Circula nas redes sociais uma mensagem com supostos conselhos de vida erradamente atribuída ao Papa Francisco. “Esta vida vai passar rápido, não lute com as pessoas, não critique tanto o seu corpo. Não se queixe tanto. Não perca o sono pelas contas. Procure o parceiro que o faça feliz”, lê-se na mensagem.

“Se estiver errado, deixe-o e continue procurando a sua felicidade.. Nunca deixe de ser bom pai ou mãe. Não se preocupe tanto em comprar luxos e confortos para sua casa, nem se mate deixando herança a sua família… os bens e patrimônios devem ser ganhos por cada um… Não se dedique a acumular prata. Divirta-se… viage [sic]. Aproveite os seus passeios, conheça novos lugares. Dê-lhe os gostos que merece. Permita que os cães sejam mais próximos. Não se ponha a guardar os copos”, continua o texto.

Uma publicação consultada pelo Observador no dia 29 de setembro de 2022 no Facebook já contava com mais de 11 mil partilhas, 15 mil reações e 4.500 comentários.

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A mensagem, carregada de erros ortográficos e gramaticais, diz ainda: “Use a nova louça, não economize o seu perfume favorito, use-o para passear com você mesmo, gaste seus tênis favoritos, repita suas roupas favoritas, e o que? Se não está mal, por que não agora? Por que não orar agora em vez de esperar para orar antes de dormir? Por que não ligar agora? Por que não perdoar agora? Se espera muito para o natal, na sexta-feira, mais um ano, quando se tiver dinheiro, quando o amor chegar, quando tudo for perfeito… Olhe… Não existe o tudo perfeito. Os seres humanos não podem fazer isso porque simplesmente não foi feito para completá-lo aqui. Aqui é uma oportunidade de aprendizagem.”

“Então tome essa prova de vida e fazê-lo agora… Ame mais, perdoe mais, abrace mais, viva mais intensamente e deixe o resto nas mãos de Deus”, termina o texto, que é acompanhado de uma fotografia do Papa Francisco com uma grande nódoa negra abaixo do olho esquerdo e com um penso na sobrancelha esquerda — situação ocorrida durante a visita do Papa à Colômbia, em setembro de 2017, quando Francisco se cortou num vidro do papamóvel.

Contudo, esta mensagem não é realmente um texto do Papa Francisco. Além de estar escrita num português pouco cuidado e desalinhada com o pensamento teológico e social do Papa Francisco — os primeiros sinais de desconfiança relativamente à credibilidade do texto —, não há qualquer registo deste texto nos arquivos do Papa Francisco.

Aliás, a disseminação deste boato atribuído ao Papa Francisco já não é novidade. Em abril de 2017, a Agência Católica de Informação já dava conta de que uma versão deste texto circulava em grupos de WhatsApp também atribuída ao Papa Francisco. “Estas palavras não aparecem em nenhum texto oficial do Papa Francisco, nem entre as respostas às muitas entrevistas que concedeu”, assinalava na altura aquela agência católica.

Na verdade, a quantidade de textos falsos atribuídos ao Papa Francisco é tão grande que o próprio Vaticano já se viu obrigado a lançar um alerta. Em dezembro de 2015, o portal de notícias do Vaticano mostrou um exemplo de uma frase falsamente atribuída ao Papa Francisco e avisou: “Estes tipos de textos que circulam por internet atribuídos ao Papa Francisco geralmente não mencionam a data e a ocasião na qual pronunciou essas palavras. Porque, desta maneira, seria fácil para qualquer pessoa procurar na página oficial da Santa Sé e comprovar se realmente eram palavras do Papa.”

“Se as palavras atribuídas ao Papa não aparecem nos meios oficiais vaticanos, especialmente na página oficial da Santa Sé, pode ser que estas sejam falsas”, acrescentou na altura.

Conclusão

O texto atribuído ao Papa Francisco já circula pelo menos há cinco anos, com diversas versões diferentes, mas sempre com o mesmo conteúdo. Não há qualquer registo deste texto — que, aliás, nem sequer está datado — nos arquivos oficiais da Santa Sé. Além disso, o texto não tem qualquer coerência com o pensamento teológico do Papa Francisco

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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