros. Ghosn ganhou a alcunha de “The Cost Killer” e foi cumulado de elogios e distinções por muitas publicações financeiras, mas esta aura de mago da gestão dissipou-se subitamente em 2018, quando foi preso pelas autoridades japonesas e acusado de desviar fundos da empresa para fins pessoais. Entretanto, a 30 de Dezembro de 2019, Ghosn fugiu do Japão, onde se encontrava sob prisão domiciliária, e procurou refúgio no Líbano (o gestor, nascido no Brasil, detém ainda as nacionalidades libanesa e francesa), alegadamente não para escapara a um sistema judicial iníquo e a uma cabala montada pela Nissan e pelo Governo japonês contra si. Embora a fuga não tenha sido realizada dentro do estojo de uma tuba, como chegou a ser noticiado, Ghosn pode agora juntar ao epíteto “O Arrasa-Custos”, o de “Rei da Evasão”.

O Nissan Leaf, lançado em 2010, é o automóvel eléctrico de maior sucesso a nível mundial

Em Portugal, os modelos Nissan com maiores vendas nos últimos anos têm sido o citadino Micra (cuja 1.ª geração data de 1983) e o SUV Qashqai (cuja 1.ª geração data de 2006). O nome do primeiro é auto-explicativo, o do segundo provém de uma tribo de pastores nómadas da Pérsia (hoje sedentarizados e a viver em território iraniano), cujo nome é também grafado como “kashkai” ou “ghashghai”. Poderá argumentar-se que Qashqai não é facilmente pronunciável e que, fora do Irão, só alguns antropólogos terão ouvido falar do povo qashqai, mas que poderia fazer a Nissan se a Volkswagen já dera o nome do único povo nómada de renome universal ao SUV Touareg?

A alusão a camelos e ovelhas trepando por veredas nas encostas escarpadas e áridas da cordilheira de Zagros torna-se irónica se atendermos a que a maioria dos condutores portugueses de Nissan Qashqai o usam sobretudo para ir às aulas de yoga e levar os miúdos à escola e a sua capacidade todo-o-terreno não será posta à prova em nada mais arriscado do que estacionar em cima do passeio.

Caravana Qashqai

Infiniti

Em 1989, tal como a Toyota, a Nissan lançou uma sub-marca de luxo, a Infiniti, destinada ao mercado internacional (só começou a ser comercializada no Japão em 2014). E como o mercado que cresce mais rapidamente no segmento do luxo é a China (o número de milionários do país subiu de 40.000 no ano 2000 para cerca de 1.5 milhões em 2019), a sede da empresa foi transferida, em 2012, de Yokohama para Hong Kong.

O seu veículo mais imponente é o SUV QX80 (uma evolução do QX56, surgido em 2004), movido por um motor de 5600 cm3, que debita 400 HP, e que tem um preço-base de 66.400 dólares (91.000 se incluir todos os extras).

Infiniti QX80

Dando mostras de uma comovente preocupação com a sustentabilidade do planeta e as alterações climáticas, a Infiniti anunciou que a partir de 2021 todos os novos modelos terão motorização eléctrica ou híbrida. Os ursos polares, os habitantes de Tuvalu e as raparigas suecas a quem roubaram a infância podem dormir descansados.

Honda

A marca deriva o nome do seu fundador, Sōichirō Honda (1906-1991), que começou vida como mecânico de carros de competição. Os inícios da Tōkai Seiki, a companhia que fundou em 1937, não foram auspiciosos: venceu um concurso para fornecer anéis de pistão à Toyota, mas a deficiente qualidade destes levou à rescisão do contrato. Teve a humildade de ir estudar os processos de controlo de qualidade da Toyota e desenvolveu um novo método de fabrico de anéis de pistão que foi capaz de satisfazer a exigência da Toyota. Durante a II Guerra Mundial, os bombardeiros americanos destruíram uma das fábricas da Tōkai Seiki e um terramoto destruiu a outra. Sem desanimar, Honda recomeçou quase do zero, com 12 empregados numa barraca de 16 m2, em Hamamatsu, agora voltado para a produção de bicicletas com motor auxiliar – estávamos em 1946 e a Honda Giken Kōgyō dava os primeiros passos.

