Um alegado relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) começou a circular nas redes sociais e revela supostas estatísticas que os utilizadores classificaram como “chocantes”. Nomeadamente que, das 7,8 mil milhões de pessoas no mundo, 5,6 mil milhões são mulheres e 2,2 são homens: ou seja, que a população feminina é mais do que o dobro da masculina. Só que este relatório não é um relatório oficial da ONU, nem os dados demográficos desta organização de 2019 revelavam estes valores.

Segundo a publicação, o suposto relatório diz respeito a dados do primeiro trimestre 2019. Além do total de mulheres e homens, a publicação adianta mais valores. Por exemplo: dos supostos, 2,2 mil milhões de homens, mil milhões estão casados, 130 milhões estão presos e 70 milhões têm uma doença mental. O que leva o suposto relatório a uma primeira conclusão: “Isto significa que há apenas cerca de mil milhões de homens disponíveis para casar”. E continua: destes, 50% estão desempregados, 3% são homossexuais, 5% são padres, 10% são “os seus familiares” e 32% têm mais de 66 anos”. Por fim, a conclusão final em jeito de conselho: “Senhoras, tanto as casadas como as solteiras, têm de pensar bem antes de tratar qualquer homem como se fosse lixo“.

A publicação em causa que mostra o suposto relatório da ONU

A imagem partilhada nas redes sociais tem um link para um artigo de abril de 2019 do site de um jornal nigeriano, o Independent — que se apresenta como “o primeiro jornal e site de notícias verdadeiramente independente da Nigéria” — com a divulgação do suposto relatório. O texto da publicação é, aliás, a cópia integral do artigo publicado no site do Independent.

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O artigo do jornal The Independent

O artigo publicado no site do Independent

Desde logo, este alegado relatório não é da ONU. Um pesquisa no site desta organização intergovernamental ou até mesmo no Google não leva a nenhum relatório demográfico referente ao primeiro trimestre de 2019. Aliás, o assessor do Fundo das Nações Unidas para a População, Fredrick Okwayo, garantiu à AFP que estes dados não são da ONU, nem sequer esta organização publica relatórios populacionais trimestralmente.

A ONU publica sim relatórios sobre a população, mas a cada três ou quatro anos, segundo explicou ainda o assessor. O mais recente foi publicado em 2019 — o próximo será divulgado em 2022 — e está disponível no site da organização: intitula-se “2019 Revision of World Population Prospects”. Os dados revelados nesse relatório são bem diferentes dos divulgados pela publicação no Facebook.

População mundial em 2019 por sexo e a previsão para os 10 anos seguintes (Fonte: 2019 Revision of World Population Prospects)

À data, as estatísticas mostravam que a população global era de cerca de 7,7 mil milhões de pessoas: 3,82 mil milhões de mulheres e 3,89 mil milhões de homens. Além das estatísticas à data, o relatório apresentava ainda uma perspetiva da população mundial até ao ano de 2100. Também esses dados não preveem que o número de mulheres vá alguma vez ser mais do que o dobro do número de homens.

Conclusão

Um alegado relatório demográfico do primeiro trimestre de 2019 da ONU foi partilhado nas redes sociais e revela supostas estatísticas que mostram que, das 7,8 mil milhões de pessoas no mundo, 5,6 mil milhões são mulheres e 2,2 são homens: ou seja, que a população feminina é mais do que o dobro da masculina.

Só que este relatório não é um relatório oficial da ONU. A organização publica relatórios demográficos a cada três ou quatro anos e não trimestralmente. Além disso, os dados demográficos desta organização referentes a 2019 mostravam que a população global era de cerca de 7,7 mil milhões de pessoas: 3,82 mil milhões de mulheres e 3,89 mil milhões de homens.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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