O post é novo — data de 13 de novembro de 2021 –, mas a história não. Na verdade, foi em junho de 2017, após o ataque terrorista que matou oito pessoas na London Bridge, que o vídeo que serve de base a esta publicação começou a circular nas redes sociais. Esse vídeo mostra uma jornalista da CNN, Becky Anderson, a trazer alguns muçulmanos que protestavam contra o atentado para diante das câmaras e a relatar uma cena pacífica que adjetiva, em direto, como “comovedora”.
No entanto, este utilizador do Facebook — como outros, em 2017, já tinham feito — conclui que as imagens mostram a forma como a CNN “forjou a notícia” da suposta manifestação “espontânea” de “muçulmanos moderados”, retirando qualquer “crédito” aos órgãos de comunicação social. No Youtube, nos comentários a esta espécie de vídeo de bastidores que mostra como foi feito o direto da CNN, vários utilizadores mostram-se indignados: “A polícia também entra nisto?” e “A BBC usou as mesmas pessoas!” são alguns dos comentários que se podem ler. Mas terá sido mesmo assim?
Primeiro, as imagens. O que o vídeo mostra é a jornalista, com a ajuda da polícia, a trazer algumas destas pessoas para a frente das câmaras, passando assim pelo cordão de segurança que estava estabelecido entre os jornalistas e os participantes (que, de acordo com a organização, estariam na verdade a fazer uma vigília e não exatamente um protesto). Assim, o grupo, que inclui algumas mulheres de hijab e pelo menos uma criança, apresenta perante as câmaras cartazes com mensagens como “For London” (por Londres) e “ISIS will lose” (o ISIS vai perder).
A jornalista descreve a cena poucos segundos depois de o grupo estar reunido do lado de lá do cordão de segurança, dizendo ver pessoas “tristes por causa da noite passada” (a do atentado) “mas com esperança em relação a amanhã”, que deixaram “flores” em homenagem às vítimas mortais.
A vigília seria, assim, uma forma de mostrar solidariedade depois de, a 3 de junho de 2017, oito pessoas terem morrido e 48 terem ficado feridas num ataque que durou apenas oito minutos. Os três terroristas avançaram com uma carrinha sobre transeuntes que atravessavam a ponte, saindo depois do carro e passando a esfaquear pessoas num mercado ali perto e em restaurantes e bares aleatórios até serem abatidos a tiro pela polícia de Londres. O ataque acabaria por ser reivindicado pelo ISIS.
A notícia foi especialmente traumática uma vez que foi o terceiro ataque terrorista a registar-se em Londres nesse ano, período em que também se registou, como a imprensa britânica dava então nota, de um aumento muito acentuado de crimes de ódio contra muçulmanos (seriam 54 por dia, segundo os números revelados pelo mayor de Londres, Sadiq Khan, incluindo ataques verbais em público).
Mesmo assim, para estes utilizadores das redes sociais, o que a imagem mostraria seria uma jornalista da CNN a forjar uma manifestação para limpar a imagem dos muçulmanos. Mas a CNN respondeu ao rumor logo a 5 de janeiro de 2017, num tweet do ramo de relações públicas do canal.
“Isto é absurdo. O grupo de manifestantes que estava dentro do cordão policial teve autorização dos polícias para poder mostrar os seus cartazes aos media que ali estavam. A equipa da CNN, juntamente com os outros órgãos de comunicação social que estavam presentes, simplesmente filmou-os a fazerem isso”, explicava o tweet.
This is nonsense. Police let demonstrators through the cordon to show their signs. CNN along with other media simply filmed them doing so.
— CNN International PR (@cnnipr) June 5, 2017
Como o site de fact-checking Snopes escreveu na altura, citando fonte da CNN, a polícia terá dado esse aval a pedido dos próprios participantes na vigília, e o cenário terá sido “montado” apenas para que o grupo pudesse caber na perspetiva das câmaras. “Eles vieram para a nossa frente para que pudéssemos ver os cartazes — sugerir que o protesto foi forjado pelos órgãos de comunicação social é de loucos”, dizia então a mesma fonte. No site Mediaite, que analisava o assunto na altura, explicava-se que o método não será “incomum” na produção televisiva para assegurar que a imagem de fundo serve o direto, mas admitia-se também que podem surgir críticas por desta forma se “editorializar” a imagem noticiosa.
Na verdade, a CNN esteve longe de ser o único meio a noticiar a vigília, o que explicará porque é que, como um dos comentários questionava, a BBC “usou” as mesmas pessoas — eram participantes da vigília.
A BBC noticiava na altura, como se pode ler aqui, essa mesma vigília, organizada pelo London Fatwa Council, uma organização islâmica cujos membros tomaram posição contra os ataques terroristas. A televisão britânica mostrava, de resto, através de vários ângulos as pessoas que participaram na vigília a deixarem flores no local e conversava com várias delas, identificando-as — é o exemplo de Samya Motalib, uma das pessoas que apareceram nas peças desse dia e que vivia naquela zona há 28 anos, tendo descrito à BBC o ataque como “bárbaro e desumano”.
Também o jornal britânico Telegraph esteve no local e deu nota da vigília, numa peça titulada “Comunidade muçulmana deixa flores e presta homenagem às vítimas do ataque na London Bridge”. O mesmo para o Evening Standard, que usou fotografias da European Pressphoto Agency para ilustrar a peça titulada “Mesquitas e líderes e muçulmanos unidos no repúdio do ataque terrorista na London Bridge”.
Conclusão
A vigília de muçulmanos em homenagem às vítimas do ataque na London Bridge, em 2017, não foi “forjada” pela CNN. Os participantes na vigília terão pedido à polícia para aparecer diante das câmaras com os cartazes que traziam, pedido a que a polícia acedeu, e o vídeo mostra esse momento. De resto, houve vários meios presentes no local e todos noticiaram a vigília, identificando mesmo alguns dos participantes e citando-os nas reportagens.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.