A primeira motorizada a sério inteiramente fabricada pela Honda foi a Tipo D, surgida em 1949, e o primeiro veículo de quatro rodas foi o micro-camião T360, com motor de 356 cm3, surgido em 1963. No mesmo ano, foi lançado um mini-carro desportivo, o S500, inserido na categoria conhecida no Japão como “keijidōsha” (“automóvel ligeiro” ou “kei car”), que goza de vários benefícios no que respeita a impostos e seguros, mas cujos motores tinham um limite máximo de 360 cm3 (aumentado para 550 em 1976 e para 660 em 1990) e não podem exceder determinadas dimensões.

O primeiro automóvel de passageiros comercializado pela Honda, o S500

Por esta altura, a Honda já era o maior fabricante mundial de ciclomotores (lugar que nunca mais perdeu) e, entretanto, tornou-se no maior fabricante mundial de motores de combustão interna (14 milhões por ano) e é presentemente o 7.º maior fabricante mundial de automóveis (e o 2.º maior do Japão).

Em 2001, a Honda lançou um modelo de citadino compacto que deveria ter sido baptizado como Fitta, mas alguém se apercebeu a tempo de que em sueco essa palavra era o calão para vagina, o que, conjugado com o slogan que promovia a viatura como “pequena por fora, grande por dentro”, tornaria a Honda motivo de chacota na Suécia. O carro acabou por chamar-se Fit no mercado japonês e Jazz no resto do mundo.

Honda Jazz/Fit de 2017 (3.ª geração)

Acura

A Honda foi a primeira marca japonesa a lançar uma sub-marca de carros de luxo visando o mercado norte-americano: a Acura surgiu em 1986, três anos antes da Lexus e da Inifiniti (da Toyota e Nissan, respectivamente). Foi apresentada com o slogan “Precision crafted automobiles”, o que está em sintonia com o seu nome, que provém do latim “accuratus”, significando “feito com cuidado, com precisão” e que deu origem ao português “acurado” e ao inglês “accurate”. O logótipo remete simultaneamente para as letras “A” (de Acura) e “H” (de Honda) e para um paquímetro, um instrumento destinado a medir, com elevada precisão, a distância entre os lados opostos de um objecto (é conhecido em inglês por “caliper”, uma corrupção de “calibre”, palavra inglesa com sentido similar à palavra portuguesa homógrafa).

Paquímetro

Um dos modelos mais chamativos da marca é o Acura NSX (também comercializado como Honda NSX nalguns países), cuja 2.ª geração foi apresentada em 2015 e cujo nome do modelo provém de “New Sports eXperience. Como é usual hoje nos segmentos de luxo, para aliviar a eventual má-consciência ambiental do proprietário, o modelo apresenta-se como “híbrido”, pois combina um motor a gasolina de 500 HP e três motores eléctricos com um total de 73 HP, permitindo uma aceleração dos 0 aos 100 Km/h em 2.9 segundos. Sugerir que um veículo destes é “amigo do ambiente” (por ser híbrido) é como esperar emagrecer comendo uma salada de agrião depois de despachar 20 sandes de couratos.

O Acura NSX

Mitsubishi

O Grupo Mitsubishi é um colosso com origens numa companhia de navegação fundada em 1870, em Nagasaki, por Yatarō Iwasaki. O seu nome provém de “mitsu”, que significa três, e “hishi” (que, em certas circunstâncias, se pronuncia “bishi”), que designa a castanha-de-água, fruto (muito usado na culinária oriental) de várias espécies aquáticas do género Trapa (sobretudo Trapa natans), cujas folhas flutuantes têm uma forma rombóide – são elas, em forma estilizada, que formam o logótipo da Mitsubishi (quem não conheça esta origem, mais facilmente o lerá como três diamantes).

Roseta de Trapa sp.

A Mitsubishi surgiu dois anos depois da Restauração Meiji e foi decisiva nas mudanças vertiginosas deste período histórico que catapultaram a economia japonesa da Idade Média para a linha da frente da Revolução Industrial. A empresa começou por expandir-se às áreas complementares da extracção de carvão, construção naval e seguros de navegação marítima, mas acabou por se envolver em praticamente todos os sectores da economia: banca, logística, imobiliário, papel, vidro, aço, petróleo, fabrico de motores, aviões e, claro, automóveis.

Em 1917, o ramo de construção naval da Mitsubishi apresentou o luxuoso Modelo A, inspirado no Fiat Tipo 3, que não só foi o primeiro carro sob a designação Mitsubishi como foi o primeiro carro a ser produzido em série em território japonês (ainda que dele só tenham sido fabricadas 21 unidades).

