Em 1978, uma série de ficção científica em episódios foi transmitida pela BBC Radio 4. O seu título era The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy, e era escrita por um inglês chamado Douglas Adams. A série teve tanto sucesso que Douglas Adams a escreveu depois numa trilogia de cinco livros (não é erro, foi mesmo descrita como uma trilogia de cinco livros) com nomes estranhos, como So Long, and Thanks For All the Fish, ou então The Restaurant at the End of the Universe, e o meu título favorito: Life, the Universe and Everything.

Toda a obra culmina na resposta à pergunta final sobre a vida, o Universo e tudo mais, que demorou 7,5 milhões de anos a ser calculada por um supercomputador.

E a resposta final foi 42.

Exacto. 42.

42 foi a resposta final. O problema é que ninguém sabia qual era exactamente a pergunta e, por isso, no final do livro, ficamos todos mais ou menos na mesma, ou não fosse Douglas Adams um dos argumentistas da série Monty Python’s Flying Circus e um fiel discípulo e praticante desse humor britânico sem sentido.

Mais recentemente, os cientistas descobriram que, há uns bons milhares de anos, o campo magnético da Terra se inverteu, o Pólo Norte passou para Sul e o Pólo Sul para Norte e isto durou umas centenas de anos até voltar ao normal. O problema é que, durante esses anos, o nosso campo magnético, para além de invertido, ficou reduzido a um décimo da sua força normal, deixando de nos proteger das diversas radiações cósmicas, com múltiplas consequências prejudiciais à Vida não aquática no planeta.

Curiosamente, foi nessa mesma altura que os Neanderthal se extinguiram e que, de forma súbita e simultânea em vários pontos do globo, surgiram obras de arte em grutas, feitas pelos Sapiens de então.

Pensa-se então que a perda da protecção conferida pelo campo magnético terrestre e as suas consequências poderá ter contribuído não só para o desaparecimento dos Neanderthais, mas também terá levado os Sapiens a procurarem refúgio em cavernas, onde terão inscrito a sua arte, que assim se conservou no tempo até aos nossos dias.

O estudo de árvores kauri fossilizadas na Nova Zelândia, que estavam bem vivas nessa altura, permitiu determinar com exactidão quando é que se deu esse fenómeno de inversão do campo magnético.

Foi exactamente há 42 mil anos.

Isso mesmo.

E é por isso que este evento se denomina The Adams Event, em honra ao Douglas Adams que, em 1978, já tinha determinado ser 42 a resposta a uma pergunta que ninguém sabia qual era.

Agora já sabemos. É o número de milhares de anos atrás que o campo magnético da Terra pregou uma partida e eliminou os Neanderthais e levou os Sapiens a inscreverem arte em grutas para sempre.

Bem, quer dizer, 42 é também o número da minha porta.

É pena Douglas Adams já ter falecido. Gostaria de lhe perguntar a qual das questões era 42 a resposta.

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