Hoje discute-se mais abertamente as doenças do foro mental – sobretudo a depressão – do que em qualquer outro período da história. E isso é bom. No entanto, continua a discutir-se menos do que se deveria. Continua a haver um estigma, um olhar muitas vezes julgador sobre quem sofre. Continua a confundir-se a depressão com alguns dos seus sintomas, como a tristeza ou a apatia, desvalorizando-a.
Luís Oliveira, neuropsicólogo e vice-presidente da Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares (ADEB), relaciona a pandemia com um certo abrir de olhos da população em geral para as doenças do foro mental. “As pessoas viram as suas vidas ameaçadas, uma parte muito significativa da sociedade foi forçada a experienciar de forma muito intensa, e durante um longo período de tempo, um conjunto de emoções como o medo, a tristeza e aversão, dando origem a mal-estar, tensão e sofrimento, algo que é frequente acontecer nas pessoas que têm doenças crónicas e sofrem de perturbações do humor, como a depressão ou doença bipolar quando estão doentes. No fundo foi o que aconteceu, as pessoas tomaram a dor e o lugar do outro, o outro que habitualmente sofre de doença mental”.
A Associação da qual é dirigente existe há 31 anos e disponibiliza um conjunto de serviços para os doentes depressivos e bipolares: linha de apoio SOS, apoio psicológico individual, grupos psicoeducativos para pessoas com diagnóstico e as suas famílias, grupos de gestão de stress e ansiedade, grupos de autoajuda e de prática de atividade física, poesia, prosa, música, teatro, pintura, desenho e fotografia, como formas de reabilitação.
A situação, reconhece Luís Oliveira, está hoje bem melhor do que quando a ADEB foi criada. “Existe muito mais informação validada cientificamente. As novas gerações estão mais bem informadas. Também se nota uma melhor preparação dos técnicos de saúde e pessoal médico especializado para lidarem com as problemáticas associadas à doença mental.”
Ainda assim, os desafios continuam a ser enormes. “Existem grandes assimetrias a nível nacional. As pessoas com rendimentos mais baixos têm muito mais dificuldade no acesso a cuidados de saúde de qualidade. A questão da empregabilidade e baixos rendimentos, é uma das questões mais delicadas, pois nas formas mais graves da doença a sociedade não tem soluções para estas problemáticas, dando origem a situações de pobreza e exclusão social.”
O apoio que a ADEB oferece estende-se também à área social e à empregabilidade. Mas, como é natural, não consegue chegar a todos os casos. Daí que seja fulcral continuar a melhorar a rede de apoio que existe para estes doentes, sobretudo ao nível dos cuidados de saúde primários. Luís Oliveira deixa algumas sugestões: “É necessária formação contínua, dos técnicos e pessoal médico especializado, em relação às problemáticas associadas às doenças mentais. Seria muito importante reforçar o número de psicólogos nas equipas, por forma a poderem efetuar rastreios e detetar presença inicial de psicopatologia (depressão, ansiedade, e estados psicóticos), para não deixar evoluir os casos para situações limite. Seria ainda muito importante criar grupos psicoeducativos e de autoajuda. A eficácia destes grupos está cientificamente comprovada: são mais eficazes, e têm um custo muito inferior ao acompanhamento individual. O uso das novas tecnologias, como as teleconsultas, também são uma ferramenta muito importante no combate a algumas das problemáticas da doença mental”.
Mesmo com todas estas ferramentas, Luís Oliveira reconhece que “o estigma e o autoestigma dificilmente irão acabar”. Ao mesmo tempo aponta o único caminho possível para tornar a doença mais compreendida e aceite pela sociedade é “educar, educar e continuar a educar: em casa, nos infantários e em todo o ciclo de vida”. Por outro lado, “deveriam existir muito mais pessoas a dar a cara, pela causa da doença mental, e depois fazer algo realmente de concreto e trabalhar no terreno com as instituições e sociedade em geral”.
