A tese

O secretário-geral do Partido Socialista, António Costa, afirmou na entrevista à RTP de quinta-feira que Espanha está a crescer ao dobro de Portugal. E que Portugal cresceu menos do que a Grécia não só na comparação homóloga mas, sobretudo, no segundo trimestre.

Os factos

É absolutamente verdade – e não é de agora – que o crescimento económico em Espanha é muito superior não só ao de Portugal mas, também, a boa parte da zona euro, como analisámos num texto publicado em maio com o título “Aqui ao lado, a economia cresce o dobro do resto da Europa. Porquê?“. O PIB em Espanha disparou 3,1% na comparação homóloga e 1% no segundo trimestre face ao trimestre antecedente.

É, também, correto dizer que a Grécia cresceu mais do que Portugal no segundo trimestre – a diferença até é maior do que o líder do PS indicou, já que segundo o Eurostat a Grécia cresceu 0,9% na comparação em cadeia e Portugal 0,4%, não 0,5%. Na comparação homóloga, os dados do Eurostat não são tão positivos para a Grécia como diz António Costa. Portugal cresceu, sim, 1,5% mas a Grécia 1,6%, e não 1,9% como disse Costa.

De qualquer forma, os dados respeitam a tendência que se verifica. Mas é aqui que devemos dar dois dados de enquadramento importantes. O primeiro está ligado ao conhecido efeito base. Numa economia que afundou tanto quanto a Grécia, mais de 25% desde o início da crise, uma pequena recuperação nominal facilmente leva a uma melhoria percentual mais elevada.

Depois, há um segundo dado muito importante que afeta, sobretudo, a comparação trimestral. É que no segundo trimestre, entre abril e junho, a crise económica e financeira agudizou-se à medida que credores e governo continuavam longe de um acordo para o terceiro resgate. O impasse levaria à imposição de controlos de capitais na Grécia no final de junho. E havia, é claro, o risco de saída do euro.

Mas o risco de que fossem aplicados controlos de capitais, como tinham sido aplicados em Chipre, já estava a ser identificado há vários meses pelos especialistas. Perante essa hipótese, existiram vários relatos de gregos que optaram por usar dinheiro que tinham no banco para comprar mantimentos e bens duradouros como eletrodomésticos. Dessa forma, conseguiam assegurar valor, não só para se anteciparem ao risco – que se confirmou – de que veriam o dinheiro imobilizado ou de que poderiam ver os seus euros convertidos em dracmas.

Vários economistas disseram que foi muito graças a esse efeito que a economia grega cresceu de forma surpreendente no segundo trimestre, como noticiámos na altura.

Conclusão

Esticado. Não há dúvida que, na comparação com a Grécia, António Costa deu números que, apesar de não totalmente corretos, respeitam a tendência que se verificou no segundo trimestre. No entanto, há que enquadrar estes dados com o efeito base de uma economia – a grega – que afundou 25% em poucos anos e, por outro lado, que teve um impulso no segundo trimestre com os consumidores a levantarem dinheiro e comprarem mantimentos e bens duradouros perante o risco de controlos de capitais e de saída da zona euro. São dois elementos de enquadramento muito pouco invejáveis.

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