Em fevereiro, em plena semana do Carnaval, seis municípios do litoral do Estado brasileiro de São Paulo foram atingidos por chuvas torrenciais que fizeram dezenas de vítimas mortais e forçaram mais de duas mil pessoas a abandonar as suas casas.

Foi decretado estado de calamidade, nas cidades de São Sebastião, Ubatuba, Ilhabela, Caraguatatuba e Bertioga. Dias depois, o OPresidente Lula da Silva sobrevoou a área afetada pelas cheias e esteve ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (eleito pelo partido de Jair Bolsonaro) e do presidente de câmara de São Sebastião (eleito pelo Partido da Social Democracia Brasileira) para mostrar ao povo do Brasil “um governador, um presidente e um prefeito” de partidos diferentes a trabalhar “em função de uma coisa comum e que atinge todos nós”.

Mas estão a ser partilhadas dúvidas nas redes sociais sobre a atuação do Governo Federal do Brasil, durante as cheias que atingiram o Estado de São Paulo. No Facebook, um utilizador partilha duas imagens, lado a lado, de duas notícias da Globo.

A primeira notícia, de 31 de dezembro de 2021, destaca como título: Jair Bolsonaro liberta “700 milhões de reais para assistência à população de áreas afetadas pelas fortes chuvas”. Estas cheias provocaram 45 mortes e deixaram mais de cem mil pessoas desalojadas, na Bahia e em Minas Gerais. A segunda notícia refere-se à atuação do Governo de Lula da Silva relativamente às cheias mais recentes, em fevereiro de 2023, em São Paulo: “Governo federal anuncia dois milhões de reais para ajudar as vítimas do temporal no litoral de São Paulo.”

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O autor da publicação compara estes dois valores, para acusar Lula da Silva de “economizar na catástrofe” para “pagar muito mais a artistas“. Esta comparação chegou a ser feita pelo menos por dez deputados, como Gustavo Gayer ou o filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro, como conta o portal de verificação de informações falsas brasileiro Lupa.

Publicação compara atuação de governos de Jair Bolsonaro e Lula da Silva perante catástofes ambientais no Brasil.

Publicação compara atuação de governos de Jair Bolsonaro e Lula da Silva perante catástofes ambientais no Brasil.

Como os números indicam, as fortes chuvas que atingiram o Brasil no final de 2021 tiveram um impacto significativamente maior do que as cheias de fevereiro de 2023. Em 2021, morreram 45 pessoas e 108 mil ficaram desalojadas. Em 2023, morreram mais pessoas — no total, 65, segundo os dados mais recentes — e ficaram desalojadas 2.440. Por isso, a comparação é desde logo enganadora, por avaliar catástrofes com impactos completamente diferentes. E os valores comparados na publicação também não correspondem à realidade.

Não há dúvidas de que, de facto, Jair Bolsonaro mobilizou 700 milhões de reais (cerca de 120 milhões de euros) para apoiar a população da Bahia e de Minas Gerais. Em relação ao governo de Lula, os dois milhões de reais (cerca de 360 mil euros) não foram o único apoio do governo federal para ajudar as vítimas das chuvas no litoral de São Paulo. Dias depois, o Governo brasileiro anunciou mais sete milhões de reais — de acordo com o ministro, “por determinação do Presidente Lula” — para ajudar os municípios do Litoral Norte de São Paulo.

Em resposta ao meio de comunicação Lupa UOL, o Ministério do Desenvolvimento Regional indica que, até ao final do mês de fevereiro, tinham sido destinados mais de 12 milhões de reais aos municípios no litoral de São Paulo (São Sebastião, Bertioga, Guarujá, Ubatuba, Caraguatatuba). No entanto, a estimativa do governo federal é de que o valor total das ajudas ao Estado de São Paulo ultrapasse os 120 milhões de reais, em ajuda humanitária e também em ajuda para reconstruir os danos provocados pelas cidades brasileira.

Conclusão

Não é verdade que o Governo de Lula da Silva tenha mobilizado apenas dois milhões de reais para responder aos efeitos das cheias que atingiram algumas cidades no litoral do Estado de São Paulo, enquanto o Governo de Jair Bolsonaro mobilizou 700 milhões de reais para colmatar as consequências de cheias que ocorreram dois anos antes.

Além de as situações não serem comparáveis (em dezembro de 2021, as cheias na Bahia e em Minas Gerais fizeram mais de 100 mil desalojados, enquanto as cheias de fevereiro de 2023 fizeram mais de dois mil), o Governo brasileiro estima gastar 120 milhões de reais em ajuda enviada a São Paulo e já gastou mais de 12 milhões e não os dois milhões que foram noticiados nos primeiros dias a seguir às cheias.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

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