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Os últimos meses de 2022 não foram propriamente de situação de alerta no Alqueva, mas os meses (muito) quentes de verão obrigaram a um acompanhamento permanente do nível das reservas de água na barragem. Em setembro, o presidente da Empresa de Desenvolvimento das Infraestruturas do Alqueva (EDIA) admitia que, se não houvesse chuva abundante nos meses seguintes, seria preciso escolher: ou água ou energia, ou abastecimento agrícola ou produção de energia. |
O inverno foi profícuo para aquelas paragens e as chuvas de dezembro atiraram os níveis de reserva para 72% da capacidade total da barragem. Isso resolveu o dilema anterior, de que falava José Pedro Salema — mas não resolveu um outro problema, que se arrasta desde 2019: o da instalação, sobre o imenso lençol de água do Alqueva, do maior parque solar flutuante da Europa. Para isso, é preciso mais do que uma pluviosidade vigorosa durante alguns dias ou semanas. É preciso uma decisão política. |
A instalação do parque solar flutuante permitiria ao Alqueva tornar-se mais auto-sustentável na produção da energia de que precisa para poder transportar os milhões de litros de água acumulados na barragem até onde ela é necessária. |
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O projeto da EDIA, como o Observador apontou recentemente, previa a instalação de 10 novas centrais fotovoltaicas que permitiriam reforçar em 90GWh a produção energética do Alqueva e que se traduziriam numa independência para a produção de metade da energia necessária para os vários fins que a barragem serve. |
Ora, avançar com esse projeto teria um custo total de 50 milhões de euros, com a maior fatia desse bolo (45 milhões) a ser financiada pelo Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa e outros cinco milhões a representarem um investimento da própria EDIA. Concretizar a instalação depende de uma autorização do Ministério das Finanças, mas desde que o projeto foi apresentado, há mais de três anos, nem Mário Centeno nem João Leão nem, agora, Fernando Medina deram luz verde ao investimento. |
Chuvas repuseram reservas nas barragens. Mas três ainda suscitam preocupação |
Não foi, claro está, exclusivamente no Alqueva que os meses secos tiveram um impacto notório, fazendo recuar a linha de água armazenada na barragem até valores preocupantes. Recuperamos alguns números, apenas para ilustrar o cenário que se vivia a meio do verão passado: em agosto, segundo dados do Sistema Nacional de Informação dos Recursos Hídricos, de um universo de 58 albufeiras monitorizadas, apenas três tinham reservas superiores a 80% do seu volume total; nesse mesmo momento, 32 albufeiras tinham “disponibilidades inferiores a 40%”. |
Três meses volvidos e a situação melhorou significativamente. É verdade que ainda há três bacias em situação crítica: em Campilhas e no Monte da Rocha, na bacia hidrográfica do Sado, mas também na bacia de Bravura, no Algarve, registava-se esta semana um nível de reserva na ordem dos 11%, 10% e 12% das respetivas capacidades. |
Mas, no contexto global do país, na primeira semana de 2023 a média de armazenamento estava, já, nos 82% das capacidades máximas das bacias, num momento em que foram avaliadas 75 albufeiras. Dessas, 44 estavam com um volume de armazenamento entre 81% e 100%, segundo avançou a Agência Portuguesa do Ambiente. A chuva que se espera que venha a cair ainda nestes meses de inverno ajudará — espera-se — a reforçar as capacidades armazenadas. |