No dia 15 de Julho de 2020, saiu o estudo da Fundação Calouste Gulbenkian, que diz que 64% dos jovens entre os 18 e os 34 anos vivem ainda em casa dos pais. Pedimos menos empréstimos, porque também não temos para quê, nem como os sustentar…
Somos uma geração falhada, porque muitos viveram no pelo a crise de 2011-2014, com o FMI em Portugal, cortes salariais, desemprego e, mais ainda, faculdades a enganar os alunos, prometendo-lhes uma empregabilidade elevada, sem especificar em que áreas e a que salários.
Não conseguimos sair de casa, pois o ordenado médio nacional é de 946 euros líquidos (2019), valor esse que é muito próximo do que se paga em rendas de casa nas grandes cidades como Lisboa e Porto… ou próximo do valor do empréstimo a 30/40 anos por um andar. Um empréstimo para comprar um andar de 200 mil euros, por exemplo, com prazo de 40 anos e às taxas de juro atuais, corresponderá a uma prestação mensal de 644 euros. Pegando no valor do salário médio nacional líquido, estamos a falar de uma taxa de esforço de 68%.
Ironicamente, parece que 200 mil euros é muito dinheiro, mas desafio a pesquisarem o mercado imobiliário nos grandes centros e áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Verificamos que a oferta na casa destes valores não é assim tanta. E 644 euros de prestação mensal é, mesmo assim, mais barato do que arrendar um T1 ou um T2 nas duas maiores cidades nacionais.
As faculdades foram as culpadas: foram fábricas de ilusões para uma geração inteira. Andei numa faculdade – Instituto Superior Técnico – em que os dois ex-reitores – António Cruz Serra e Arlindo Oliveira – apregoavam cursos com empregabilidade acima de 90%. Esqueceram-se de divulgar a verdade sobre os salários e em que áreas é que os empregos estavam disponíveis. Tirar um curso para depois ficar num backoffice, numa caixa de supermercado, ou na Teleperformance porque se fala uma língua estrangeira, também serve para essa estatística da empregabilidade.
Em Portugal, temos a mentalidade de “deixa-te estar nesse emprego, porque depois é difícil arranjar outro”, havendo muitas empresas que se aproveitam disso, tendo quadros com licenciaturas e mestrados a ganhar bem menos do que os seus pares em 2011.
Os números da PORDATA (2019) mostram que a geração dos 18 aos 34 anos é a geração mais qualificada de sempre, tendo mais de 50% dos jovens concluído o ensino superior. Em 1992, tínhamos pouco mais de 14,4% de jovens nessa situação (25-34 anos).
Estávamos a sair da crise de 2011 e agora veio a Covid-19. A recuperação económica que se sentia, foi varrida por esse vírus. É uma pandemia sanitária, com milhões de casos em todo o mundo, mas também é uma epidemia económica e social.
Há vários indicadores que demonstram o impacto desta pandemia: os contratos de seis meses que não são renovados, empresas a suspender processos de recrutamento, adiando as vidas aos candidatos que continuam no desemprego ou em espera… pessoas em período experimental despedidas!
Nós, jovens entre os 18 e os 34 anos, somos uma geração adiada e falhada… venderam-nos ilusões e uma recuperação da economia, pós-troika, em que poderíamos ter salários melhores, empregos mais dignos, vir a poder sair de casa dos pais e ir morar para casa própria… mas tudo isso desabou!
Será que uma geração como a nossa, que tem a maior qualificação de sempre, tem necessidade de emigrar, ou estar em casa dos pais até aos 34 anos, adiando projetos de independência económica e social, bem como a constituição de família?
Fica a pergunta no ar, para que os principais responsáveis, como governantes, partidos políticos e gestores das empresas pensem bem no que querem para o futuro. Ter uma geração falhada, traz um futuro pouco risonho para o nosso país.
Por fim, termino com um agradecimento a quem mais tem feito por aguentar a geração de jovens entre os 18 e os 34 anos: muito obrigado aos nossos pais por nos aguentarem, uma espécie de Santa Casa, mesmo com choques de gerações e problemas na divisão de espaço comum. E mesmo já indo no alto dos seus 50 e 60 anos de idade!