Quem captou a gravação que “viralizou na internet” parecia estar no local certo à hora certa. Um grupo de jovens mulheres é abordado por vários homens, mas depressa se defende das investidas através de golpes de artes marciais. “Em França, numa passagem subterrânea, três raparigas foram interpeladas por dez muçulmanos sobre os seus trajes e ‘explicaram’ que as suas roupas eram totalmente normais. Um detalhe, os idiotas esqueceram de perguntar se elas eram lutadoras de MMA”, lê-se na legenda da publicação a ser partilhada no canal de reels — vídeos curtos — do Facebook.

O mesmo vídeo está a ser disseminado em diferentes partes do mundo com alegações idênticas. Em outras publicações, as mulheres são apresentadas como tendo nacionalidade israelita e, neste cenário, estariam a ser atacadas também por muçulmanos. Há ainda versões em que se garante que os homens do vídeo tentaram agredir sexualmente as mulheres. Mas todas são falsas, já que o vídeo não mostra uma cena de luta real, mas sim ficcionada.

Através da pesquisa inversa de frames do vídeo é possível identificar a sua origem — trata-se de uma gravação feita por uma escola de formação de duplos. A plataforma de verificação de factos do jornal brasileiro Estadão também identificou as letras “CUC” nas camisolas dos alegados muçulmanos, que afinal não passam de substitutos de atores a encenar uma cena de luta.

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Quem são os duplos das estrelas de cinema?

A sigla refere-se ao Campus Univers Cascades (CUC), que fica em Le Cateau-Cambrésis, no norte da França, que, na sua página de Instagram, partilhou, a 2 de novembro, um vídeo com a seguinte legenda em inglês: “Luta na rua.” A escola que se dedica à formação de artistas, lutadores e duplos é clara na apresentação do conteúdo, assinalando que se trata de uma luta encenada. Tal não impediu que a gravação começasse a circular de forma descontextualizada, gerando o tipo de desinformação que está a ser verificada um pouco por todo o mundo e que é utilizada com propósitos racistas e xenófobos relativamente a muçulmanos.

França tem uma comunidade muçulmana de grande dimensão no país, proporcionada pela migração de países da África Ocidental e do Oriente Médio. Os crimes de natureza racista e antireligiosa aumentaram significativamente em França nos últimos anos. Em 2021, registou-se um aumento de 13% face a 2019, informava o Ministério do Interior francês no ano passado.

Conclusão

Defende-se nas redes sociais que uma gravação viral exibe uma luta entre três jovens francesas que, através de golpes marciais, conseguem derrotar e imobilizar dez homens muçulmanos que as assediavam e importunavam enquanto atravessavam um túnel subterrâneo em França. A informação é falsa e terá sido partilhada com intenções xenófobas. Os protagonistas do vídeo são, afinal, duplos de atuação — cinema e televisão — que encenaram a cena. A gravação foi captada pela escola de formação.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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