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O que é o colesterol?

É uma gordura (lípido) produzida sobretudo no fígado mas absorvido também através dos alimentos. Tem várias funções no organismo, por exemplo na produção de hormonas, vitaminas ou na constituição das membranas que envolvem e protegem as células.

 

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E há vários "tipos" de colesterol?

Sim. O colesterol total inclui o colesterol LDL (low density lipoprotein, o chamado “mau” colesterol) e o colesterol HDL (high density lipoprotein, o “bom” colesterol), mas também outras partículas como os triglicéridos, que compõem 95% da gordura de tudo o que comemos. Estas designações estão habitualmente presentes nos resultados de análises de sangue.

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E porque se chamam "bom" e "mau"?

“O colesterol ‘mau’ é responsável pela acumulação de gordura nas artérias”, diz Rui Osório Valente, médico especialista em medicina interna no Hospital Lusíadas de Lisboa. Já o “bom” colesterol tem várias funções essenciais ao organismo.

 

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Porque é que não encontramos habitualmente valores do colesterol "mau" nos resultados das análises?

Aquilo que é habitualmente referido como “mau” colesterol é o colesterol “não HDL”, que nas análises podemos ver como colesterol LDL e triglicéridos.

O valor do colesterol LDL é aquele a que devemos ter mais atenção na avaliação do risco de doença cardiovascular.

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O que acontece quando temos níveis elevados de colesterol?

Os níveis elevados de colesterol, em particular o colesterol LDL (“mau”), “levam à acumulação de placas de aterosclerose nas paredes das artérias” diz o médico. “Esta acumulação torna as artérias mais suscetíveis de ‘entupir’ e leva a problemas graves como AVC ou enfarte do miocárdio, além de complicações nos rins e nas pernas.

Simplificando, isto significa que…

  • … o colesterol LDL acumula-se nas paredes das artérias…
  • … levando à formação de placas de aterosclerose…
  • … que impedem a circulação de sangue…
  • … o que pode provocar a morte.
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Quantos portugueses têm colesterol alto?

Os estudos realizados em Portugal indicam que “mais de 50% dos portugueses têm valores altos de colesterol total e LDL”, explica o especialista. “Menos de dez por cento dos doentes com risco cardiovascular alto ou muito alto apresentam níveis de colesterol LDL dentro dos valores recomendados (7 e 3%, respetivamente)”, explica o médico de medicina interna.

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Quais os valores de colesterol considerados normais ou elevados?

Tudo depende do nível de risco cardiovascular de cada pessoa. O mais importante é o valor de colesterol LDL (colesterol “mau”) e não o colesterol total. O valor ideal difere de pessoa para pessoa: quanto maior o risco cardiovascular, mais baixo deve ser (idealmente).

  •  Numa pessoa de risco baixo são considerados normais os valores de colesterol LDL inferiores a 116 mg/dL.
  • Já numa pessoa que tenha sofrido um evento cardiovascular (AVC, enfarte ou outro), esse valor deverá ser inferior a 55 mg/dL.
  • Para ambos os grupos, o valor dos triglicéridos deve ser inferior a 150 mg/dL.

Quando o valor de colesterol “mau” está acima do recomendado para um determinado nível numa pessoa sem outros fatores de risco considera-se que pode ter hipercolesterolemia, ou seja, com um valor de LDL acima dos 130 mg/dL. Estes indivíduos (estima-se que sejam 50 a 65% em Portugal) devem ser acompanhados em consultas da especialidade. “Um facto preocupante é que mesmo nos doentes que fazem medicação para o colesterol, a maioria apresenta níveis mais elevados do que o desejável para reduzir o risco de desenvolver doença cardiovascular”, diz Rui Osório Valente.

 

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E o que é, exatamente, o risco cardiovascular?

“O risco cardiovascular é a probabilidade de ter um evento cardiovascular – como um enfarte agudo do miocárdio ou um AVC – num determinado período de tempo”, explica o também secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose. Existem ferramentas que permitem calcular esse nível de risco com base em características individuais, como a idade, o género, a pressão arterial e os níveis de colesterol.

Todas as pessoas com mais de 40 anos devem procurar ajuda médica para fazer esta avaliação, que permite prever a possibilidade de um evento cardiovascular nos próximos dez anos e definir estratégias para reduzir o risco.

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O que pode provocar o aumento dos níveis de colesterol no sangue?

Os níveis de colesterol no sangue dependem de variáveis genéticas fazendo parte da constituição de cada um e de fatores externos, como a alimentação, o sedentarismo ou o consumo de álcool. Algumas doenças, como o hipotiroidismo e a diabetes também são responsáveis por esse aumento.

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O colesterol alto tem sintomas?

Os níveis elevados de colesterol não dão sintomas, daí dizer-se que se trata de uma doença silenciosa. Em casos mais graves pode verificar-se deposição de colesterol nas pálpebras (a que se dá o nome de xantelasmas) ou nos tendões (o que se intitula de xantomas).

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Como podemos diminuir os níveis de colesterol no sangue?

“A forma mais eficaz de reduzir os níveis de colesterol no sangue é a medicação”, diz Rui Osório Valente. Depois de identificado o risco cardiovascular de cada pessoa, deve ser ajustado o objetivo de colesterol LDL e a medicação a ser introduzida, sempre que necessário, para o atingir.

Para isso os médicos recorrem às estatinas, uma classe de medicamentos que reduz a síntese de colesterol ao nível do fígado, ao inibir uma enzima necessária à sua produção [que se chama HMG-Coa redutase]. As estatinas atuam sobretudo no fígado, mas também nos músculos.

Mas existem outras medidas igualmente importantes:

  • Uma alimentação equilibrada e variada com pouca gordura e pouco açúcar;
  • Exercício físico moderado (150 minutos por semana, o que resulta numa meia hora diária, com dois dias de descanso);
  • Reduzir o consumo de álcool.
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Quem já teve um AVC ou enfarte deve ter uma atenção ainda maior aos níveis de colesterol?

Sim, sem dúvida. E a esses comportamentos essenciais para reduzir o risco de novos episódios de AVC ou enfarte chama-se prevenção secundária. “A medicação, como a aspirina, diminui a probabilidade de formação de coágulos cerebrais ou cardíacos”, explica Rui Osório Valente.

Existem estatísticas que ajudam a entender a diminuição destes eventos:

  •  Por cada redução de 40 mg/dL de colesterol LDL verifica-se uma diminuição de 22% no risco de um evento cardiovascular mais grave.
  •  Nos casos de pessoas que já tiveram um evento cardiovascular, “o nível de colesterol LDL recomendado é inferior a 55 mg/dL e a redução de, pelo menos, 50% face ao valor inicial”.
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Como posso garantir que os níveis de colesterol são avaliados corretamente?

É recomendado que todos os doentes façam análises regulares ao sangue com avaliação dos níveis de colesterol a partir dos 40 anos. “A repetição da avaliação desses valores vai depender do valor inicial e do risco cardiovascular de cada pessoa, podendo ser anual, semestral ou trimestral”, diz Rui Osório Valente. Esta é a forma mais fidedigna de avaliar o colesterol.

Existem também os testes rápidos realizados na farmácia que “podem ser úteis no rastreio das pessoas que nunca tenham feito essas análises”, explica o especialista de medicina interna. É preciso ter em atenção que, muitas vezes, as farmácias apenas têm disponível o valor de colesterol total, e não do colesterol LDL e dos triglicéridos. “Isto significa que um valor normal de colesterol total pode ser enganador a nível do risco cardiovascular.”