As Indústrias Pesadas Mitsubishi, criadas em 1934, tiveram papel fundamental no armamento do Império Japonês, construindo alguns dos seus mais temíveis e modernos vasos de guerra e fabricando dezenas de milhares de aviões de combate – entre eles o célebre caça Mitsubishi A6M Zero, que foi o cavalo de batalha da aviação naval nipónica na II Guerra Mundial e do qual foram produzidas 10.939 unidades.

Mitsubishi A6M3 Zero

Após a derrota do Japão, os Aliados impuseram a dissolução do Grupo Mitsubishi e impediram que as suas numerosas subsidiárias voltassem a colaborar ou a usar a designação Mitsubishi. Esta determinação só durou até ao início da Guerra da Coreia, em 1952, pois esta fez os ocupantes perceberem que a contenção do comunismo requeria um Japão forte e próspero. Em 1949, a Mitsubishi retomou a produção de camiões e autocarros, sob a égide da marca Fuso (a partir da palavra chinesa “fusang”, com o significado de árvore sagrada que cresce no ponto em que o sol nasce e que por vezes é identificada com o hibisco), mas a produção automóvel só foi reactivada em 1960, com o modesto Mitsubishi 500, dotado de um motor de 493 cm3 e 21 HP.

Mitsubishi 500

A imagem da Mitsubishi como fabricante de carros começou a sério com o Colt, cuja primeira versão surgiu em 1962 e que passou por seis gerações até à sua extinção em 2013 – a que se somam as três gerações de Colt Plus produzidas exclusivamente para o mercado chinês, que mantêm o nome “vivo” 58 anos depois da sua primeira aparição. A designação não alude à marca de revólveres celebrizada pelos westerns, mas à palavra inglesa para potro.

Havendo na coudelaria da Mitsubishi um potro, um Lancer (lanceiro, isto é, um soldado de cavalaria armado de lança) e um Eclipse (baptizado com o nome de um famoso puro-sangue de corrida que venceu 18 provas na Grã-Bretanha do século XVIII), seria natural que se lhes juntasse um Stallion (garanhão), mas como os japoneses confundem os sons “r” e “l” (o primeiro existe numa forma suave e o segundo está ausente da sua fonética), um equívoco numa conversação telefónica (reza a lenda) terá gerado o Mitsubishi Starion. A Mitsubishi, embora confirme o pendor equino do nome Starion, alega que resultou da combinação de “star” e “Arion”, o cavalo de Hércules na mitologia clássica, o que mais parece uma justificação arranjada a posteriori para disfarçar o mal-entendido.

O Eclipse, por George Stubbs (1724-1806)

Um modelo da Mitsubishi que se tornou emblemático, com longa vida e numerosos sucessos em competições desportivas é o Pajero, um veículo todo-o-terreno cuja primeira versão foi comercializada em 1982 e que, só no período 2001-2005, coleccionou cinco vitórias e 12 lugares no pódio (em 15 possíveis) no Paris-Dakar.

O nome do Pajero provém de Leopardus pajeros, o nome científico atribuído a um pequeno felino sul-americano, o gato-das-pampas ou gato-palheiro, que não é reconhecido como espécie por muitos taxonomistas, que entendem que o gato-das-pampas é o Leopardus colocola e que o L. braccatus e o L. pajeros são meras sub-espécies daquela. O gato, que se assemelha a um gato doméstico um pouco mais corpulento, terá recebido a designação “pajero” por ocorrer, do Peru ao sul do Chile e Argentina, em habitats de pampas e pradarias dominadas por plantas herbáceas genericamente designadas por “pajas” (palhas), o que leva a que seja também conhecido, em espanhol, por “gato de los pajonales”. Acontece que no calão de Espanha e da América hispanófona, “pajero” designa os que têm o vício da masturbação, pelo que, a partir da 3.ª geração, a Mitsubishi rebaptizou o veículo como Montero nesses mercados. Embora “pajero” não tenha conotações negativas em inglês, o modelo tem sido comercializado na Grã-Bretanha como Shogun, a partir da palavra japonesa que designava o senhor feudal que, na prática, governou o Japão (relegando o imperador para um papel meramente decorativo) entre 1185 e a Restauração Meiji, em 1868.

