A solução para as filas de várias horas no aeroporto de Lisboa? Os turistas ficarem responsáveis por organizar melhor as suas próprias datas de chegada, terá dito o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro. Pelo menos, é isso que uma publicação no Facebook alega, supostamente mostrando o frame em que o momento foi transmitido, em direto, na televisão.

Indignado, este utilizador do Facebook refere o caos que se viveu no aeroporto de Lisboa, especificamente a 29 de maio — dia em que decorreu uma reunião dos trabalhadores do SEF que paralisou as filas de espera no aeroporto, com passageiros de voos internacionais de fora da Europa a terem de esperar várias horas no controlo dos passaportes.

E diz ter ouvido Carneiro, na televisão, a fazer a seguinte sugestão: “Os turistas têm que organizar melhor a sua data de chegada”. “‘Porreiro pá!’, como dizia o eng. Sócrates. Organizem-se e vão para o País vizinho”, conclui, em tom de ironia, o utilizador.

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Acontece que José Luís Carneiro não disse isto. Desde logo, é possível constatar, no frame que partilha na sua conta de Facebook, que a suposta citação de um ministro muito risonho, que parece tirada do telejornal de domingo da SIC, está escrita num tipo de letra diferente, que não corresponde ao estilo usado pelo canal em todos os seus telejornais. Tudo indica, por isso, que se trata de uma imagem manipulada.

Depois, vendo as imagens que correspondem às declarações feitas pelo ministro nesse dia, à margem das celebrações do Dia Nacional do Bombeiro, em Lamego, constata-se que Carneiro classificou o que aconteceu no aeroporto como “muito sério” e anunciou um plano de contingência para evitar situações semelhantes, recrutando mais recursos humanos em várias estruturas de trabalhadores do SEF por todo o país.

“O direito à realização dos plenários é um direito inalienável dos trabalhadores. Contudo, é muito importante em cada momento avaliar o exercício desse direito”, defendeu o ministro. Mas contrapôs: esse direito não pode pôr em causa “outros valores também muito importantes, nomeadamente os valores relativos ao interesse do país e à imagem que o país dá para os milhares de turistas que procuram Portugal e que não compreendem como é que podem estar três, quatro horas, à espera no aeroporto”.

Carneiro falou ainda sobre o momento da chegada dos turistas, dizendo que se sabe que as 9h e as 11h — hora para a qual o plenário dos trabalhadores estava marcado — são o período do dia em que chegam em maior número. “Entre as 9h e as 11h chegam entre 3.500 e 4.000 passageiros”, afirmou. “O país não pode bloquear porque se entende convocar um plenário de trabalhadores para uma hora em que o país mais é procurado por parte dos visitantes de todos os países do mundo que querem conhecer Portugal e que têm de Portugal uma imagem muito positiva”.

Em resumo, Carneiro não só não responsabilizou os turistas pela confusão, aconselhando a que mudassem a data de chegada, como criticou por várias vezes os trabalhadores que marcaram greve para a hora em que se registam mais chegadas.

Mais recentemente, o ministro disse ao jornal Público que uma nova falha levará à demissão de responsáveis no aeroporto. Mas também já veio adiantar que este fim de semana se verificou uma “normalização no funcionamento das entradas e saídas de passageiros no aeroporto de Lisboa, muito pelas medidas imediatas implementadas”.

Conclusão

Não é verdade que José Luís Carneiro tenha sugerido aos turistas que mudem as suas datas de chegada para resolver o caos e as filas de espera no aeroporto Humberto Delgado. É possível verificar que a imagem é manipulada e, assistindo às declarações do ministro, que Carneiro nunca disse essa frase. O que disse foi, aliás, em sentido contrário: que é preciso defender a imagem de Portugal junto de quem chega — criticando, de resto, a hora escolhida para a reunião de trabalhadores, que é aquela em que chegam mais turistas ao aeroporto.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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