Têm sido partilhadas nas redes sociais várias publicações onde é alegado que Itália não registou qualquer nascimento durante os meses de agosto, setembro e outubro deste ano, ou seja, durante três meses consecutivos.
Numa das publicações em causa, é expressado que “a verdade começa a vir à superfície” e que “os objetivos deles começam a ser alcançados”. É dito que, “infelizmente, Itália chegou recentemente a um nível nunca visto, já que não foram registados nascimentos no país inteiro durante três meses. Incrivelmente duro é dizer pouco.”
O utilizador escreve esta publicação juntamente com o hashtag “Agenda2030”, relacionando este suposto acontecimento histórico com um documento das Nações Unidas, assinado em 2015, no contexto de uma cimeira daquela organização, em que são estabelecidos 17 objetivos da agenda para a erradicação da pobreza e o desenvolvimento económico, social e ambiental à escala global. Um documento que tem servido, aliás, de ponto de base para a difusão de informações falsas (como esta, por exemplo).
Mas a informação alegada — a de que não foram registados novos nascimentos nos meses mais recentes em Itália — é falsa. Os dados preliminares publicados pelo Instituto Nacional de Estatística italiano (ISTAT) apontam que foram registados milhares de nascimentos todos os meses deste ano. Numa resposta à Reuters, o ISTAT explica que nestes três mais recentes meses de dados disponíveis há registo de uma média de 30 mil nascimentos em Itália. O instituto acrescenta que os números preliminares para os meses subsequentes são da mesma dimensão.
Na área do ISTAT dedicada à população e família, podemos ter acesso aos dados oficiais sobre natalidade e fecundidade. É, desde logo, apontado que o “declínio nas taxas de natalidade continua em 2023”. Numa área que contém os números detalhados sobre a população italiana, conferimos que, em agosto de 2023, uma das datas sujeita a verificação de factos, nasceram 33.093 bebés. Este quadro contém o número de nascimentos desde agosto de 2022 até à data. Não há números mais recentes, já que a estatística está sempre a ser atualizada. No entanto, podemos analisar os que estão já disponíveis, olhar para os dados provisórios e fazer estimativas — como é norma desta ciência.
Nesta tabela de dados demográficos, lemos que em janeiro de 2023 nasceram cerca de 33 mil bebés; em fevereiro, 28 mil; em março registam-se 29 mil nascimentos; já em abril há 26 mil bebés a nascer em Itália; em maio, 30 mil; em junho, 31 mil; e, por fim, em julho houve 30 mil nascimentos. Como podemos ver, apesar de irregulares, os números são matematicamente positivos. Registam-se nascimentos em todos os meses já estudados. Vale apontar que, apesar de publicados, todos este dados quantificáveis são considerados, pelo Instituto de Estatística italiano, como “provisórios”.
Olhamos agora para as estimativas futuras. De acordo com os dados provisórios do instituto de estatística italiano, publicados a 26 de outubro, os nascimentos entre janeiro e junho — ou seja, na primeira metade do ano — são cerca de 3.500 menos do que no mesmo período de 2022.
Assim, o número médio de filhos por mulher cai para 1,24. Quanto ao futuro, a estimativa provisória para os primeiros 6 meses deste ano destaca uma taxa de fecundidade de 1,22 filhos. Todos estes dados, foram retirados do relatório oficial do ISTAT.
Questionado pela agência de notícias Reuters, o porta-voz do ISTAT aponta que os números de agosto, setembro e outubro estão a ser processados e vão ser tornados públicos assim que estejam disponíveis. Mesmo assim, a agência explica que a comunicação social italiana aponta nascimentos nos meses de setembro, outubro e novembro deste ano.
Conclusão
É falso que não haja registo de nascimentos em Itália nos meses de agosto a outubro deste ano. Os dados do instituto nacional de estatística italiano mostram que nasceram cerca de 30 mil bebés no mês de agosto. A organização encarregada dos dados demográficos aponta que a estimativa para os meses que se seguem é de números nessa ordem.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.