As publicações relativas aos testes PCR multiplicam-se pelas redes sociais e a imagem partilhada por um utilizador sugere que este tipo de procedimento pode causar a morte a quem é testado, ao referir que o PCR é “mais perigoso” do que o novo coronavírus e que “uma em cada 10 mil [pessoas] morreu” devido a estes procedimentos.
O médico patologista Germano de Sousa garante ao Observador que se trata de uma declaração falsa e que “não há a mínima notícia ou prova de que morreu alguém” por ter realizado um PCR (na verdade, em julho de 2020, o jornal Saudi Gazete relatou o caso isolado de uma criança de 18 meses que terá alegadamente morrido por complicações na realização um teste).
Mais: é verdade que estes testes estão a ser usados para comprovar infeções pelo novo coronavírus, mas o especialista explica que se fazem “há anos, desde que há bacteriologia”, não sendo algo novo na medicina.
“Fazemos testes PCR agora, mas já fazíamos muito antes para pesquisa de secreções bacterianas, para pesquisa de outros vírus”, acrescenta, explicando que é usado um “conduto natural” nas narinas — “uma ligação que há entre a narina interior e a parte nasofaringica, a parte nasal posterior” — para colocar uma “zaragatoa que não faz mal a ninguém”, que é um “cotonete” e que tem como intuito “colher um pouco das secreções da nasofaringe”.
Germano de Sousa insiste que os profissionais se “limitam” a chegar a esse ponto pelo nariz e que esse método “serve para tudo”, nomeadamente “para colocar sondas, até sondas alimentares”.
Já relativamente ao SARS-CoV-2, há dois fatores que medem o número de mortos: a taxa de letalidade e a taxa de mortalidade. Segundo a Direção-Geral de Saúde (DGS), a “letalidade é obtida através da divisão do número de mortes pelo total de casos diagnosticados, relativamente a uma determinada doença”, e essa medida “dá uma ideia da gravidade da doença, uma vez que nos indica a percentagem de mortes causadas especificamente por essa doença (mortalidade específica)”. A taxa de mortalidade, por outro lado, é obtida através da “divisão do número de mortes pelo total da população de interesse, indicando assim qual o número de mortes por determinada doença, habitualmente por 100 mil habitantes”.
Como o Observador já explicou, estas taxas variam de país para país e até de região para região dentro do mesmo país. E, num momento em que está em curso uma campanha massificada de vacinação, esses indicadores deverão sofrer novas alterações (em baixa), à medida que a população adquire maior imunidade.
Apesar de a taxa de letalidade ser variável e ter sofrido várias alterações ao longo da pandemia da Covid-19, os dados internacionais revelam que a doença já matou mais de quatro milhões de pessoas por todo o mundo, ao contrário dos testes PCR, sobre os quais não há qualquer informação de que estejam associados a óbitos.
Esta é apenas mais uma informação falsa que circula no espaço público acerca dos testes PCR e do instrumento usado nesses testes, a zaragatoa. O Observador tem vindo a esclarecer vários equívocos neste âmbito, como, por exemplo, a ideia de os PCR dão 80% de resultados positivos falsos ou a alegação de que as zaragatoas são esterilizadas com veneno tóxico (que depois seria transmitido para o organismo), entre outros.
Conclusão
Não há qualquer prova científica de que um teste PCR tenha causado a morte a alguém, ao contrários dos milhões de mortes provocadas pela Covid-19 desde o início da pandemia, que são reportados todos os dias pelas autoridades de saúde de todos os países. Desta forma, é errado dizer que os testes PCR são “mais perigosos” do que o vírus, tendo em conta que os números são incomparáveis.
Ao Observador, o médico patologista Germano de Sousa afasta por completo a possibilidade de os testes levarem à morte, ao dizer que se trata de um procedimento usado em medicina há muitos anos, bem antes da existência do novo coronavírus. O especialista explica que o teste PCR utiliza uma zaragatoa para recolher secreções e que o material da mesma não pode danificar nenhuma das zonas por onde passa, sendo completamente seguro continuar a utilizar os testes PCR.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.