Uma publicação na rede social Facebook, com data de 12 de abril, sugere que o tempo máximo de espera para cirurgias urgentes pode chegar aos cinco anos. A publicação, que se refere ao tempo de espera para a realização de uma cirurgia no Serviço Nacional de Saúde (SNS), ironiza: “Não desanime. A sua vez há de chegar.”

Mas será que, dado o novo aumento generalizado dos tempos de espera para cirurgias e consultas (em resultado do aumento da referenciação e da recuperação da atividade hospitalar depois da pandemia), é possível que uma cirurgia urgente possa demorar cinco anos a ser realizada?

O Observador foi verificar isso mesmo ao Portal de Tempos de Espera do SNS. As cirurgias, à semelhança do acontece com as consultas, têm três graus de prioridade gerais: o nível de prioridade normal (em que a cirurgia tem de ser realizada até 180 dias após a marcação), o nível prioritário (em que se esse prazo se reduz para 60 dias) e o nível muito prioritário (15 dias). A estes graus de prioridade juntam-se ainda dois níveis para casos de doença oncológica, que exigem uma resposta mais imediata. Assim, uma cirurgia oncológica com prioridade normal tem de ser realizada pelos hospitais no prazo de dois meses (60 dias, em vez de 180), enquanto uma prioritária tem um prazo máximo de 45 dias (em vez de 60). Já quanto às cirurgias muito prioritárias, o tempo máximo de espera é o mesmo (15 dias).

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Assumindo que a publicação que circula no Facebook se refere às operações de grau prioritário, a verdade é que nenhuma cirurgia, de entre os hospitais que apresentam dados e nas várias especialidades que podem ser consultadas, se aproxima sequer do tempo máximo de espera referido (cinco anos, ou 1826 dias). Segundo os últimos dados disponíveis, do último trimestre de 2022, pode ver-se que a cirurgia de Obesidade, no Hospital de Santa Maria, é a que demora mais tempo a realizar-se — 834 dias, isto é, quase 2 anos e quase 4 meses. Ainda assim, nem metade do tempo que refere a publicação do Facebook.

No top 5 das operações que fazem os utentes do SNS esperar mais, nenhuma ultrapassa os 300 dias. Seguem-se na lista as cirurgias de Urologia, também no Hospital de Santa Maria, com 269 dias; as cirurgias de Ortopedia no Hospital de Santarém, com 241 dias; as cirurgias de Urologia no Hospital Garcia de Orta, com 234 dias; as operações da especialidade de Cirurgia Geral, novamente no Hospital de Santa Maria (215 dias).

A maioria das especialidades não cumpre tempo máximo de espera para consultas. Oftalmologia, Reumatologia e Alergologia são as piores

Se a referida publicação, partilhada nas redes sociais, se estiver a referir às cirurgias de nível muito prioritário, então as informações veiculadas ainda ficam mais longe da verdade. Isto porque, nestes casos, a cirurgia mais demorada não ultrapassa os 229 dias — é a de Ginecologia, no Hospital Garcia de Orta. Ainda assim, um tempo de espera muito superior ao máximo imposto para estes casos (15 dias).

Conclusão

Apesar de muitas cirurgias (e consultas) realizadas em hospitais do SNS não cumprirem os tempos máximos de espera impostos pela Entidade Reguladora da Saúde, nenhuma cirurgia demora cinco anos a ser realizada, depois do ato da marcação. A mais demorada (de Obesidade, no Hospital de Santa Maria) tem um tempo de espera de 834 dias, isto é, quase 2 anos e 4 meses.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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