Uma captura de ecrã partilhada nas redes sociais sugere que foi encontrado um nanorrobô num teste PCR, uma técnica que tem sido utilizada na deteção do coronavírus no trato respiratório superior. A imagem indica que a origem dessa informação é o site TextosSalta, que partilhou um artigo com esse título em dezembro do ano passado. Por sua vez, o texto atribui a notícia a Patricia Callisperis, uma médica boliviana. Mas é falso.

Há várias desinformações na notícia. Em primeiro lugar, o texto é confuso no que diz respeito à dimensão no suposto nanorrobô: começa por dizer que o instrumento tem 2,5 nanómetros, mas converte esse número para 0,006 milímetros. Ora, 2,5 nanómetros são 0,0000025 milímetros; e 0,006 milímetros são 6.000 nanómetros. De resto, em momento nenhum o texto indica onde é que o nanorrobô foi descoberto ou como foi introduzido no teste.

Publicação em análise.

É verdade que os glóbulos vermelhos têm 8.000 nanómetros — segundo esta página informativa do LabCE, que se dedica ao ensino e à divulgação científica na área laboratorial, podem ter precisamente entre 6.000 e 8.000 nanómetros. Mas o texto argumenta que, sendo assim, também um nanorrobô daquelas dimensões conseguiria circular na corrente sanguínea e “atravessar facilmente a barreira hematoencefálica”.

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Segundo a Kenhub, uma plataforma educacional dirigida a profissionais de saúde, a barreira hematoencefálica é uma membrana permeável que medeia as trocas químicas entre o sangue e o sistema nervoso central para o proteger de agentes patogénicos (como vírus ou bactérias, por exemplo) e químicos que possam ter contaminado o organismo.

Esta barreira é extremamente sensível, portanto nenhum nanorrobô conseguiria atravessá-la. De acordo com o Instituto do Cérebro da Universidade de Queensland, ela tem pequenas aberturas que só permitem a entrada de moléculas muito pequenas, como moléculas solúveis em gordura, alguns gases e a glicose — esta última à boleia de proteínas transportadoras que abrem portas específicas. Mas não um nanorrobô.

De qualquer modo, simplesmente não é verdade que um nanorrobô tenha sido detetado num teste PCR. Na página TextoSalta, a notícia é atribuída à médica Patricia Callisperis, natural da Bolívia, que está muitas vezes no centro de polémicas por inspirar informações falsas sobre a pandemia de Covid-19. Por exemplo, ela foi uma das profissionais de saúde negacionistas que afirmou que o dióxido de cloro podiam curar aquela doença.

Além disso, uma busca pelos termos “nanorrobô”, “testes PCR” e “Covid-19” nas bases de dados com relatórios científicos — mesmo aqueles que estão em pré-publicação e não foram revistos pelos pares — não revela qualquer descoberta desta natureza. A imagem que surge nesta publicação no Facebook também não é nova: circula na internet pelo menos desde 2005, mas não passa de uma ilustração.

Conclusão

Não é verdade que um nanorrobô tenha sido descoberto num teste PCR, que são utilizados no diagnóstico de infeções pelo SARS-CoV-2. A origem desta informação é uma notícia falsa que cita uma médica negacionista. E mesmo a imagem que ilustra a publicação em análise já circula na internet desde 2005.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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