Gato-das-pampas

Um dos modelos da Mitsubishi que teve mais longa vida no mercado japonês foi o Minica, um “kei car” com nome auto-explicativo que surgiu em 1962 e foi produzido até 2011, passando por oito gerações (que registaram um apreciável incremento de potência, conforto e funcionalidade). Por altura da 6.ª geração, em 1989, surgiu uma variante assimétrica, com uma porta do lado do condutor (que no Japão é à direita) e duas portas do lado do “pendura”, que foi baptizada como Minica Lettuce (“alface”, em inglês), talvez por ter sido desenvolvida em cooperação com a cadeia de supermercados Seiyu (que, aliás, também comercializava o carro, quiçá na secção de frescos). Atendendo à irreprimível paixão vegan que hoje toma conta do mundo, poderá ser uma designação a recuperar.

O Mitsubishi Minica Lettuce: Um carro “verde” avant la lettre?

Outra variante do Mitsubishi Minica foi o Toppo, produzido entre 1990 e 2004 e entre 2008-2013, e que a partir de 1998 foi designado como Mitsubishi Toppo. Se Toppo, do italiano “topo”=“rato” (ver De onde vêm os nomes das marcas de automóveis? Parte 3: Itália), se adequa a um micro-carro de rodas minúsculas e contornos arredondados, é difícil perceber o que terá levado os marqueteiros a designar uma versão como Toppo Guppy: ratos e peixes de aquário são uma mistura tão contra natura e indigesta quanto tigres e iguanas (ver De onde vêm os nomes das marcas de automóveis? Parte 2: Alemanha).

Mitsubishi Toppo Guppy

A produção de automóveis da Mitsubishi Heavy Industries ganhou estatuto de semi-autonomia em 1970, sob a designação Mitsubishi Motors, que conheceu um período de pujança até às crises económicas no japão e no Sudeste Asiático na década de 1990. O início do século XXI trouxe ainda mais problemas à Mitsubishi Motors, com a admissão, em 2004, de que marca tinha vindo a encobrir defeitos de fabrico nos seus carros, e com o fiasco de uma arriscada estratégia de financiamento para aquisição de Mitsubishis destinada a suster o declínio de vendas no mercado dos EUA. As perdas foram avolumando-se e a Mitsubishi Motors viu-se forçada a encerrar as suas fábricas na Austrália (em 2008), na Europa Ocidental (em 2012) e nos EUA (em 2015) e a retirar-se de vários mercados (nomeadamente o do Reino Unido). Em 2016, a Nissan adquiriu uma participação de 34% da Mitsubishi Motors e assumiu o seu controlo, pelo que a marca Mitsubishi faz hoje parte do grupo Nissan-Renault.

Suzuki

Tal como acontece com a Toyota, os primórdios da Suzuki estão numa pequena fábrica de teares fundada na viragem dos séculos XIX/XX. E, tal como Sakichi Toyoda, Michio Suzuki (1887-1982) tinha origens humildes e começou por ser aprendiz de carpinteiro, utilizando os conhecimentos nesta área para dar contributos ao desenvolvimento de teares mecânicos mais eficientes, que começou a produzir numa fábrica que fundou em 1909.

O sucesso e expansão internacional deste negócio não o impediu de começar a interessar-se pelo fabrico de automóveis, mas a entrada do Japão na II Guerra Mundial levou a que a produção industrial fosse completamente reorientada para a produção de material bélico. No pós-guerra, Suzuki retomou o fabrico de teares, até que uma crise no mercado do algodão fez cair a procura de teares e deu ensejo a que retomasse os seus planos para construir veículos: as bicicletas com motor auxiliar de 36 cm3 que lançou em 1952 tornaram-se num sucesso e em 1955 apresentou o seu primeiro automóvel, o Suzulight SL.

Suzulight SL de 1957

Os primeiros modelos da Suzuki foram comercializados sob a designação Suzulight e só em 1969 seria adoptado o nome Suzuki, que diga-se de passagem, é o 2.º apelido mais comum no Japão, depois de Satō, o que não lhe confere grande apelo comercial no mercado doméstico (seria como um carro português chamar-se Santos). Estes modelos dos anos 50-60 eram, como os seus contemporâneos da Mitsubishi, Honda, Daihatsu e Mazda, de pequena dimensão e tinham motores pouco potentes, caindo frequentemente na categoria de “kei car” – a Suzuki dominou este segmento de mercado durante 34 anos, entre 1973 e 2007, o que muito contribuiu para que a marca atingisse em 2010 um total acumulado de 20 milhões de carros vendidos no Japão desde o lançamento do primeiro Suzulight, em 1952.

