Circulam nas redes sociais várias publicações que alegam que o Presidente do Brasil, Lula da Silva, teria decretado o fim das aplicações de entrega no país, uma vez que estas plataformas exploram os trabalhadores.
Em várias publicações consultadas pelo Observador, lêem-se variações de frases como “Lula decreta fim do aplicativo de entrega, vc motoboy que votou nele faz o L” — uma referência a uma expressão idiomática brasileira usada contra quem foi alertado para determinado problema e agora está a sofrer as consequências das suas escolhas, mas que também é usado (em tom elogioso ou depreciativo) numa referência a Lula da Silva, quer por apoiantes quer por opositores.
Contudo, esta informação é liminarmente falsa. Não existe qualquer diploma legal nesse sentido no Diário Oficial da União (DOU) nem nos atos do Congresso brasileiro e o governo brasileiro nunca publicou qualquer lei ou norma proibindo as aplicações de entregas (é também isso que aponta, entre outros, o Aos Fatos — que, à semelhança do Observador, é membro da Rede Internacional de Fact-Checking, IFCN, do Poynter Institute for Media Studies).
A origem deste rumor parece ser, contudo, uma intervenção de Lula da Silva durante uma reunião com a Confederação Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA), cujo texto integral se encontra na página do governo brasileiro.
“As fábricas já não têm a quantidade de trabalhadores que tinham, o trabalho informal ganha dimensão maior do que o trabalho formal, e as empresas de aplicativo exploram os trabalhadores como jamais, em outro momento da história, os trabalhadores foram explorados”, disse Lula da Silva nesse evento.
“Cabe outra vez aos dirigentes sindicais encontrar uma saída que permita que a classe trabalhadora do mundo inteiro possa reconquistar o seu espaço, não apenas na sua relação com seus empregadores, mas nas conquistas da segurança social que os trabalhadores estão perdendo em muitos países do mundo”, acrescentou.
Uma citação desta intervenção de Lula da Silva ganhou circulação viral nas redes sociais por ter sido incluída no programa Pingos nos Is, da estação televisiva brasileira Jovem Pan — e um vídeo desse momento do programa pode ser encontrado a acompanhar várias das publicações que alegam que Lula decretou o fim das aplicações de entregas.
Por outro lado, o facto de tanto Lula da Silva como o ministro do Trabalho do Brasil, Luiz Marinho, já terem feito declarações no sentido de prometer uma regulamentação para o trabalho nas aplicações poderá estar na origem destes boatos. Segundo a imprensa brasileira, o governo deverá ter uma proposta sobre o assunto ainda na primeira metade deste ano.
Conclusão
As publicações que alegam que Lula da Silva decretou o fim das aplicações de entrega no Brasil são falsas: não há qualquer ato legislativo no país nesse sentido. A origem do boato poderá estar na origem num conjunto declarações de Lula da Silva, que considera que as aplicações de entrega exploram os trabalhadores e que também já prometeu que irá regulamentar o setor.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.