Com o país em estado de emergência, uma das primeiras medidas que o Governo tomou foi a de limitar a circulação em espaços públicos que têm de permanecer abertos: é o caso dos supermercados e hipermercados, que continuam a funcionar no horário normal, em alguns casos, ou com alterações de horário, noutros casos. Inicialmente, alguns jornais avançaram, baseando-se num documento de trabalho que estaria em cima da mesa do Conselho de Ministros, que o governo iria decretar um horário específico para os idosos irem às compras (por serem grupo de risco para a Covid-19), mas tal não chegou a avançar.
No final da semana passada, com estes cenário em pano de fundo, tornou-se viral no Facebook uma publicação com os supostos novos horários de funcionamento dos super e hipermercados em Portugal. O Observador confirmou um a um e concluiu que os horários, contudo, não correspondem à realidade. A publicação foi partilhada centenas de vezes a 19 de março e teve mais de 16 mil visualizações só no espaço de 24 horas.
Em relação ao suposto horário para pessoas mais com de 65 anos, não existe essa opção em nenhum dos estabelecimentos comerciais. O governo recomendou apenas que as pessoas com mais de 70 anos, bem como as que sofrem de outras doenças, se abstenham de sair de casa, a não ser em situações excecionais, como deslocarem-se às unidades de saúde, ou acederem a serviços essenciais, devendo manter nesse caso as distâncias recomendadas. A recomendação é simples: “evitar a todo o custo qualquer deslocação para fora da residência”, devendo ser os familiares, amigos, vizinhos e autarquias locais a ajudar este segmento da população nas necessidades diárias de aquisição de bens essenciais.
Aalém disso, nem o horário de funcionamento que aparece na publicação de Facebook está certo. Começando pelo Pingo Doce. Segundo se lê numa “carta aberta” escrita por aquela rede de supermercados aos clientes, “no âmbito dos esforços para conter a propagação do vírus, desde 16 de Março, as lojas Pingo Doce têm, temporariamente e por tempo indefinido, novos horários“, variando de loja para loja, sendo que a abertura varia entre as 9h e as 11h e o encerramento entre as 19h e as 20h. “Cada loja tem a sua equipa dividida em grupos, possibilitando a rotação das equipas a cada 15 dias. Assim, teremos sempre profissionais em prontidão e os nossos colaboradores podem, rotativamente, resguardar-se em casa”, lê-se ainda na mesma nota. À data de publicação deste artigo, o site do Pingo Doce estava em baixo, mas para saber a que horas abre ou fecha o Pingo Doce mais perto da sua casa pode ligar para o número de apoio ao cliente 808 204 545.
Ou seja, ao contrário do que diz a publicação, não há nem horário próprio para idosos, nem qualquer paragem entre as 14h e as 16h.
Quanto ao Continente, segundo se lê no site, os horários mantêm-se iguais, mas há limitações na entrada dos clientes, não podendo ultrapassar o rácio de 4 clientes por cada 100 metros quadrados, numa fiscalização que é feita pelos elementos da equipa de segurança das lojas. “Os horários das lojas Continente não foram alterados. Adicionalmente, para segurança dos nossos clientes e colaboradores, estamos a regular a entrada nas nossas lojas de acordo com a portaria nº 71/2020 do Diário da República. O número de clientes em cada loja não deve ultrapassar 4 clientes por cada 100 m2. As entradas nas lojas estão a ser monitorizadas por elementos da equipa de segurança”, lê-se ainda.
Os horários das várias lojas podem ser consultados aqui, variando entre as 8h/8h30 e as 21h/23h. E há prioridade para “Profissionais de Saúde, Forças de Segurança e Grupos de Risco, quer na entrada em loja quer no atendimento”.
Em relação ao Lidl, há de facto novos horários, sendo que devido ao surto do novo coronavírus todas as lojas fecham às 19h a partir do dia 15 de março. O horário de abertura é habitualmente às 8h30, mas pode consultar a lista completa aqui. Mais: adicionalmente, a cadeia de lojas Lidl impôs ainda, por opção, um horário alargado de 30 minutos antes da abertura da loja e 30 minutos depois do encerramento da loja apenas para aqueles que continuam a trabalhar para combater o vírus: Forças da Segurança, Profissionais de Saúde, Bombeiros, Proteção Civil, Entidade de apoio social e Colaboradores Lidl.
Quanto aos idosos, não há nenhum período próprio para aceder às lojas, mas o Lidl reforça que “os idosos, grávidas, deficientes, acompanhantes de crianças de colo, pessoas de risco, entidades de apoio social e forças de segurança, bombeiros, profissionais de saúde e proteção civil têm prioridade de acordo com as disposições legais em vigor”. Restrições no acesso às lojas também há em função da dimensão de cada loja: “Adicionalmente o acesso será restrito estando limitado o número de clientes em função da área de cada loja”, lê-se ainda.
A cadeira de supermercados Minipreço é a que tem horários mais restritivos. Há, no site, uma lista detalhada de todas as lojas que estão com horário reduzido por prevenção devido ao surto de Covid-19, que pode consultar aqui. Muitas são as lojas que passam agora a trabalhar entre as 9h e as 13h e depois entre as 15h e as 19h. Algumas, contudo, como por exemplo a loja Minipreço da avenida Almirante Reis, em Lisboa, funciona sob contínuo entre as 9h e as 21h. Além disso, há também uma hora especial para atender apenas os que continuam a trabalhar na proteção de todos — os Profissionais de Saúde, Bombeiros e Forças de Segurança Pública — que varia de loja para loja, sendo regra geral a primeira hora da manhã, ou a última meia hora da tarde. Os horários completos estão aqui.
Conclusão:
A publicação que se tornou viral com os novos horários dos hipermercados não corresponde de todo à verdade. Como vimos acima, o Continente nem sequer mudou o horário das lojas, mantendo-se o mesmo mas com restrições no acesso. Quase todas as cadeias de supermercados preveem um sistema prioritário ou até mesmo um horário específico para atender apenas os profissionais de saúde, bombeiros e forças de segurança, mas não há, em caso nenhum, horário específico para idosos ou outros grupos de risco. Essa medida chegou a estar prevista num documento de trabalho do Governo, mas não foi para a frente. A recomendação do governo continua a ser para os idosos e outros grupos de risco evitarem ao máximo a ida a este tipo de espaços públicos, devendo fazê-lo apenas se for estritamente necessário e com as devidas precauções de higiene e segurança. De resto, todas as lojas têm restrições no acesso simultâneo, como está previsto na nova lei.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
De acordo com o sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook