A publicação que circula no Facebook exibe a imagem de um capacete e de uma caixa craniana que alega terem “mais de 2.500 anos”. De acordo com o texto que acompanha a fotografia, trata-se de um “capacete coríntio encontrado com o crânio do soldado ainda dentro, da Batalha da Maratona, que ocorreu em 490 a.C., durante a primeira invasão persa à Grécia.⁣”

O texto da publicação é longo, fala da batalha de Maratona e em como “há 2.500 anos, 10 mil soldados gregos se reuniram nas planícies de Maratona para combater o exército persa invasor. Os soldados gregos eram sobretudo cidadãos de Atenas, além de alguns reforços de Plateias. O exército persa tinha 25 mil soldados de infantaria e mil de cavalaria”. Segue-se uma descrição até à vitória grega, com a batalha a terminar, “segundo o historiador grego Heródoto, com 6.400 corpos persas espalhados pelo campo de batalha. Os atenienses perderam 192 homens e os plateias perderam 11”.

O capacete que consta na imagem está exposto no Museu Real de Ontário (ROM), no Canadá, e “foi adquirido pelo ROM em 1926”, segundo consta no site oficial. “A certa altura, constou que estava um crânio dentro dele”, acrescenta o texto, que diz que os relatos davam conta de que o objeto foi encontrado assim mesmo “por George Nugent-Grenville”, “na Planície de Maratona em 1834”.

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O artigo que está no site do Museu publicado em fevereiro de 2014 e assinado pelo arqueólogo Robert Mason explica que “é difícil ter certeza da associação” entre a estrutura óssea e o capacete: “Como a Maratona foi uma vitória dos gregos, estes poderiam não ter deixado nenhuma parte do corpo ou qualquer equipamento útil no terreno, e o único dano no capacete parece ter sido provocado pela passagem do tempo”.

O especialista diz, no entanto, “não ter nenhum problema” com a tese, já que elementos como estes “podem ser encontrados num campo de batalha, embora normalmente não sejam os dos vencedores”, sublinha ao mesmo tempo.

Também fala nos “100 anos que passaram entre a descoberta do objeto” e os registos recolhidos, não sendo possível garantir “quão confiável pode ter sido a transmissão de informações ao longo desses 100 anos”. “Um estudo de ADN e de radiocarbono poderia dizer-nos que se tratava de um grego da época, mas isso não está nos planos”, concluiu sobre o assunto.

Quanto à relação dos objetos com a Batalha de Maratona, o mesmo especialista acredita que se trata de um capacete coríntio mas também diz que não é possível ter “a certeza absoluta” de que seja relativo à batalha em questão. Ainda assim, Mason explica que Nugent “teria estado na Grécia” logo após a guerra da independência, período em que “a marinha Britânica foi muito influente, por isso é concebível que um antiquário britânico tenha encontrado esses capacetes nesses locais e eles são, de facto, do tipo que teria sido usado naquelas datas”.

Conclusão

Os objetos referidos na publicação existem e estão expostos na secção “Gregos e Romanos” do Museu Real de Ontário, em Toronto no Canadá. O capacete encontrado no século XIX na Planície de Maratona é identificado como do tipo coríntio, como os usados na época da Batalha da Maratona, que aconteceu no ano 490 a.C., embora não exista a “certeza absoluta” que seja um despojo dessa mesma batalha.

Já quanto ao crânio igualmente exposto, o próprio Museu explica que “a dada altura constou” que tenha sido encontrado dentro do capacete, embora existam dúvidas de que seja mesmo assim. Um arqueólogo que trabalha no ROM explicou num artigo que está no site oficial que elementos como estes podiam ser deixados para trás nos campos de batalha, mas não por quem tinha vencido, como aconteceu com os gregos nessa batalha concreta. A informação que é partilhada tem factos reais, mas outros não estão confirmados.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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