Durante a audição ao presidente executivo do Novo Banco no Parlamento, a deputada Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, questionou António Ramalho sobre quem seriam os últimos beneficiários da compra da GNB Vida, uma seguradora herdada do universo Banco Espírito Santo (BES). E ao fazê-lo, referiu que a seguradora foi vendida por 123 milhões de euros.

De facto, esse foi o valor base da operação, no ano passado — que fica quase 70% abaixo do valor contabilístico que o banco inscreveu nas contas do primeiro semestre de 2019 —, mas também é verdade que a esse número acresce uma componente variável, de até 125 milhões de euros, que está indexada a objetivos de distribuição de seguros vida em Portugal ao longo de duas décadas.

Ou seja, a operação pode acabar por render um máximo de 248 milhões de euros, algo que não foi referido pela dirigente bloquista. Ainda assim, o valor fica bem aquém da avaliação de 440 milhões de euros que se registava quando se iniciou o processo de venda.

Este foi o ativo individual que mais custos gerou, entre agosto de 2014 e dezembro de 2018 — uma perda global de 380 milhões de euros, com impacto de 287 milhões de euros para o Fundo de Resolução bancária.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nesta audição, a deputada refere ainda que este é “um negócio que envolve um corrupto”, porque “na primeira venda que [o Novo Banco] fez, fez a venda a um homem que foi condenado por corrupção”.

Em causa está o magnata americano Greg Lindberg, que controla um conglomerado de seguros. A verdade, no entanto, é que não chegou a haver primeira venda, segundo a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), que regula o setor.

Perante as notícias que davam conta de problemas do empresário americano com a justiça, a ASF – ainda no tempo de José Almaça – “chumbou” o comprador e o negócio acabou por não avançar. A 10 de agosto último, a ASF sublinhou isso mesmo, explicando que, depois de contactar outros supervisores internacionais sobre este assunto, verificou que estava em causa “a eventual acusação ou pronúncia, em Portugal ou no estrangeiro, por crimes contra o património, crimes de falsificação e falsidade, crimes contra a realização da justiça e crimes cometidos no exercício de funções públicas”.

Na sequência deste chumbo, Greg Lindberg e a sociedade GBIG Portugal desistiram da compra da GNB Vida, que acabou por ser vendida a um fundo gerido pela Apax Partners LLP. Ou seja, de acordo com a ASF, “Greg Evan Lindberg não seria o beneficiário último da operação”.

De referir ainda que, ao contrário do que fica implícito nas palavras de Mariana Mortágua, Greg Lindberg ainda não tinha sido condenado quando venceu o concurso da compra (que acabou por não se verificar).

Finalmente, Mariana Mortágua insistiu na tese de que Matteo Castelvetri, o empresário que se associou à Apax para comprar a seguradora do Novo Banco, seria um testa de ferro de Greg Lindberg. “Aquilo que sabemos é que a nova empresa, que ficou com o contrato, com um novo desconto, tem como administrador o braço direito de Greg Lindberg. E não parece que isto alguma vez tenha sido desmentido”, referiu Mariana Mortágua.

Na verdade, porém, — e apesar de Castelvetri ter liderado os investimentos europeus de Greg Lindberg durante dois anos, a partir de Londres — a ASF afastou esse cenário, quando disse que “não apurou qualquer ligação entre Greg Evan Lindberg e o grupo adquirente da GNB – Companhia de Seguros de Vida, S.A.”

Conclusão

Mariana Mortágua dá como adquirido que a GNB Vida chegou a ser vendida a Greg Lindberg — o que a ASF desmente. Refere ainda que a operação estava a ser feita com um corrupto, quando, na verdade, o magnata na altura ainda não tinha sido julgado. Insistiu que Matteo Castelvetri seria o braço direito de Greg Lindberg, o que foi contestado pelo regulador. E não referiu que o acordo final envolveu potencialmente um conjunto de variáveis, no valor de até 125 milhões de euros.

ERRADO

De acordo com o sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

IFCN Badge