Entretanto, a partir do início dos anos 60, as motos Suzuki começaram a impor-se nas competições desportivas internacionais e em 1967 a Suzuki abriu a sua primeira fábrica de motos no estrangeiro, na Tailândia.

Os “kei car” dos primórdios e os modelos económicos com que a Suzuki entrou nos mercados da Europa e EUA ganharam a companhia de modelos mais sofisticados, como o SX4, um SUV compacto realizado em colaboração com a Fiat e lançado em 2006, que serviu de base ao SX4 WRC que competiu em 2007 e 2008 no Campeonato Mundial de Rallies, uma máquina com um motor de 320 HP.

WRC Rally Of Turkey and Shakedown

Suzuki SX4 WRC, conduzido por Toni Gardmeister, no Rally da Turquia, 2008

A Suzuki ocupa actualmente o 11.º lugar entre os maiores fabricantes de automóveis e o 7.º entre os fabricantes de motos. Fora do Japão, a principal implantação da Suzuki é nos países “emergentes”, sobretudo no Sul e Sudeste da Ásia. A direcção da empresa está nas mãos de Osamu Suzuki, que se casou com a bisneta do fundador, Michio Suzuki, e foi adoptado pelo seu antecessor, que não tinha descendentes masculinos – sendo esta uma prática frequente no mundo empresarial japonês, o que é insólito é que já é a quarta vez que tal acontece desde o início da empresa.

Mazda

Os primórdios da Mazda estão num produto que nada tem de japonês e que os portugueses conhecem bem: a cortiça. A firma Tōyō Koruku Kōgyō, fundada em 1920 em Hiroshima, produzia cortiça artificial (“koruku” é a palavra japonesa para cortiça, a partir do inglês “cork”), mas quando a procura por este material caiu, teve de mudar de ramo: em 1931 começou a fabricar o Mazda-Go, um “auto-riquexó” de três rodas com motor de 482 cm3 e 9 HP, que, durante 14 anos, foi o seu único produto nesta área.

Mazda-Go

Entretanto, em 1927, o nome da empresa fora alterado para Tōyō Kōgyō, uma vez que o negócio da cortiça se tornara secundário. Em 1921, o empresário Jujiro Matsuda (1875-1952) assumira a direcção da empresa, cargo que manteria até à sua morte, sucedendo-lhe o filho adoptivo, Tsuneji.

Jujiro Matsuda

A devastação causada pelo lançamento da bomba atómica em Hiroshima levou a que a recuperação da actividade da empresa fosse lenta (apesar de a sua fábrica ter escapado com poucos danos) e apenas em 1960 surgiu o primeiro modelo de automóvel de passageiros da Mazda, o minúsculo R360.

Mazda R360

Por esta altura, a Mazda começou a interessar-se pelo motor rotativo, inventado em 1929 na Alemanha, por Felix Wankel, uma solução conceptualmente mais elegante e potencialmente mais eficiente, leve e compacta (e mais gulosa por combustível) do que o convencional motor de pistões, mas que, até então, apenas atraíra a atenção da NSU. Foi a Mazda a marca que mais investiu no desenvolvimento do motor rotativo, aplicando-o a muitos dos seus modelos, a começar pelo Cosmo, surgido em 1967.

Esquema de funcionamento do motor rotativo Wankel

Em 1974, a Ford entrou no capital da Mazda e chegou a deter 1/3 da empresa, mas depois tomou o caminho inverso, acabando por vender as suas derradeiras participações em 2015. Actualmente a Mazda é o 5.º maior construtor japonês e o 17.º a nível mundial.

O seu nome remete simultaneamente para o apelido do seu primeiro homem forte – a pronúncia japonesa de Matsuda soa como “mátsdá” – e para Ahura Mazda, deus persa da luz e figura central do Zoroastrianismo (em persa clássico, “ahura” significa “senhor” e “mazda” “sabedoria”). O logótipo da Mazda sofreu alterações substanciais desde 1935 e o que está hoje em uso, introduzido em 1997, terá sido inspirado pelas asas abertas de um mocho, ao mesmo tempo que desenha a letra “M”. Durante algum tempo a Mazda comercializou automóveis sob outras designações, apontadas a diferentes segmentos de mercado: os modelos de gama baixa com a Autozam (1989-98), os de gama média com a Eunos (1989-96) e a “divisão de luxo” com a εfini (1991-97), que deveria ser lida como a palavra francesa “infini” (infinito).

