Por estes dias, multiplicam-se os gestos de solidariedade em prol dos profissionais de saúde nas redes sociais (e não só). Mas há também contestação, principalmente contra os rostos que estão à frente quer da Direção-Geral da Saúde quer do Ministério da Saúde. No decorrer desta semana, começou a circular uma publicação no Facebook com a imagem de uma suposta equipa médica do Hospital de Coimbra a fazer um gesto obsceno à ministra da Saúde, Marta Temido. Na legenda, pode-se ler o seguinte: “Mensagem da equipa de serviço na urgência do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra para a ministra da Saúde e Diretora Geral de Saúde. Vamos fazer chegar esta mensagem às destinatárias”.

A imagem foi vista por mais de 25 mil pessoas desde que foi publicada a 6 de abril, contando também com mais de 400 partilhas. No entanto, apesar de a imagem ser verdadeira, não diz respeito a profissionais de saúde portugueses. Ou seja, a ideia de que é dirigida às autoridades de saúde portuguesas é falsa.

A publicação feita a 6 de abril

Na imagem referida, é possível ver quatro mulheres, de bata e com máscara, a fazer um gesto obsceno durante uma refeição. No entanto, esta fotografia não foi tirada em Portugal, mas sim em França. Aliás, a imagem até começou por ser divulgada nas redes sociais como um gesto de insatisfação relativamente ao presidente francês, Emmanuel Macron, e a “quem votou” no presidente francês, como se lê na legenda abaixo.

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https://www.facebook.com/Desmotspoursoulagernosmaux/photos/p.606795336541983/606795336541983/?type=3&theater

A verdade é que, apesar de ter sido tirada em solo francês, também não foi dirigida a Macron. Segundo o jornal francês 20Minutes, tratava-se, sim, de um grupo de técnicas de saúde que resolveram dirigir o gesto obsceno para o novo coronavírus, numa mensagem que também pudesse alertar para o facto de os franceses terem de ficar em casa nesta altura mais conturbada. O momento foi captado a 17 de março deste ano.

O jornal escreve ainda que três dias depois de a fotografia ter sido postada na sua versão original, uma conta anónima de Twitter partilhou a imagem, criticando o atual executivo francês, em particular os governantes do Ministério da Saúde. Apenas um dia depois, com este tweet já apagado (aqui recuperado), um utilizador modificou a imagem, também no Twitter, escrevendo exatamente a mesma legenda sobre as pessoas que tinham votado em Macron. E o que podia não passar de mais uma montagem ganhou uma importância maior porque Vikash Dhorasso, candidato às eleições municipais que decorreram em março, retweetou a imagem.

No entanto, o que mais ajuda a perceber que a imagem foi descontextualizada na internet é o facto de o jornal 20 Minutes ter chegado a contactar uma das técnicas de saúde que aparece na fotografia, que confessou que tinha ficado “chocada pelo roubo da fotografia e pelos comentários que surgiram”. Aquela profissional de saúde admitiu que tinha publicado a fotografia mas apenas num grupo pessoal e no seu perfil. A imagem, contudo, acabou por ser partilhada em páginas com um maior alcance, induzindo quem a visse em erro.

Conclusão

O vídeo usa, de facto, uma fotografia verdadeira que retrata técnicas de saúde, mas, na verdade, não se trata de uma imagem portuguesa e não é sequer dirigida à ministra da Saúde, Marta Temido. Antes, a imagem já tinha sido espalhadas nas redes sociais, alegando que o gesto obsceno das profissionais de saúde tinha como alvo o presidente francês, Emmanuel Macron — o que também não se verificou. A imagem vem de França, e é de técnicas de saúde, mas o gesto obsceno era dirigido ao próprio coronavírus. A mensagem que aquele grupo de mulheres queria passar era de que os franceses devem ficar em casa para, dito de forma simples, mandar o coronavírus embora.

Segundo o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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