Este artigo foi escrito originalmente a 9 de janeiro de 2016 e é republicado agora para ajudar a perceber a crise diplomática que opõe a Arábia Saudita (sunita) e outros países ao Catar (acusado de se aproximar do Irão xiita).
Uma divisão de com 14 séculos no Islão renasceu e está a ser usada para fundamentar e intensificar uma autêntica guerra pelo poder no Médio Oriente. A tensão entre os dois maiores ramos do Islão, o sunismo e o xiismo, está a ser usada pelas duas maiores potências regionais para promover interesses nacionais e geoestratégicos, aumentando a tensão e a violência entre duas formas de viver o islamismo que nunca estiveram de acordo.
O Irão e a Arábia Saudita voltaram a pegar-se, agora devido à execução de um clérigo xiita pelos sauditas e pelo consequente ataque à embaixada saudita no Irão. A relação historicamente conflituosa entre as duas maiores potências da região está a ser potenciada pela divisão religiosa profunda entre estes dois regimes, que ambos estão a usar a seu favor para recrutar aliados e ganhar poder na região. A revolução islâmica no Irão (1979) fez renascer essas tensões. A segunda Guerra do Golfo (2003) e a Primavera Árabe (2011) marcaram o uso cada vez mais estratégico dessas mesmas tensões para defender os interesses políticos e estratégicos.
A luta pelo poder tornou-se, assim, cada vez mais um jogo do gato e do rato, onde ambos querem ser o gato. O apoio da Arábia Saudita a um grupo sunita num país leva o Irão quase automaticamente a apoiar a sua contraparte xiita, e vice-versa. O resultado tem sido um vasto leque de guerras por procuração na região e um tom de confrontação cada vez mais elevado.
O conflito religioso pode não ser a razão pela qual o Médio Oriente está num conflito sem precedentes, mas é fundamental para o entender e para uma eventual solução. Sem uma redução da tensão entre os dois maiores ramos do Islão, não haverá paz na região.
A origem do conflito
Na sua origem, o conflito entre sunitas e xiitas é acima de tudo um conflito pela sucessão do profeta. Maomé uniu o mundo árabe, antes um conjunto de tribos beduínas que professavam a vários deuses, mas na altura da sua morte, em 632, não deixou um sucessor. Maomé não tinha um filho homem e não deixou indicações de como deveria ser feita a passagem de testemunho.
O resultado foi o reacender de antigas inimizades entre a comunidade muçulmana de Medina, na altura dividida em quatro grupos. Sem indicações, a sucessão recaiu sobre Abu Bakr, que se tornou califa, um dos primeiros convertidos ao Islão, e dos companheiros mais próximos do profeta. A escolha não foi bem recebida, especialmente entre os partidários do primo e genro de Maomé (era casado com a sua filha Fatima), Ali Ibn Abi Talib.
As três escolas da teologia xiita (mais os alauitas)
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Na teologia xiita existem três ramos principais, com a principal a deter grande parte do relevo:
Os xiitas dos doze imãs: é o maior e mais conhecido grupo dentro do xiismo. Os seus seguidores seguem a linha dos doze imãs sucessivos, acreditando que o último imã ainda estaria vivo apesar de escondido desde 874, e que o último dos imãs, Muhammad al-Mahdi, “O Guia”, ainda é capaz de enviar mensagens ocultas aos fieis escolhidos. Alguns dos xiitas iranianos acreditam que o ayatollah Khomeini, o líder da revolução islâmica no Irão em 1979, teria recebido inspiração do último imã. Os doze imãs são considerados sucessores diretos corporais e espirituais do profeta Maomé.
Zaiditas: um ramo que deriva dos seguidores dos imãs, que partiu a linha no quinto imã. A maioria dos xiitas acredita que o quinto imã legítimo era Muhammad al-Baquir, filho de Ali e neto de Hussein, mas a minoria que viria a ser zaidista, reconheceu antes o seu irmão, Zayd bin Ali. Esta seita está praticamente limitada a uma minoria no Iémen e acredita que o verdadeiro xiita é qualquer muçulmano que siga as regras dos descendentes de Ali e Fatima (filha de Maomé), seja culto, piedoso e ativo politicamente.