Relief detail depicting the Zoroastrian god Ahuramazda Ancient Persian/ Achaemenian

Ahura Mazda, num relevo do século V a.C., Persépolis, Irão

O Mazda Laputa (uma versão do Suzuki Kei) foi fabricado entre 1999 e 2006, mas não foi comercializado nos países hispanófonos, o que poupou alguns embaraços. O nome tinha porém, uma origem respeitável: o livro As viagens de Gulliver (Gulliver’s travels or Travels into several remote nations of the world, de 1726), da autoria de Jonathan Swift. Laputa é uma ilha voadora cujos habitantes nutrem forte interesse por música, matemática e astronomia, embora destas artes e ciências pouco proveito ou aplicação retirem. Se Laputa não é seguramente uma boa escolha para baptizar um automóvel, os nomes dos outros reinos visitados por Gulliver no Tomo IV do relato das suas viagens – o que inclui Laputa – seriam ainda piores: Balnibarbi, Luggnagg e Glubbdubdrib.

Gulliver depara-se pela primeira vez com a ilha voadora de Laputa, ilustração de J.J. Grandville, pseudónimo de Jean Ignace Isidore Gérard (1803-1847)

Isuzu

A Isuzu tem origem numa colaboração de duas empresas que, em 1918, negociaram com a marca britânica Wolseley o fabrico dos seus modelos sob licença – o primeiro deles, o A9, veria a luz do dia quatro anos depois. A marca Isuzu só surgiria em 1934 e provém do nome do Rio Isuzu, que significa “cinquenta sinos dobrando em harmonia e regozijo” (o japonês pode ser uma língua muito sintética). A empresa – que passou também a chamar-se Isuzu a partir de 1949 – fabricou Hillmans sob licença nos anos 50, antes de, em 1961, lançar o seu primeiro automóvel original, o Bellel (um nome que remete para os “sinos” aludidos no nome da marca).

Isuzu Bellel de 1964

Nas actividades da Isuzu os automóveis de passageiros têm sido secundários face aos camiões (de que foi o 1.º fabricante mundial em 2004 e 2005), pickups, autocarros e motores para diversos fins (geradores, cortadores de relva, motores fora de borda).

Em 1989 a marca apresentou o Isuzu MU (Amigo e, mais tarde, Rodeo no mercado norte-americano; Alterra nas Filipinas), um SUV de tamanho médio, sob cuja designação aparentemente neutra se esconde uma das maiores bizarrias da nomenclatura automóvel: MU são as iniciais de Mysterious Utility (o que sugere que ainda ninguém descobriu uma utilidade para ele). A Isuzu tentou emendar a mão em 1998, quando a 2.ª geração do carro foi baptizada como Wizard, mas nalguns mercados o carro passou a ser conhecido por Mysterious Utility Wizard, o que soa ainda mais disparatado.

Isuzu Mysterious Utility Wizard : Se há carros que ficaram associados a James Bond – como o Aston Martin DB5 – não terá Harry Potter também direito a um?

Subaru

As origens da Subaru remontam a uma fábrica de aviões fundada em 1915 por Chikuhei Nakajima, que, em 1932 foi reestruturada e se tornou num dos principais fabricantes japoneses de aviões de combate. No final da II Guerra Mundial, a empresa foi remodelada: passou a chamar-se Fuji Sangyo e lançou a scooter Rabbit, cujo fabrico aproveitava os stocks de peças de aviões de combate que tinham sobrado do período de conflito. A Fuji Sangyo foi desmembrada em dez companhias, das quais cinco voltaram a juntar-se, sob o nome de Indústrias Pesadas Fuji, que, em 1954, apresentaram o seu primeiro automóvel, o Subaru 1500, com motor de 1500 cm3, de que apenas foram produzidas 20 unidades.