Neste sentido, o neuropsicólogo explica que “existe um trabalho muito grande a fazer, ao nível da informação que passa por distinguir a doença da pessoa e da sua personalidade, a pessoa é a pessoa e a doença é a doença. Por norma a sociedade acha que a pessoa é a doença. Não é a doença que determina o caráter da pessoa. Existem pessoas que sofrem de doença mental e são ótimas pessoas e a inversa também é verdadeira”.
Ora, para esse processo de educação ser bem-sucedido, é preciso quebrar o tabu que ainda subsiste. Trazer o assunto à baila de diversas formas, em diversas plataformas, com uma abordagem inovadora. E é isso que a Angelini Pharma Portugal está a procurar fazer com a sua campanha “VIVA! Para lá da Depressão”. Focando-se na superação da doença, em vez dos seus aspetos negativos, vai reunir vários especialistas de renome em diversas áreas, da psiquiatria ao desporto que, em podcasts e vídeos, vão partilhar conselhos práticos e testemunhos. Falamos, por exemplo, dos psiquiatras Daniel Sampaio, Pedro Morgado e Manuel Esteves, este último especializado em sexologia; do campeão olímpico Nélson Évora e do antigo atleta paraolímpico Bento Amaral; de João Marques, Presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia, de Pedro Almeida, psicólogo do desporto e da performance, de Susana Corte Real e José Pedro Antunes, especialistas em medicina geral e familiar, e de Conceição Calhau, Professora Catedrática na NOVA Medical School, entre outros.
Conheça o projeto "ViVA! Para lá da depressão"
↓ Mostrar
↑ Esconder
A campanha
Andrea Zanetti, General Manager da Angelini Pharma Portugal, explica que a campanha nasceu com o propósito de quebrar o estigma associado à doença mental, de uma forma positiva e diferenciadora, promovendo a literacia da população sobre o tema. “A ideia surgiu do facto de a saúde mental ter cada vez mais impacto na população em geral, fruto do efeito psicológico da pandemia e de outros fatores externos que vieram impactar a vida de todos nós. Por outro lado, a Angelini Pharma tem a ambição de ser líder na batalha contra a depressão, enquanto empresa dedicada a promover o bem-estar e a saúde mental, assim como contribuir para a qualidade de vida da população.”
Os conteúdos
Com esta campanha, os portugueses têm livre acesso a podcasts, vídeos e artigos, centrados em temas generalistas relacionados com a depressão e outros mais específicos para cada fase da vida. “Estes conteúdos estão cientificamente validados e utilizam uma linguagem acessível, tendo sido criados com o contributo de especialistas de renome, nas suas áreas de especialidade: psicologia, psiquiatria, cuidados de saúde primários, assim como nutrição e exercício físico, enquanto áreas complementares essenciais para o sucesso da superação da depressão. Além de relatos sobre sinais de alerta e conselhos práticos para promover o bem-estar e a saúde mental, há também testemunhos reais de superação contados na primeira pessoa”, esclarece Andrea Zanetti.
A campanha anterior
Lançada em 2021 em parceria com a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, a campanha de sensibilização “Compreender a Depressão”, dirigida à população em geral, foi um sucesso, chegando a cerca de meio milhão de portugueses. A iniciativa abordava igualmente a saúde mental e a doença mental, focando-se nas várias vertentes da doença depressiva. O objetivo passava por desmistificar e esclarecer pedagogicamente a patologia, alertando para os sinais de alerta e partilhando conselhos relativos à procura/pedido de ajuda. “Esperamos que a campanha ‘Viva! Para lá da depressão’ seja também um sucesso, tornando-se verdadeiramente útil à população”, afirma o responsável pela Angelini Pharma Portugal.
Mas se importa discutir a depressão, importa também, em primeiro lugar, compreendê-la.
Afinal, o que é a depressão?
O professor e psiquiatra Pedro Morgado explica-nos que “a depressão é uma doença psiquiátrica que se caracteriza pela presença de humor deprimido, anedonia, falta de energia, pensamentos pessimistas e muitos outros sintomas que variam de pessoa para pessoa e que incluem alterações do sono e do apetite ou dor”. O humor deprimido que refere é a designação dada à alteração emocional mais associada à doença, que faz predominar a tristeza. “É uma tristeza patológica que contamina todas as dimensões da vida”, explica.
