“Um Governo único universal”, “um único Exército”, “uma única religião”. São apenas alguns exemplos da longa lista de imposições que a Agenda 2030 das Nações Unidas preconiza para todo o mundo — ou, pelo menos, é isso que garante uma publicação que circula no Facebook e que já conta com mais de 100 partilhas e outros tantos comentários.

Na publicação, é partilhada uma imagem intitulada “A Agenda 2030 das Nações Unidas” em inglês, com a lista de imposições. A acompanhar a imagem vem um texto onde se diz que existe uma “agenda” promovida por uma “pirâmide de controlo” onde se incluem famílias como as milionárias Rothschild e Rockefeller, que lideram um “sistema financeiro fraudulento”, uma indústria farmacêutica “criminosa e assassina”, a comunicação social e todas as grandes empresas mundiais, bem como governos.

“Para quem não entende que Bigger Picture é que eu me estou a referir, então pesquisem sobre o Great Reset do World Economic Fórum, Agenda 20/30 das Nações Unidas, agenda da Nova Ordem Mundial”, pode ler-se na publicação. “Não são teorias da conspiração mas sim conspirações contra 99,9% de toda a Humanidade”, acrescenta-se.

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A Agenda 2030 do Desenvolvimento Sustentável é um documento aprovado pelos Estados-membros das Nações Unidas em 2015, que cria um plano para atingir uma série de objetivos até 2030. Segundo o site da ONU, estes objetivos, apelidados de Objetivos Para o Desenvolvimento Sustentável, são uma série de metas relacionadas com “o fim da pobreza, a proteção do planeta e a melhoria de condições de vida de todos, em todo o lado”.

Já o Great Reset do World Economic Forum é uma iniciativa criada na sequência da crise provocada pela pandemia de Covid-19 que pretende aconselhar os líderes mundiais relativamente “ao estado das relações globais, à direção das economias nacionais, às prioridades das sociedades, à natureza dos modelos de gestão”, de acordo com o seu site.

Relativamente à Nova Ordem Mundial, trata-se de uma conhecida teoria da conspiração que defende que existe uma elite com uma agenda globalista que tenta uniformizar e dominar o mundo — precisamente a mesma tónica desta publicação.

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Olhemos então para a Agenda 2030, a fim de perceber se há alguma referência às imposições mencionadas, como a de impor “um único Exército” e “uma única religião”. O documento, que foi aprovado na Assembleia-Geral da ONU em 2015, pode ser consultado na íntegra online. Logo ali pode ler-se no preâmbulo quais os propósitos assumidos pelos signatários: acabar até 2030 com a pobreza e a fome nível mundial, combater as desigualdades, construir sociedades inclusivas, proteger os direitos humanos e em particular os das mulheres e garantir a proteção do planeta e dos seus recursos. Não há qualquer referência a uma uniformização mundial em áreas específicas como a militar ou a religiosa, nem de outro tipo como as mencionadas na publicação, como o “fim das propriedades privadas” ou a “implantação de nanotecnologia”.

Mas vejamos em pormenor. Algumas das afirmações que surgem na publicação de Facebook são as de que a Agenda 2030 tem como objetivo criar “um governo único universal” e impor o “fim das soberanias nacionais”. Ora, tais princípios estão claramente refutados no documento original, onde se pode ler que os signatários reafirmam que “cada Estado tem total soberania permanente e deverá exercê-la livremente relativamente a toda a sua riqueza, recursos naturais e atividade económica”.

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Também a ideia de que a Agenda 2030 serve para impor uma “religião única” é rapidamente desmentida com uma consulta rápida ao documento. Nele pode ler-se que é pedido aos Estados que não apliquem qualquer forma de discriminação “em relação a raça, cor, sexo, língua, religião, crença política, origem nacional ou social, propriedade, nascimento, deficiência ou qualquer outra condição”. Noutro ponto da Agenda, é ainda dito que se espera que até 2030 haja uma inclusão total de todos os cidadãos, “independentemente da idade, sexo, deficiência, raça, etnia, origem, religião ou situação económica”.

Relativamente à questão de um “exército único”, tal não só não está plasmado no documento como parte da sua informação aponta em sentido contrário. A Agenda 2030 tem um espírito pacifista e sublinha a necessidade de “construir sociedades pacíficas, justas e inclusivas”. Pede ainda aos Estados-membros da ONU que “reforcem os seus esforços para resolver e prevenir conflitos”.

Conclusão

Não há nada no Agenda 2030 que afirme diretamente a vontade de aplicar planos como o de estabelecer uma “religião única” ou um “Exército único”. Além disso, o próprio espírito do documento é contrário a tais ideias: sublinha repetidamente o princípio de não-discriminação em função da religião e afirma-se a favor de princípios pacifistas e de resolução de conflitos militares.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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