Os xiitas dos sete imãs (ismaelitas): estão concentrados especialmente na diáspora, e acreditam que o último imã foi Ismael, o sétimo imã, que se terá ocultado no século XVIII. A teologia dos ismaelitas centra-se numa teoria cíclica histórica em torno do número 7 e consideram necessário distinguir entre os conteúdos eternamente válidos do Corão e os que se referem a um horizonte temporal condicionado. Para os ismaelitas, só os conteúdos eternamente válidos são obrigatórios.
O califado de Abu Bakr foi curto, de apenas dois anos, e tumultuoso. Abu Bakr teve nas suas mãos a difícil tarefa de recuperar as tribos que tinham abandonado o Islão com a morte do profeta e de acalmar os que entendiam que não lhe deviam lealdade. Com a unificação da Arábia concluída, seguiram-se mais dois califados, ambos de curta duração, na mesma linha, mas orientados para a expansão. Umar ibn al-Khattab foi escolhido por Abu Bakr para o suceder e durante o seu califado o Islão conquistou Damasco, Jerusalém e Alexandria, avançando ainda para a Mesopotâmia e para a Pérsia.
Umar ibn al-Khattab foi morto por um cristão persa em 644, dez anos após a assumir os destinos do califado, sucedendo-lhe Utman ibn Affan, o primeiro dos califas que não tinha o apoio de Ali. Utman, genro do profeta, nomeou o seu primo para governador da Síria, uma decisão vista como nepotismo. O seu tio, pai do primo que nomeou para governar a Síria, foi um dos mais ferozes inimigos de Maomé.
Utman ibn Affan foi assassinado e Ali chegou finalmente ao poder, tornando-se o quarto califa, contra os que achavam que o primo de Utman, Muawiyah, deveria assumir o lugar. A transição não foi pacífica e deu origem a uma guerra civil. Ali e Muawiyah enfrentaram-se na batalha de Siffin que, sem um claro vencedor, acabou por ser decidida por uma espécie de arbitragem, proposta por Muawiyah. Uma parte dos apoiantes de Ali abandonou-o por não aceitar a decisão de aceitar a arbitragem, dando origem a uma primeira grande cisão. Os que ficaram, fiéis a Ali e às pretensões de liderar o Islão, deram origem aos xiitas.
Ali foi assinado pouco depois, em 661, e Muawiyah aproveitou para subir ao poder, dando oriente à primeira dinastia sunita Omíada. Com a morte de Ali, os seus seguidores revoltaram-se contra a dinastia Omíada, argumentando que os legítimos sucessores e líderes do Islão eram os filhos de Ali e Fatima, no caso, Husayn.
Husayn foi morto depois de liderar a revolta contra o califado no que seria hoje o Iraque. Os omíadas, e mais tarde os abbasids, que lhes sucederam, iniciaram uma vaga de repressão contra os sucessores de Husayn, conhecidos como imãs e vistos como uma ameaça política contra os califas sunitas. A repressão levou a que o sexto imã, Já’far al-Sadiq, pedisse aos seus seguidores que se escondessem (e à fé que professavam) para garantir a sobrevivência dessa fé. O califado sunita passou então a ser hereditário.
As quatro escolas da teologia sunita
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Na teologia sunita há quatro escolas principais, que assumiram os seus fundadores, e alguns dos movimentos principais estão dentro destas escolas.
Hanbalita (que inclui os movimentos waabistas e os salafistas): É a escola seguida pelos sunitas da Arábia Saudita (waabistas), Qatar e Emirados Árabes Unidas. É a mais fundamentalista das quatro, fundada por Ahmad ibn Hanbal, um jurista que defendia que a lei islâmica, a Sharia, se deve basear fundamentalmente no Corão e na Suna.
Hanafita e Shafita: A primeira e terceira escolas, são seguidas pelos sunitas da Síria, do Iraque (onde são minoria), Turquia, Paquistão, Indonésia e Egito. A escola hanafita é a mais antiga e, tal como a shafita (a maior e mais importante durante o período dos Abássidas), deu apoio aos alawitas.
Malikita: seguida pelos sunitas na Argélia, Marrocos, Sudão, Arábia Saudita (minoria) e Emirados Árabes Unidos (também são minoria). É uma das primeiras escolas e o seu fundador defendia o contrário dos califas omíadas, que as leis tinham de ter referência ao Corão, a importância da tradição oral e dos ensinamentos dos 4 califas “corretamente guiados”.
