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O que é um AVC?

Um Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma perturbação da corrente sanguínea no cérebro. Quando há uma rotura de uma artéria que provoca uma hemorragia e o sangue se espalha pelo crânio, o AVC é hemorrágico. Quando há uma obstrução e o sangue não passa para uma determinada região do cérebro, o AVC é isquémico – a variedade mais frequente, que corresponde a 80 a 85% dos casos anuais.

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Quais são as consequências?

Podem ser muitas e muito complicadas. Falar, caminhar, escrever, tomar banho, comer sozinho ou até beber um copo de água são tarefas e características do dia a dia que podem ficar comprometidas. O doente pode não conseguir realizar atividades habituais de vida de forma independente e precisar de ajuda para a higiene, para comer, para andar, para comunicar e para realizar as tarefas diárias que sempre fez de forma autónoma.

O AVC pode provocar “consequências neurológicas graves, nomeadamente defeitos motores, de sensibilidade e de coordenação, mas também de linguagem, de perceção visuoespacial [incapacidade de pegar e manipular objetos], de memória e outras queixas que podem levar a perda de autonomia”, diz Diana Aguiar de Sousa, médica neurologista da Unidade Cerebrovascular da Unidade Local de Saúde de  São José, em Lisboa.

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E pode provocar sequelas para toda a vida?

Sim. Por isso é importante a vigilância dos doentes depois de um AVC, através de consultas regulares e reabilitação com fisioterapia e/ou outras terapias associadas. O apoio emocional e familiar é fundamental para ajudar o doente a recuperar.

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Quais são as causas de um AVC?

As duas causas mais frequentes do Acidente Vascular Cerebral são as arritmias cardíacas e a formação de placas de aterosclerose (colesterol) nas artérias cerebrais ou próximas. O AVC pode também ser causado por lesões das artérias, malformações cardíacas e algumas doenças do sangue.

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E os sintomas?

Os sintomas mais comuns estão concentrados naquilo que habitualmente se designa por “os três F”:

  • Fala (alteração do discurso, com uma voz arrastada ou impercetível);
  • Face (a chamada “boca ao lado”);
  • Força (falta de força num dos braços). “Se pedirmos a uma pessoa para elevar os dois braços e um deles cair de forma assimétrica, isso é um sinal que deve ser valorizado e é suspeito”, diz a neurologista Diana Aguiar de Sousa.

Basta que exista um dos três F para estarmos perante uma suspeita de AVC, embora as pessoas possam apresentar também sinais que afetam a marcha, a sensibilidade, a coordenação motora e alterações da capacidade de realizar tarefas simples. A falta de visão súbita de um ou dos dois olhos e as fortes dores de cabeça são também sintomas que não devem ser ignorados.

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Em caso de suspeita de AVC, o que devemos fazer?

Perante um daqueles “três F” deve contactar imediatamente o 112. Não deve deslocar-se a um hospital pelos seus próprios meios, porque só as equipas de socorro estão capacitadas para reconhecer os sinais e porque é através dos serviços do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) que é possível ativar uma das principais respostas a um evento destes, a Via Verde AVC

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O que é a Via Verde AVC?

É um conjunto de procedimentos com equipas especializadas, exames e equipamento disponível em 34 hospitais em Portugal que permite que os doentes com suspeita de AVC sejam avaliados e tratados de forma rápida. “Independentemente de a pessoa poder deslocar-se pelos seus próprios meios, deve sempre contactar o 112”, explica a neurologista. “Existe uma pré-notificação para o hospital que a vai receber – e isso também faz parte da Via Verde AVC – que prepara a equipa e os procedimentos que podem vir a ser usados”, graças a esta via preferencial e otimizada.

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O que acontece se o doente não contactar o 112 e for para o hospital pelos próprios meios?

Se não contactar o 112, o doente pode não ser imediatamente atendido à chegada e não existe a possibilidade de a equipa estar preparada previamente. Uma pessoa que se dirija pelos próprios meios ao hospital passa habitualmente por uma triagem, o que pode levar a alguma perda de tempo, essencial para o tratamento adequado. Além disso, existe o risco de o hospital para onde a pessoa vai não ser o mais indicado e o mais bem preparado para fazer este tipo de avaliação graças à Via Verde AVC.

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Como se trata?

O internamento numa unidade hospitalar especializada em AVC é sempre conveniente, para garantir o melhor acompanhamento possível e o acesso a todos os exames e tratamentos necessários.

No caso do AVC isquémico (o mais frequente), existem vários tratamentos disponíveis. Têm nomes complexos, mas são imprescindíveis para tratar a doença:

  • Trombólise endovenosa: injeção na veia de uma medicação que vai “dissolver” o coágulo que está a provocar a obstrução. É um tratamento que é tão mais eficaz quanto mais rapidamente for aplicado e abrange um maior número de pessoas, desde que o AVC seja avaliado rapidamente.
  • Trombectomia mecânica ou o tratamento endovascular: “Corresponde a um cateterismo, no qual se acede às artérias cerebrais para desobstruir de forma mecânica a que está entupida”, explica Diana Aguiar de Sousa. Apesar de ser um tratamento muito eficaz, só pode ser realizado quando estamos perante “a obstrução de artérias de maior dimensão”.

No caso de um AVC hemorrágico podem ser tomadas várias medidas. Como o controlo da pressão arterial, a normalização da coagulação (para impedir hemorragias) – quando esta estiver alterada –, medicamentos e avaliação pela neurocirurgia. A reabilitação é também fundamental para a recuperação. Deve ser realizada através de uma equipa multidisciplinar, habitualmente coordenada por um médico fisiatra, com a participação de fisioterapeutas, terapeutas da fala e terapeutas ocupacionais, entre outros.

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Como saber se corremos o risco de ter um AVC?

A probabilidade de ter um AVC aumenta com a idade. Mas existem alguns dados que sugerem que poderá haver um aumento da incidência do AVC nos jovens. Pensa-se que a ocorrência do AVC em pessoas mais novas pode estar relacionada com o aumento dos fatores de risco, como sedentarismo, consumo de tabaco e álcool, alimentação inadequada, obesidade, mau controlo da hipertensão, da diabetes e do colesterol, por exemplo,

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Depois de ter um AVC, corro mais riscos de ter um segundo?

Sim. As pessoas que já tiveram um AVC têm um risco maior de ter outro — um terço dos AVC anuais resulta de segundas ocorrências. Por outro lado, o risco de recorrência é maior nos primeiros 30 dias. “É preciso escolher os medicamentos mais adequados e definir estratégias para evitar um novo episódio” diz Diana Aguiar de Sousa. Mas também alterar alguns estilos de vida, sobretudo no que diz respeito à alimentação, ao descanso e ao exercício físico.

Dependendo de cada caso, é estabelecido um plano de tratamento individual e personalizado. É, por isso, fundamental procurar a causa do AVC, pois, quando identificada, pode ser uma informação importante para definir as estratégias de prevenção de um segundo episódio.

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O AVC afeta muita gente?

O AVC é principal causa de morte em Portugal e estima-se que ocorram cerca de 25 mil casos por ano (a cada hora, três pessoas têm um AVC em Portugal). Dados recentes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) indicam que dez por cento dos doentes com AVC isquémico morrem nos primeiros trinta dias após o evento.