Catorze anos depois de ter sido aplicado um corte de 5% aos salários dos políticos — no contexto de uma crise financeira que resultou na intervenção externa no país –, o Parlamento revogou essa medida. A decisão tem estado na origem de várias publicações nas redes sociais, mas nem todas rigorosas.

É recorrente a crítica direta à aprovação da medida que resultou de uma iniciativa do PSD (que contou com os votos favoráveis dos deputados do PSD, CDS-PP, PS e PAN). Nesta publicação em concreto, a decisão é considerada uma “vergonha nacional”. “Aumentam 5% nos ordenados dos políticos e 1,25% nas reformas?!”, indigna-se este utilizador do facebook.

Comecemos pela parte em que o utilizador se refere à medida como um “aumento” de salários dos políticos. A decisão tomada revoga o corte nos salários de titulares de cargos políticos e dos gestores públicos, não se tratando de um aumento dos mesmos. Em 2010, o Governo liderado por José Sócrates avançou com o congelamento de 5% dos salários base dos políticos, o que incluía, por exemplo, o Presidente da República, o primeiro-ministro, deputados, membros do Governo, presidentes de Câmara ou gestores de empresas públicas, como a Caixa Geral de Depósitos. A medida foi tomada por acordo entre PS e PSD, no âmbito do “conjunto de medidas adicionais de consolidação orçamental” e, até agora, era uma das poucas medidas tomadas durante essa crise financeira que não tinha sido revertida.

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Ao longo dos últimos anos houve responsáveis políticos, como o anterior primeiro-ministro, António Costa, que chegaram a falar na necessidade de “devolver normalidade ao quadro remuneratório também dos políticos”, mas o descongelamento nunca chegou a avançar. Quando, no âmbito do Orçamento do Estado para o próximo ano, o PSD apresentou o fim do corte, o PS ainda chegou a contrapropor que a medida se aplicasse apenas a futuros mandatos e não aos atuais, mas acabou por alinhar com a intenção inicial social-democrata.

Os cortes dos salários dos políticos vão mesmo acabar em janeiro de 2025, com PSD, PS, CDS e PAN a concordarem com a medida. O PCP absteve-se na votação e o Chega, a IL, o Bloco de Esquerda e o Livre votaram contra. O Chega anunciou mesmo que vai renunciar ao descongelamento, o que não é possível, de acordo com o que foi comunicado pelos serviços da Assembleia da República. No dia da votação final global do Orçamento, o partido liderado por André Ventura colocou tarjas no edifício da Assembleia da República contra o fim dos cortes dos salários dos políticos, a que se referia como um aumento.

Quanto à medida que é utilizada para contrapor a esta, o aumento de 1,25% nas pensões, também carece de contextualização. O aumento referido na publicação em análise diz apenas respeito ao aumento extraordinário — que foi aprovado por proposta de alteração do PS ao Orçamento de 2025, contra a vontade do Executivo –, não incluindo o que resulta do aumento automático das pensões.

De acordo com esse mecanismo de atualização automática — que também esteve congelado entre 2011 e 2015 –, as pensões dependem do indexante de apoios sociais, que no próximo ano vai subir 2,6%. Assim, no próximo ano, as pensões até aos 1.045 euros sobem na mesma proporção (até aos 3.135 euros sobem 2,15 e 1,85%  até 6.270 euros). Ao aumento de 2,6% acresce o que vem do aumento extraordinário e que se aplica às pensões até 1.567,5 euros (três vezes o valor do IAS): os tais 1,15%.

Conclusão

É enganador dizer que os políticos vão ser aumentados. O que vai acontecer a partir de janeiro de 2025 é que vai terminar a aplicação de um corte de 5% aos salários dos titulares de cargos políticos e dos gestores públicos, que dura desde 2010. O congelamento aplicado a salários durante os últimos catorze anos vai deixar de vigorar. Além disso, o aumento das pensões referido na publicação é apenas o que resulta do aumento extraordinário decidido para o próximo ano, desconsiderando-se os 2,6% que resultam da aplicação da regra de atualização automática.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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