Começou como uma mensagem a circular em grupos de WhatsApp mas depressa passou para o Facebook — nas últimas 24 horas, teve mais de 300 partilhas e foi visto mais de 16 mil vezes. “Solicitamos que retirem os tapetes das entradas dos apartamentos, casas. Na Alemanha descobriu-se que os tapetes eram verdadeiros ‘criadouros’ do vírus. Troquem o tapete por um pano húmido com água sanitária, assim estaremos minimizando mais um local para a disseminação do vírus e protegendo a funcionária da limpeza. A maioria dos tapetes dos condomínios e casas foram retirados. Contamos com a compreensão de todos!”, pode ler-se na mensagem.
O aviso tem-se espalhado no Brasil e, agora, também em Portugal, e existem vídeos partilhados nas redes sociais que acompanham a mensagem e explicam como fazer uma mistura com água e um abrasivo sanitário para desinfetar os pés à entrada de casa.
É falso que na Alemanha tenha sido emitido qualquer alerta especificamente sobre tapetes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, sim, conclusões de alguns estudos que indicam quanto tempo é que o novo coronavírus permanece em várias superfícies. Como o Observador já explicou, de acordo com os últimos estudos, no plástico o vírus pode sobreviver três dias, enquanto no papel não ultrapassa as 24 horas, por exemplo. Isto embora ainda não existam estudos com uma fiabilidade absoluta.
O governo alemão distribuiu os mesmos conselhos feitos em Portugal relativamente à higienização das mãos, das superfícies, da roupa e do calçado. Estes devem ser retirados logo à entrada de casa e nunca serem usados no interior. No entanto, não há nenhum registo de notícias sobre “tapetes ‘criadouros’ do vírus” e muito menos de pedidos feitos à população para substituírem os objetos por panos húmidos com desinfetante.
O jornal “O Globo” desmentiu a informação assim que ela começou a circular no Brasil. “O governo alemão nunca deu essa recomendação”, garantiu a Embaixada da Alemanha no Brasil à publicação. O médico Alberto Chebabo, da Sociedade Brasileira de Infectologia, confirmou que o tapete não é recomendado em ambientes onde há pessoas alérgicas, mas que não existia “nenhuma evidência de que o tapete pudesse transmitir o novo coronavírus.”
Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, não hesitou na resposta que deu ao jornal “O Globo”: “Essa mensagem é totalmente falsa”.
A Alemanha regista uma percentagem de mortes por Covid-19 mais baixa do que a maioria dos países europeus — 2,2%. Nos números mais recentes, atualizados esta sexta-feira, 10 de abril, contabilizam-se um pouco mais de 118 mil pessoas infetadas com o novo coronavírus (exatamente 118,235 mil) e 2607 mortes. Em Itália, a percentagem de mortes situa-se nos 12,73% — há 143,626 mil casos confirmados e 18,279 mil vítimas mortais.
O números menos dramáticos de mortes podem ser explicados pelo facto de a Alemanha fazer testes em grande escala — na última semana de março foram recolhidas amostras de 354,521 mil pessoas — mas também porque a população é menos envelhecida do que em Itália, por exemplo. Além disso, os hospitais tinham logo à partida mais camas, ventiladores e equipamentos necessários para travar a propagação do vírus, como explicou Karl Lauterbach, político alemão e especialista em epidemiologia, ao canal CNBC.
Conclusão
É mentira que o vírus se mantenha vivo mais tempo nos tapetes do que noutras superfícies, não há qualquer evidência científica sobre isso e vários especialistas vieram desmentir esta informação. Também é falso que na Alemanha as pessoas tenham colocado à entrada de casa panos húmidos com produto desinfetante após as autoridades o terem aconselhado. O que, de resto, não fizeram.
Segundo o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
De acordo com o sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.