Confunde-se muitas vezes a depressão com um estado de tristeza passageiro. Quantas vezes já se terá dito a alguém que sofre de depressão: “Sai de casa, vai divertir-te que isso passa”. Há que saber distinguir a tristeza normal da tristeza patológica. Na depressão, esses sentimentos manifestam-se de tal forma que a pessoa pode perder a esperança na vida e no futuro, surgindo, por vezes, pensamentos de morte e de suicídio. “A tristeza é uma emoção normal que faz parte das nossas vidas saudáveis, mas, ao contrário da tristeza normal, a tristeza patológica tem uma dimensão e uma duração que não são adequadas em relação às circunstâncias que a provocaram, dominando toda a vivência da pessoa”, distingue Pedro Morgado.
Como é que surge a depressão?
Parece quase um paradoxo, mas pessoas aparentemente saudáveis, com uma vida aparentemente feliz, podem sofrer de depressão. Isto porque a doença pode surgir pela conjugação de diferentes fatores. “Fatores genéticos (hereditários) e fatores ambientais”, afirma Pedro Morgado, que enumera os principais fatores de risco: “As experiências traumáticas, os eventos de vida negativos, o stress crónico, as doenças crónicas, o uso de álcool e outras drogas e a inexistência de uma rede de suporte familiar e/ou social.”
Ou seja, é uma doença heterogénea, que se apresenta de formas muito diversas, logo após situações de vida negativas ou mesmo sem qualquer causa aparente. Tanto pode manifestar-se por uma maior “inibição, lentificação e melancolia”, como por “sintomas psicóticos, como delírios ou alucinações”, ou até ter “características mistas, incorporando sintomas de diferentes naturezas”, explica o professor e psiquiatra no Hospital de Braga.
Por outro lado, acrescenta, também existem fatores protetores da depressão. É o caso “dos estilos de vida saudáveis, incluindo os hábitos de sono, alimentação e atividade desportiva.”
Principais sintomas da depressão
Como se cura a depressão?
A depressão pode, em alguns casos, não se curar, mas pode sempre tratar-se. “Praticamente todas as pessoas melhoram muito significativamente com o tratamento e, na maior parte das vezes, é possível eliminar os sintomas depressivos com o tratamento atempado e adequado”, assegura Pedro Morgado.
Quando se fala em tratamento fala-se em medicação adequada, sobretudo os chamados antidepressivos e a psicoterapia, que funcionam melhor em conjunto do que isoladamente. Nos casos em que os sintomas permanecem, existem outras formas de tratamento disponíveis e com bons resultados, como a electroconsulsivoterapia, também conhecida pela sigla ECT.
Mas para tratar a depressão é preciso reconhecê-la. E, muitas vezes, são os próprios doentes a não reconhecer a doença e a afastar a necessidade de se tratar. Nesses casos, segundo Pedro Morgado, “é necessário incentivar uma cultura de partilha segura das emoções, em que falamos sem problemas daquilo que sentimos em cada momento”. Ou seja, aprofunda o especialista, “se em algum momento nos apercebermos de que alguém próximo está permanentemente mais triste que o habitual, que se isola, que mudou de hábitos e comportamentos, que tem problemas de sono ou apetite ou que se emociona com maior facilidade devemos falar-lhe abertamente sobre isso e oferecer a nossa ajuda para falar e procurar apoio especializado”.
Uma depressão não tratada pode ter consequências muito graves. Não só nos casos em que os pensamentos suicidas estão mais presentes, mas também na evolução de outras doenças, sejam elas autoimunes, respiratórias, cardiovasculares, endocrinológicas ou oncológicas.
Para aceder aos conteúdos ou saber mais sobre a campanha da Angelini Pharma Portugal “VIVA! Para além da depressão” visite o website www.vivaparaladadepressao.pt.
Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.
Uma parceria com:
Com a colaboração de: