São várias as caras conhecidas do público brasileiro, mas para o público português há uma que se destaca: o humorista Fábio Porchat, também fundador, argumentista e ator do Porta dos Fundos, produtora de vídeos de comédia publicados na internet. Num vídeo, que tem sido amplamente partilhado no Facebook, Fábio Porchat — assim como o youtuber Felipe Neto, o músico Tico Santta Cruz e o ator Raphael Logam — surgem num encontro com o atual Presidente Brasileiro, Lula da Silva.
A legenda que acompanha o vídeo aponta-os como novos colaboradores de Lula, depois de terem sido críticos do Governo de Jair Bolsonaro. “A turminha que detonava o Bolsonaro. 17 mil reais por mês. Olha eles aí na ‘equipa de transição’.” Dez mil reais correspondem a 3.082 euros.
A “equipa de transição” de que se fala na publicação refere-se ao órgão oficialmente chamado de Gabinete de Transição Presidencial do Brasil, cuja existência está prevista e regulada pela lei brasileira. Como o nome indica, é um órgão transitório e permite que uma equipa do Presidente eleito e outra do Presidente ainda em funções trabalhem em conjunto assegurando que o novo Chefe de Estado tenha em seu poder todas as informações necessárias para levar a cabo o novo programa de governo do país.
O primeiro ponto a analisar — e que torna, desde logo, claro que se torna de fake news — é se Porchat, assim como as outras celebridades brasileiras, fez parte do Gabinete de Transição. Não fez. Quando a equipa terminou o seu trabalho, ainda antes de Lula da Silva tomar posse, apresentou o seu relatório. Nele, são nomeados todos os membros dos grupos técnicos. O nome de Fábio Porchat não está ali, assim como nenhum dos outros três já referidos — Santta Cruz, Logam, e Felipe Neto.
O relatório pode ser consultado online e a lista de nomes aparece da página 73 em frente.
Quanto à verdadeira origem do vídeo, é fácil encontrar a resposta na imprensa brasileira — aqui, aqui ou aqui — que, em 2022, divulgou o encontro de Lula com atores e influencers no Rio de Janeiro, em plena campanha eleitoral. O próprio Lula da Silva partilhou a fotografia do encontro na sua conta oficial de Twitter.
Eu e @MarceloFreixo nos encontramos hoje com influenciadores, artistas e comunicadores. Muita gente se juntando por um país melhor. Falta pouco! Vamos juntos pelo #BrasilDaEsperança.
????: @ricardostuckert pic.twitter.com/mPWPx89dq1
— Lula (@LulaOficial) September 26, 2022
Por outro lado, Felipe Neto foi um dos artistas que veio a público, também no Twitter, desmentir que o vídeo fosse de um encontro do Gabinete de Transição. Os 17 mil reais mensais, ou cerca de 3 mil euros, que cada um dos artistas receberia pela sua participação na equipa também foi desmentido pelo youtubber. Sobre este assunto, os utilizadores das redes sociais foram rápidos a ridicularizar a quantia, já que os cachets de espetáculos de alguns destes artistas são muito superiores a esse valor.
Os bolsominion tão viralizando q eu e @FabioPorchat tamo recebendo 17 mil por mês do governo.
A fonte é a reunião q fizemos com o Lula no período eleitoral em 2022. Foi uma reunião incrível, por sinal. https://t.co/GZbtt0gYv3
— Felipe Neto ???? (@felipeneto) February 10, 2023
Ainda sobre o valor, que os artistas não poderiam estar a receber uma vez que não faziam parte do órgão de transição, há mais dados. O jornal digital Poder360, em dezembro do ano passado, fez um levantamento sobre os valores recebidos pelas mais de 900 pessoas que compunham a equipa. Apenas 22 recebiam ordenado, sendo os demais voluntários. O valor mais alto era de 17,3 mil reais recebidos por Geraldo Alckmin, que coordenava os trabalhos. Todos os outros recebiam um valor inferior.
Conclusão:
Falso. Fábio Porchat nunca fez parte da equipa de transição de Lula da Silva e, como tal, não poderia ter recebido a remuneração que lhe é apontada. Por outro lado, o vídeo partilhado é anterior a essa fase de transição de governo e foi filmada em plena campanha eleitoral.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.