Uma publicação que se tornou viral no Facebook afirma que a dor máxima suportada pelo ser humano equivale a “45 unidades”, acrescentando que a mulher experiencia 57 unidades de dor durante o parto. Na publicação lê-se também que essa intensidade equivale a sofrer 20 fraturas de ossos em simultâneo.

Existem publicações semelhantes com milhares de partilhas no Facebook, mas também aparece noutras redes sociais e em sites sobre maternidade e gestação, pelo menos desde 2010. A informação não circula apenas em Portugal, uma vez que há publicações em espanhol, em francês e em inglês com as mesmas afirmações.

Porém, não se consegue apurar a veracidade destas afirmações. João Bernardes, diretor do departamento de ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), explica que existem escalas para medir a dor mas que “são pouco objetivas, porque a dor é também algo pessoal e subjetivo”.

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O método usado pela maioria dos médicos consiste em avaliar sintomas que são descritos pelo paciente. Além disso, é utilizada internacionalmente apenas uma escala numérica que compreende números entre 0 e 10.

As escalas recomendadas pela Direção Geral de Saúde (DGS) avaliam a dor dos pacientes de três formas distintas: analógica, numérica ou qualitativa. Todas as escalas dependem da observação e das descrições do paciente.

“A escala visual analógica é uma régua com 10 centímetros, em que o zero é o mínimo e 10 o máximo de dor, pedindo-se à grávida para assinalar com um ‘x’ o ponto da escala que considera adequado”, explica João Bernardes. O procedimento de avaliação de dor é semelhante também nas outras escalas. Na escala numérica, a dor é cotada de 0 a 10; na analógica existem cinco caixas com os graus de dor escritos (ausência de dor; dor ligeira, moderada, intensa e extrema); e na escala qualitativa é usado um esquema de faces que simulam o grau de dor.

Por fim, não é possível afirmar que a intensidade da dor do parto seja equivalente a sofrer 20 fraturas ao mesmo tempo. O professor João Bernardes desconhece a existência de publicações científicas que sustentem esta afirmação, mas conta que “a generalidade dos autores refere que, em cerca de 30% dos partos, a dor é descrita como a pior dor possível, sem paralelo na medicina”.

Conclusão:

Não é verdade que o máximo de dor suportada pelo ser humano seja “45 unidades”. As escalas de medição de dor usadas pelos médicos portugueses não compreendem números acima dos 10. Para além disso, a medição da dor depende em todos os casos da descrição do próprio paciente. Por essa razão, não se pode também afirmar que a dor do parto corresponde a “57 unidades” de dor nem fazer a comparação com outras dores usando esta escala.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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