Subaru 1500

O primeiro Subaru a ser produzido em massa foi o 360, um “kei car”, com motor de 356 cm3 debitando 16 HP, surgido em 1958 e cuja produção se estendeu até 1971. Será em vão que se procurarão semelhanças entre este brinquedo e o Subaru Impreza WRC com mais de 300 HP que conquistou 46 vitórias e cinco títulos no Campeonato Mundial de Rallies (três por marcas, dois por pilotos) na viragem dos séculos XX/XXI. O nome Impreza (que os japoneses pronunciam como “inpuressa”) é uma adaptação do italiano “impresa”, com o sentido de “cometimento”, “empreendimento”, “tarefa”.

Subaru 360

A palavra “subaru” designa, em japonês, o conceito de “unidade” e também a constelação das Plêiades, que é aludida no logótipo da marca, onde está representada uma estrela maior e cinco estrelas mais pequenas – as cinco companhias que se uniram em 1954. Na verdade, a escolha do número cinco é arbitrária, já que as Plêiades têm cerca de um milhar de estrelas, das quais 14 são visíveis a olho nu e nove são particularmente brilhantes, sendo que, destas nove, os gregos antigos identificaram duas delas com o titã Atlas e a ninfa Pleione e as restantes sete como as filhas deste par, daí que sejam conhecidas como “As Sete Irmãs”. Esta constelação desempenhava importante papel na orientação dos marinheiros, o que está patente no seu nome, que provém do grego “plein”, que significa “navegar”.

A constelação das Plêiades

Em 1978, a Subaru lançou a pickup Brat, especialmente concebida para o mercado norte-americano, a pedido da Subaru America. Se a Subaru terá gasto algum tempo a meditar nas especificações e nas melhores soluções técnicas para este modelo, não parece ter meditado maduramente no nome: embora este seja, supostamente, o acrónimo de Bi-drive Recreational All-Terrain Transporter, “brat” significa “fedelho” em inglês. Sensatamente, o modelo foi comercializado na Grã-Bretanha como Subaru 284 e na Austrália como Subaru Brumby.

Daihatsu

Tem origem remota numa empresa fundada em 1907, a Hatsudoki Seizo, vocacionada para o fabrico de motores e associada ao departamento de engenharia da Universidade de Ōsaka. Só na década de 30 iniciou o fabrico de pequenos veículos de carga de três rodas, de que não se desviaria nas décadas seguintes. Só em 1951 assumiu o nome Daihatsu, que resulta da junção de caracteres kanji com o significado de “Ōsaka” e “fabrico de motores”, e apresentou o seu primeiro veículo de passageiros, o Bee, um “kei car” de três rodas.

Daihatsu Bee

No domínio dos triciclos de carga, um dos seus modelos mais longevos foi o apropriadamente designado Midget (“anão”), que esteve em produção entre 1957 e 1972 (o nome ressurgiu em 1996 como micro-veículo comercial de quatro rodas).

Daihatsu Midget de 1957

Em 1967 a Toyota tornou-se no accionista maioritário da Daihatsu e foi aumentando pouco a pouco a participação, até que em 2016 adquiriu a empresa na íntegra. Embora tenha diversificado a sua gama (também tem SUVs), 90% desta continua a ser de veículos com cilindrada inferior a 660 cm3 (kei cars, kei trucks e microvans).

Entre os seus “kei cars” está o Naked, de estética assumidamente despojada e pouco refinada e tracção às quatro rodas (vá lá perceber-se para quê, dado que a reduzidíssima altura ao solo o incapacita para transitar fora do alcatrão) produzido entre 1999 e 2004 e vocacionado para o mercado japonês, onde talvez o nome não soe tão infeliz. Quem sabe, terá sido assim baptizado para seduzir adeptos do naturismo…

Daihatsu Naked

Hino

Teve origem numa empresa fundada em 1910, assumiu o nome Hino pela primeira vez em 1942 e, embora esteja hoje associada exclusivamente a camiões, autocarros e veículos comerciais – é o maior fabricante de camiões médios e pesado da Ásia – já produziu automóveis de passageiros. Começou por fabricar o Renault 4CV sob licença, a partir de 1953, e em 1961 estreou-se com um modelo próprio, o Contessa, mas a produção de veículos de passageiros cessou quando foi adquirida pelo grupo Toyota, em 1967.

Hino Contessa de 1961

O nome da marca provém do local onde tem sede: Hino, uma cidade-dormitório de 185.000 habitantes na Área Metropolitana de Tóquio.