Uma publicação, que circula na rede social Facebook, alega que as estatinas — um dos medicamentos mais usados em todo o mundo para tratar o colesterol elevado e prevenir doenças cardiovasculares — são a maior causa de demência, nos EUA. “A maior causa de demência nos EUA está hoje associada ao uso prolongado de estatinas. Sim, os medicamentos prescritos para proteger o coração podem estar a afetar o cérebro”, lê-se no post.
O post alega ainda que estudos feitos recentemente apontam que “níveis cronicamente baixos de colesterol [o resultado do uso prolongado de estatinas] podem comprometer a saúde cognitiva, contribuindo para o declínio da memória, confusão mental e até demência”. Mas o que mostram os estudos já realizados e que procuraram estabelecer uma relação entre o uso de estatinas e a demência?
Em 2021, foi publicado no European Journal of Preventive Cardiology uma meta-análise, que agrupou 36 estudos sobre o tema, e que concluiu que as estatinas não só não aumentam o risco de demência como o diminuem. “Os resultados confirmam a ausência de um risco neurocognitivo relacionado com o tratamento com estatinas”, escreveu uma das autoras, a investigadora australiana especialista em Medicina Preventiva Maja-Lisa Løchen num artigo publicado no site do congresso anual da Sociedade Europeia de Cardiologia de 2022.
Contrariando as teorias não fundamentadas que circulam nas redes sociais, os autores do trabalho sublinharam também que é recomendável o uso de estatinas também em pessoas mais velhas, e que, mesmo nesta faixa etária, não há um risco aumentado de demência.
Um outro estudo, também de 2021, e publicado no Journal of the American College of Cardiology, reuniu grandes ensaios clínicos randomizados sobre o uso de estatinas em mais de 18 mil pessoas com 65 anos ou mais. Os autores do estudo dividiram a amostra em dois grupos e acompanharam os participantes durante um período de cinco anos. E concluíram que os utilizadores de estatinas não registaram maior risco de demência em comparação com os não utilizadores.
Conclusão
Não existem evidências científicas sólidas que associem o uso de estatinas a um maior risco de demência. Dois estudos de grande dimensão, realizados recentemente, afastam esse cenário.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.