Com a aproximação do Natal, muitos procuram ideias para ofertas. Nesse sentido, e também já em jeito de um balanço pessoal sobre o ano editorial, aqui ficam algumas sugestões de livros publicados em 2022 que poderão enquadrar-se nos interesses de quem segue regularmente estas colunas.

Começo pelo livro A Estagnação Socialista (Gradiva), que reúne textos do também colunista do Observador André Abrantes Amaral (tal como eu AAA, mas uma pessoa distinta). O título explica bem o enfoque geral e, não sendo certamente a leitura mais animadora que se pode oferecer, vale pela lucidez, desprendimento e acutilância da prosa. Uma boa colecção de textos para perceber os problemas económicos e políticos com que estamos colectivamente confrontados.

E, para perceber e tentar combater as raízes mais profundas desse atraso, recomendo a obra Em Defesa do Capitalismo, de Rainer Zitelmann, mais uma publicação que resulta da excelente parceria entre a Alêtheia e o Instituto Mais Liberdade. Entre muitos outros dados e ideias interessantes, Zitelmann dá-nos conta de como os portugueses de hoje estão entre os povos mais anti-capitalistas, o que ajuda certamente a compreender não só a aceitação genericamente resignada da estagnação socialista mas também o atraso estrutural do país.

Ainda no âmbito de ideias e autores liberais, destaque também para a nova biografia de Friedrich Hayek, co-fundador da Mont Pelerin Society, Prémio Nobel da Economia em 1974 e figura de referência para muitos liberais e conservadores contemporâneos. Simplesmente intitulada Hayek, a nova biografia, da autoria de Bruce Caldwell e Hansjoerg Klausinger e publicada pela University of Chicago Press, adopta uma abordagem e tom mais pessoal do que trabalhos biográficos anteriores, beneficiando da investigação documental mais recente e desmontando vários mitos vigentes sobre a vida de Hayek num formato de leitura fluído e agradável.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mudando para um plano mais conservador e comunitarista, mas com pontos de contacto importantes com o liberalismo de matriz mais conservadora, é de destacar também a obra Obedience is Freedom, do meu colega Jacob Phillips, professor na St. Mary’s University, em Londres, onde dirige o respectivo Institute of Theology and Liberal Arts. Não obstante o título provocador, Phillips não procura polemizar. Antes recuperar e revitalizar ensinamentos e princípios tradicionais que enfatizam o dever e o respeito pelas obrigações como pilar fundamental de uma sociedade decente e livre. Neste sentido, o principal alvo de Obedience is Freedom são as múltiplas correntes “liberacionistas” que se popularizaram ao longo das últimas décadas no Ocidente e que se focam na suposta necessidade de promover a libertação dos indivíduos de todos os constrangimentos e amarras tradicionais: sociais, familiares, morais, religiosas e comunitárias. Uma linha “liberacionista” cujas origens podem ser traçadas até John Stuart Mill e Harriet Taylor, cujo liberalismo progressista (alguns hoje diriam “social”) se aproximou gradualmente do socialismo e constitui uma influência chave em muitas das correntes contemporâneas da esquerda e da esquerda radical nas democracias ocidentais. Ao “liberacionismo”, Philips contrapõe a importância dos laços comunitários, do sentido de dever e das obrigações naturais e tradicionais, vistas como estruturantes não só no plano colectivo mas também do próprio desenvolvimento integral de cada pessoa. Uma argumentação fascinante que combina análise filosófica com crítica cultural e literária e à qual, concorde ou discorde, dificilmente o leitor ficará indiferente.

Não posso também deixar de assinalar a publicação de International Annual Meetings in Political Studies: From Arrábida to Estoril, through Sintra and Cascais Vol. I: 1993-2002 (Universidade Católica Editora), com coordenação de Ana Martins, prefácio de Marc Plattner e introdução de João Carlos Espada. O livro (o primeiro de três volumes previstos) reúne comunicações apresentadas nos referidos encontros, iniciados em 1993 na Arrábida e entretanto transformados no Estoril Political Forum, cuja 30ª edição se realizou em 2022 e que constitui o principal evento anualmente organizado pelo Instituto de Institutos Políticos da Universidade Católica Portuguesa. Conforme bem sintetiza Rita Seabra Brito, Directora do EPF desde 2008: “The Estoril Political Forum is a gathering of friends of liberty that has grown over the years. It was not made by a central decision, or a central command. It has grown. It has evolved gradually through the free interaction and cooperation of free and responsible individuals and institutions that have felt at home and have enjoyed these annual meetings.

Deixei para o final três recomendações parcialmente em causa própria, para as quais conto com a tolerância dos leitores e também com a presunção de que quem segue habitualmente estas colunas poderá ter interesse no que escrevo noutros âmbitos.

A primeira das três é o livro Temas de Ética: Reflexões e Desafios (Principia), coordenado por António Bagão Félix, Paulo Otero, Pedro Afonso e Victor Gil. Uma obra plural e multifacetada na qual tive o privilégio de ser co-autor do capítulo inicial, “O que é a ética”, com José Manuel Moreira, e na qual colaboraram também Isabel Almeida e Brito, Filipe Almeida, Filipe d’Avillez, José Carlos Lima, João César das Neves, Manuel Monteiro, Margarida Góis Moreira, Margarida Machado Gil, Margarida Mateus, Maria da Glória Garcia, Maria do Céu Patrão Neves, Marta Lince Faria, Paulo Otero, Pedro Afonso e Pedro Vaz Patto procurando cobrir os principais desafios contemporâneos em ética.

Seguidamente, e mais no domínio da história do pensamento político, gostaria de destacar o livro Empire, Humanism and Rights (Springer), coordenado por José María Beneyto e no qual sou co-autor do capítulo “Vitoria and Erasmus on the Justice of War”, juntamente com Leonor Durão Barroso. Uma obra que se centra na comparação entre o pensamento do fundador da Escola de Salamanca, Francisco de Vitoria, e o de Erasmo de Roterdão e na influência de ambos para a génese e evolução do direito internacional contemporâneo.

Por último, mas certamente não menos importante, realço o enciclopédico The Oxford Handbook of Portuguese Politics (Oxford University Press), uma obra de grande abrangência sobre as várias dimensões da política portuguesa, coordenada por Jorge M. Fernandes, Pedro Magalhães e António Costa Pinto, no qual sou co-autor do capítulo “The Right and Far-Right in the Portuguese Democracy” juntamente com Riccardo Marchi.