O vídeo circula agora pelo Facebook descrito como um “atentado ao primeiro-ministro da Hungria”. Um ataque que saiu frustrado, já que “a arma falhou no momento do disparo”, segundo o texto que acompanha as imagens. A parte que refere que o atentado não foi consumado é verdadeira, mas é a mesmo a única.

No vídeo que acompanha esta publicação no Facebook — que a classificou como suspeita –, surge uma pessoa a discursar num púlpito e um outro homem a apontar-lhe uma arma e, depois, a ser derrubado e agredido por outros dos presentes no que parece ser uma conferência. No texto da publicação consta que se trata de um “atentado ao primeiro-ministro da Hungria”, seguindo-se algumas citações sem qualquer referência a fontes: “‘Primeiro-ministro húngaro escapa de um atentado. A arma falhou no momento do disparo. Lembremos que foi a embaixada da Hungria que hospedou Bolsonaro recentemente em Brasília”, remata ainda o mesmo texto.

O vídeo é retirado do The Guardian, mas a publicação não faz qualquer referência quanto à altura em que foi registado, nem há mais nenhum enquadramento do mesmo.

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Uma coisa é logo clara, o homem que se vê a ser alvo de um ataque não é o primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, mas sim Ahmed Dogan, milionário búlgaro e dirigente histórico do Movimento pelos Direitos e Liberdades.

O momento aconteceu em janeiro de 2013, em Sofia, na Bulgária, e foi noticiado em todo o mundo pela comunicação social, com a divulgação das imagens. No The Guardian pode mesmo ver a notícia da altura, com o vídeo que foi então feito pelo jornal, para mostrar o sucedido, e que está agora a ser usado nesta publicação.

Na altura, Dogan liderava a oposição ao Governo conservador de Boïko Borissov, e estava a discursar no Congresso do partido quando um homem de 25 anos, armado, subiu ao palco e apontou-lhe a arma à cabeça sem disparar. As televisões filmaram o incidente que correu mundo.

Mas existiram dúvidas sobre a origem e motivações do ataque, com a polícia a avançar na altura, de acordo com o The Guardian, que se tratava de  uma pistola de gás carregada com spray de pimenta. O mesmo jornal contava que o atacante, Oktai Enimehmedov, tinha etnia turca e teria deixado um bilhete em casa endereçado à mãe, dizendo que não tinha intenção de matar o líder do partido, mas simplesmente queria mostrar-lhe que este não era “intocável”. Chegou a ser levantada a suspeita de que o próprio partido poderia ter encenado a tal “tentativa de assassinato” numa eventual estratégia de vitimização, mas as autoridades que investigaram o caso concluíram que o agressor agiu sozinho.

Conclusão

As imagens partilhadas nesta publicação não dizem respeito a uma tentativa de atentado contra o primeiro-ministro da Hungria e não são sequer recentes. O vídeo mostrado é verdadeiro, mas tem onze anos e é do momento em que, durante uma intervenção no congresso do Movimento pelos Direitos e Liberdades, em Sofia (Bulgária), o líder do partido é atacado. Ou seja, na imagem está o milionário e político búlgaro Ahmed Dogan e não o primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, como consta na publicação.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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