A divisão criada nas origens do Islão com a questão da sucessão do profeta permanece até aos dias de hoje. Os sunitas consideram que Maomé não designou um sucessor de propósito, deixando para os muçulmanos a escolha que considerassem mais apropriada, e justificam a sua legitimidade com base nos juristas e na tradição que sustenta que o califa deve ser escolhido por consenso da comunidade.
Os xiitas, ou seguidores de Ali, da disciplina e da liderança, entendem que Maomé nomeou publicamente Ali e consideram que a liderança não é uma questão que deva ser discutida, que só os descendentes diretos do profeta podem ser os verdadeiros imãs, os guias do Alcorão e da Suna, devido ao conhecimento secreto que lhes foi dado por Deus.
Os dois ramos partilham a fé no Alcorão e nas palavras de Maomé, têm orações semelhantes, apesar de divergirem nos seus rituais e na forma como interpretam a lei islâmica, a Sharia.
Muito desta divisão vem de uma vitimização que faz parte da identidade xiita devido à morte de Husayn e de uma longa história de marginalização pela maioria sunita, que representa cerca de 85% dos 1,6 mil milhões de muçulmanos em todo o mundo. Os xiitas estão entre os 10% e os 15%.
O ressurgir das tensões
Apesar da história sangrenta, sunitas e xiitas conviveram de forma geralmente pacífica ao longo da história, embora não amigavelmente. O conflito no Médio Oriente estava centrado em Israel, sendo então uma guerra do mundo árabe contra a nação judaica e os poderes ocidentais, especialmente os Estados Unidos.
Os conflitos eram esporádicos e aconteciam especialmente quando estava em causa uma luta pelo poder. A revolução islâmica em 1979 veio mudar tudo isto. O regresso do ayatollah Ruhollah Khomeini ao Irão para implementar a sua visão de um governo islâmico – Khomeini defendia que os clérigos tinham de estar no poder para cumprirem a sua função de implementar o Islão como Deus pretendia, através do mandato dos imãs xiitas – foi controverso até entre os xiitas. E teve forte oposição dos sunitas, que defendem a separação entre a liderança política e a religiosa.
Ruhoullah Khomeini depôs o xá pouco depois e começou a sua experiência islâmica, pregando a união entre os muçulmanos, ao mesmo que apoiava grupos com agendas xiitas no Líbano, Iraque, Afeganistão, Bahrein e Paquistão. Os grupos sunitas, como o Hamas e a Irmandade Muçulmana, não aceitaram a sua liderança, apesar de admirarem o seu sucesso, e a Arábia Saudita, que tem uma minoria xiita de considerável dimensão, acabou por acelerar a propagação do wahabismo, um movimento da escola Hanbalita, de longe a mais fundamentalista entre as escolas do sunismo.
O resultado ficou à vista. Muitos dos episódios de violência na região desde 1979 têm mão iraniana e saudita, começando pela guerra entre o Iraque e o Irão no início da década de 80, em que os sauditas apoiaram o Iraque e militantes no Paquistão e Afeganistão na luta contra a União Soviética. E que foi usada também para atacar movimentos inspirados ou apoiados pelo Irão.
O impacto da guerra no Iraque e da Primavera Árabe
Após a revolução islâmica no Irão, grande parte da guerra pelo poder no Médio Oriente aconteceu nas sombras, com apoio a movimentos pelo Irão e pela Arábia Saudita. As ditaduras que governavam a maior parte dos países do Médio Oriente acabavam por estabelecer uma certa forma de equilíbrio – muitas vezes em forma de braço-de-ferro – entre as duas visões do Islão.
A segunda guerra do Golfo veio desestabilizar este equilíbrio precário. A invasão do Iraque em 2003 pela coligação liderada pelos Estados Unidos e Reino Unido resultou na queda de Saddam Hussein, um ditador sunita que governava com mão de ferro uma maioria xiita. Pela primeira vez, a histórica Bagdad passava a ser governada por xiitas. O caos que se seguiu fez com que os iraquianos se fechassem dentro da sua comunidade para se defenderem, polarizando ainda mais um país em guerra e deixando a maioria xiita no poder a lutar contra grupos terroristas sunitas, como é o caso da Al-Qaeda, e o que seria mais tarde o grupo que cresceu a partir da Al-Qaeda no Iraque, o Estado Islâmico.
A Primavera Árabe deu o empurrão necessário para que o conflito no Iraque passasse a um problema regional. Os conflitos que começaram como políticos, específicos de cada país embora com semelhanças, passaram rapidamente a uma questão religiosa. Clérigos sunitas pediam aos seus seguidores para se juntarem à batalha contra os grupos xiitas em defesa dos seus irmãos. Do outro lado, grupos xiitas, como o libanês Hezbollah, prometiam guerra na Síria para lutarem contra os “radicais sunitas”.
Mapa interativo do Council on Foreign Relations ajuda a perceber a distribuição de xiitas e sunitas no Médio Oriente
Síria, o centro do conflito
Depois de anos de batalhas mais ou menos abertas, a revolta na Síria acabou por montar o palco para a mais aberta guerra por procuração entre as duas maiores potências da região. Bashar al-Assad, um aliado de longa data do Irão, e a sua liderança minoritária alauita (uma seita dentro do xiismo que mistura doutrinas de outras religiões, como o judaísmo e o cristianismo), está sob pressão para abandonar o poder num confronto que degenerou em guerra civil, principalmente pelos Estados Unidos, Europa e os seus aliados do golfo. Os sunitas são a maioria no país.
O Irão e a Rússia juntaram-se para defender o regime e acusar os rebeldes, grupos maioritariamente sunitas, de serem os responsáveis pela violência na região. Do outro lado vem a pressão das monarquias do Golfo, em especial da Arábia Saudita, que, juntamente com os EUA, armavam os rebeldes. Aos grupos rebeldes que combatiam Assad juntaram-se movimentos terroristas sunitas, como a Al-Qaeda, através da sua afiliada Jabhat al-Nusra. E nas sombras cresceu uma ameaça a ambos, o Estado Islâmico, também um grupo sunita e que prega a violência sectária como forma de recrutar colaboradores e tem na sua génese a construção de um califado que una o mundo árabe, gerido com os preceitos ultraconservadores e práticas violentas que o caracterizam.
Mesmo com um inimigo comum, o Estado Islâmico, estes dois blocos têm em vista um objetivo de longo prazo mais precioso que acabar com este movimento terrorista: o poder na região. Por isso mesmo, muito da guerra contra o Estado Islâmico tem-se centrado na continuação ou destituição de Assad. Entre os ataques ao grupo terrorista, russos e iranianos estão a atacar também os opositores ao regime e a financiar movimentos xiitas. Do outro lado, a Arábia Saudita e as monarquias do Golfo respondem atacando as forças leais ao regime e fornecendo armas aos rebeldes, com muito do armamento a acabar nas mãos da Al-Qaeda e do Estado Islâmico, dois grupos que lutam entre si.
Guerras por procuração
A Síria é o maior e mais significativo exemplo da luta pelo domínio no Médio Oriente, mas está longe de ser o único palco onde Irão e Arábia Saudita estão envolvidos e, obviamente, em campos opostos. As tensões têm aumentado à medida que os movimentos apoiados pelo Irão têm ganho poder.
No Líbano, o Hezbollah – o movimento político e a milícia xiita – é de longe o mais poderoso ator na muito fraturada política libanesa e tem o apoio (embora não oficial) do Irão. No Bahrein, uma das monarquias do Golfo, é uma família sunita que lidera o país, apesar de a maioria da população ser xiita. No Iémen, militantes xiitas ligados ao Irão tomaram o poder. Os rebeldes huthi expandiram o seu território a sul da Arábia Saudita, deixando uma abertura para o Irão controlar rotas estratégicas ao longo do mar vermelho.
A crescente influência do Irão na região não está a passar despercebida aos sauditas e seus aliados. Para além da luta pelo poder na Síria, os sauditas enviaram forças para combater a revolta no Bahrein contra a monarquia sunita, e montaram uma coligação de dez países – que inclui os Estados Unidos – para tentar reverter o golpe de Estado dos huthi (há um ano).
A guerra no Iémen subiu de tom após a interceção pelos sauditas de um carregamento de armas enviado pelo Irão para os rebeldes huthi, com o Irão a enviar a sua própria marinha para o golfo de Áden, e esta semana quando o Irão acusou os sauditas de danificarem a embaixada iraniana na capital do Iémen num bombardeamento aéreo.
Alianças à la carte
Se é verdade que muitas das alianças têm na sua base critérios sectários, também o é que nem sempre é assim, com demonstra o apoio a certos grupos considerados terroristas como parte da estratégia destes dois países para atrair seguidores e apoiantes. O Irão apoia o Hezbollah no Líbano, mas também o Hamas, um grupo sunita na Palestina, que não se juntou à união pedida por Khomeini aquando da revolução islâmica.
