No Facebook está a circular um vídeo onde se veem vários homens com roupas camufladas a executar civis, nomeadamente mulheres e crianças. Na descrição surge a sugestão de que se trata de soldados angolanos, mais precisamente com a referência a execuções realizados a mando de um alegado “ditador comunista de Angola”.

Ao contrário do que é dito na publicação, há várias provas de que as imagens não foram captadas em Angola, mas sim nos Camarões, sendo que no seguimento das investigações foram, inclusive, detidos sete militares responsáveis por aqueles atos.

O vídeo em causa não é de agora, começou a circular no dia 10 de julho de 2018 e há várias provas que desmentem a tese de se tratar de um ataque em território angolano, a começar pela língua usada no vídeo. Mais tarde, foi possível juntar mais dados que desmentem a alegada relação das imagens com acontecimentos realizados em território angolano — quer através das investigações independentes quer da decisão tomada pela justiça dos Camarões.

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Vamos por partes: em primeiro lugar, o diálogo que é possível ouvir no vídeo, segundo a AFP, revela que as pessoas terão sido executadas por pertencerem ao Boko Haram, um grupo extremista islâmico que atuou em vários países, nomeadamente nos Camarões.

Entre os vídeos divulgados, há um em que é possível ouvir um dos soldados a gritar, em francês, “Mexe-te BH, vais morrer”. Esta referência reporta para o grupo terrorista acima referido, e prova de que os militares falavam em francês — língua oficial dos Camarões —, o que não acontece em Angola, em que a língua materna é a portuguesa.

Antes das investigações terem sido concluídas, o governo do país foi um dos primeiros a reagir, assegurando que as notícias que estavam a ser divulgadas eram “falsas” e alvo de uma “terrível manipulação”. Porém, rapidamente surgiram desmentidos, até com as fontes da própria segurança do país a alertarem para a possibilidade de aquelas imagens terem sido captadas na região norte do país.

Por outro lado, uma investigação da Amnistia Internacional reportou que, através dos diálogos, das armas visíveis no vídeo e as roupas usadas, é possível perceber que os militares em causa são dos Camarões — o que, mais uma vez, vai contra a teoria de que estes acontecimentos ocorreram em Angola.

Pouco tempo depois, foi o próprio governo dos Camarões a anunciar que, no âmbito das investigações ao caso, foram detidos sete militares. No seguimento desta confirmação, o Executivo reportou que existe a vontade de garantir que “as atrocidades que possam ter sido cometidas por alguns soldados perdidos sejam sistematicamente investigadas e, se necessário, que as sanções apropriadas sejam aplicadas”.

Conclusão

Há várias provas de que os militares presentes no vídeo e responsáveis pela execução de civis não são angolanos, como se sugere na publicação do Facebook. Além de a Amnistia Internacional ter tornado público que as armas, roupas e diálogos remetiam para os Camarões, o próprio governo do país, depois de ter negado, acabou por confirmar a informação, o que levou à detenção de sete pessoas. Desta forma, pode comprovar-se que é falsa a afirmação da publicação em causa, sendo que os militares são dos Camarões e não de Angola.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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