Francisco Rodrigues dos Santos decidiu este ano levar na lapela um cravo branco para a sessão solene do 25 de Abril na Assembleia da República. Num claro statement, o líder do CDS-PP haveria depois de explicar aos jornalistas, no final da sessão, a utilização do cravo branco recorrendo a uma história que afirmava tinha sido contada por Salgueiro Maia. Citando o capitão de Abril, Francisco Rodrigues dos Santos explicou que “quando os militares chegaram ao Rossio, ofereceram-lhes cravos brancos e vermelhos, mas os fotógrafos valorizaram mais os vermelhos pela associação à esquerda”.

Rapidamente, nas redes sociais, vários utilizadores recomendaram ao líder centrista que voltasse às aulas de história, por ter insinuado que os comunistas eram os responsáveis pela cor dos cravos distribuídos no Rossio, no dia da Revolução. Há também quem diga que não há qualquer conotação ideológica e que chame “pateta” ao líder do CDS. Mas Francisco Rodrigues dos Santos errou?

Publicação no Twitter sobre declarações de Francisco Rodrigues dos Santos

Mais um tweet que questiona a versão de Francisco Rodrigues dos Santos

A resposta é: não. De facto, no programa ‘As últimas palavras de Salgueiro Maia’ emitido pela SIC (resultado do resumo de uma entrevista dada ao centro de documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra), Salgueiro Maia explicou que o facto de os cravos vermelhos terem ficado mais na história da revolução teve que ver apenas com a “valorização dos fotógrafos” às flores daquela cor.

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As flores que existiam nessa altura eram cravos brancos e cravos vermelhos. Pegam nas flores que têm ali e começam-nos a oferecer os cravos, aparecem pessoas a oferecer tudo inclusivamente um homem com um presunto e uma faca a oferecer pedaços de presunto. Neste contexto, os fotógrafos, porque naturalmente o vermelho é sinónimo de esquerda e tem um certo enquadramento, começam a valorizar as fotografias dos cravos vermelhos, mas a realidade é que os cravos são vermelhos e brancos, eram os que estavam à venda, assim como alguns jarros”, explica Salgueiro Maia num programa que revisita momentos importantes da Revolução de 25 de Abril.

No mesmo programa é possível ouvir ainda o Capitão de Abril a explicar que “milicianos e civis estavam perfeitamente fora do contexto” e que “99,9% do MFA não tinha qualquer influência marxista ou de outra natureza qualquer”, o que, por outro lado, afasta a ideia que os militares tenham preferido o vermelho por razões ideológicas.

De facto, Francisco Rodrigues dos Santos depois de citar Salgueiro Maia no programa emitido na SIC, alonga-se em considerações sobre a cor mais comummente utilizada nas celebrações do 25 de Abril — o vermelho — afirmando que é necessário libertar “Portugal desta hegemonia socialista” e que o “25 de Abril também se fez para que não sejam todos vermelhos”, mas isso não apaga a citação correta que fez de Salgueiro Maia e a explicação da existência de cravos de duas cores no dia da Revolução. Aliás, Salgueiro Maia acrescentou ainda que, além dos cravos, foram distribuídos também jarros. Eram as flores que havia à venda no dia no Rossio, sem qualquer conotação atribuída a quem as distribuiu.

A conotação com a esquerda é admitida depois pelo Capitão de Abril, associando-a aos fotógrafos de serviço, que privilegiaram os cravos vermelhos nas imagens, já que é a cor associada à esquerda política.

Conclusão

Francisco Rodrigues dos Santos não errou quando citou Salgueiro Maia. O Capitão de Abril explicou que no Rossio foram distribuídos cravos de duas cores e ainda jarros, as flores que as floristas tinham para venda nesse dia. De facto, há registos de Salgueiro Maia a detalhar que os cravos eram brancos e vermelhos e que os fotógrafos que registavam o momento preferiram os cravos vermelhos aos brancos porque a cor se associa à esquerda política. A explicação que Francisco Rodrigues dos Santos deu aos jornalistas depois da sessão solene na Assembleia da República está correta, ao contrário das várias publicações nas redes sociais que indicam que o líder do CDS-PP estava errado e que “falhou as aulas de história”. Não é possível verificar se Salgueiro Maia estava correto quando disse que os fotógrafos privilegiaram os cravos vermelhos por razões ideológicas, mas é possível verificar que Francisco Rodrigues dos Santos citou corretamente o que disse Salgueiro Maia.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:


ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

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