O Irão é um dos mais ferozes inimigos de Israel e fornece armas, dinheiro e mantimentos ao Hamas, que governa a Faixa de Gaza. Os rockets e morteiros utilizados pelo Hamas para atacar Israel são, em grande parte, fabricados no Irão.
A Arábia Saudita, segundo documentos revelados pelo Wikileaks, tem sido uma grande fonte de financiamento dos talibã no Afeganistão e da Al-Qaeda, grupo sunita com o qual os sauditas rejeitam ligações e o qual combate e que tinha como líder o saudita Osama bin Laden, que planeou os ataques de 11 de setembro de 2001 às Torres Gémeas, em Nova Iorque.
Ambos os países, um pouco como é a história dos Estados Unidos na região, têm usado as alianças consoante é oportuno para os seus interesses na altura no conflito em causa, seja no Afeganistão, no Iraque ou na Síria.
Até onde vai esta ‘Guerra Fria’?
Insegurança ou provocação, a verdade é que a execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr no início deste ano de 2016 só veio aumentar mais uma vez as tensões na região. A monarquia saudita começou o ano executando o maior número de pessoas em 35 anos. Entre eles estavam 43 acusadas de apoiar a Al-Qaeda, e outros quatro xiitas, entre eles al-Nimr.
O clérigo estava preso desde julho de 2012, acusado de promover a intervenção externa no reino, e foi condenado à morte em 2014. Mas a sua execução estava suspensa desde então, com o Irão e os seus aliados a ameaçarem várias vezes os sauditas das consequências de levarem a cabo essa execução, entre eles o Hezbollah e movimentos xiitas no Iraque.
Os sauditas executaram mesmo Nimr al-Nimr e a máquina iraniana começou a funcionar, usando a seu favor a divisão sectária que existe no Islão para recrutar a população xiita. O ayatollah prometeu vingança com mão divina, o governo iraniano disse que a Arábia Saudita iria pagar caro a execução, seguindo-se protestos pela população xiita em vários países.
The unity or coexistence that Sheikh Nimr promoted.#AllahHuAkbar#MUST #SHARE #SALAWAT #AHLULBAYT #SMotU
Publicado por Shia Muslims Of The Universe em Sexta-feira, 8 de Janeiro de 2016
O clérigo Nimr al-Nimr num dos sermões em que ataca a monarquia da Arábia Saudita, mas defende que sunitas e xiitas não se devem atacar
O interesse do Irão vai muito mais além do que a religião. A minoria xiita na Arábia Saudita é a maioria na província oriental do reino, onde estão as maiores reservas de petróleo, a maior refinaria e de onde saem grande parte das exportações de petróleo, numa altura em que os sauditas já sofrem as consequências da profunda queda nos preços do petróleo.
A execução de Nimr al-Nimr acabou por ajudar o Irão, deixando a república islâmica na posição de protetora das minorias xiitas que se consideram oprimidas, seja isso verdade ou não, pelos sauditas ou por outras petromonarquias por si apoiadas.
Depois da execução e das promessas de vingança, a embaixada da Arábia Saudita no Irão foi atacada com bombas incendiárias, levando os sauditas a cortarem relações diplomáticas com o Irão. Entre provocações e acusações do Irão, cujo governo acusou os sauditas de tentarem desviar as atenções dos seus problemas internos criando problemas externos, os aliados sauditas – Bahrein, Kuwait e Sudão – juntaram-se ao movimento e cortaram relações com o Irão. Os Emirados Árabes Unidos mandaram regressar o enviado especial diplomático que tinham no país.
Por sua vez, a Arábia Saudita proibiu viagens e negócios com o Irão. O Irão baniu as importações sauditas. Seguiu-se a acusação iraniana do bombardeamento que terá atingido a sua embaixada no Iémen e ferido vários membros da equipa diplomática, em especial guardas.
Guerra? Ninguém quer arriscar, como o próprio ministro da Defesa saudita confessou esta sexta-feira à revista britânica The Economist: “Uma guerra entra a Arábia Saudita e o Irão seria o começo de uma grande catástrofe na região, e teria graves consequências no resto do mundo. Com certeza, não iremos permitir que tal aconteça”, disse.