As eleições presidenciais de 2024 na Venezuela poderiam ter sido um marco de renovação e esperança para um país abalado por crises. Não obstante, o processo eleitoral, muito provavelmente e sem novidade, foi subvertido pelo regime de Nicolás Maduro, minando a legitimidade do resultado e obscurecendo o futuro democrático da nação.
A Venezuela tem enfrentado uma crise profunda nas últimas décadas, marcada por instabilidade económica, tensões políticas e problemas sociais graves. Desde a ascensão de Hugo Chávez ao poder em 1999, o país tem passado por um tumultuoso processo de transformações políticas. A morte de Chávez, em 2013, e a subsequente presidência de Nicolás Maduro, exacerbou as divisões, com frequentes acusações de autoritarismo e corrupção.
Neste sentido, a campanha eleitoral de 2024 foi altamente polarizada. O principal candidato oposição, Edmundo González – pese embora a figura de proa fosse María Corina Machado -, apresentou propostas para reverter a crise e restaurar a democracia. Maduro, por outro lado, insistiu na continuidade das suas políticas, alegando defender a soberania nacional e os interesses do povo. A população, dividida entre a necessidade de mudança e o medo de represálias, foi às urnas com uma mescla de esperança e ceticismo.
A esperança de uma eleição justa e transparente foi rapidamente frustrada. O regime de Maduro desconvidou a União Europeia enquanto observador eleitoral, entre outros casos com distintos observadores, divulgou resultados à boca de urna, algo que é ilegal, bem como apresentou uma narrativa em que teria saído vencedor das respetivas eleições, com 51% dos votos contra 44% da oposição, contradizendo, cabalmente, as sondagens, que conferiam uma ampla vitória à oposição.
Para muitos venezuelanos, a aparente subversão eleitoral constitui uma traição à promessa de mudança. As esperanças depositadas numa transição democrática foram esmagadas e a sensação de desamparo e descrença num futuro diferente agudizou-se. A manipulação do resultado não apenas perpetua o regime de Maduro, mas igualmente aprofundou a desconfiança nas instituições e no futuro do país.
Com a consolidação do resultado subvertido, o regime de Maduro poderá intensificar a repressão contra opositores e críticos. As vozes dissidentes enfrentarão um ambiente paulatinamente mais hostil, com perseguições, prisões arbitrárias e restrições severas à liberdade de expressão e constantes violações dos direitos humanos. A comunidade internacional, que esperava um processo eleitoral mais transparente, agora enfrenta o desafio de responder a um governo que prossegue a desrespeitar os princípios democráticos.
O resultado das eleições de 2024 na Venezuela é um reflexo doloroso da atual realidade do país. Longe de ser um ponto de viragem, a mais que provável subversão do processo eleitoral irá perpetuar a crise e a repressão. O futuro da Venezuela depende de um esforço coletivo, tanto interno quanto externo, para fomentar a democracia, os direitos humanos, a solidez das instituições democráticas e o respeito pelo Estado de Direito.
Assim sendo, a subversão eleitoral representa um desafio nevrálgico para a nação venezuelana. A sociedade civil, a oposição política e a comunidade internacional precisam encontrar maneiras de manter a pressão sobre o regime e de apoiar os venezuelanos na busca por um futuro mais justo e democrático. A luta pela democracia e pela justiça continua, assim como a esperança de um novo amanhecer para a Venezuela permanece viva nos corações do povo venezuelano. Maduro “venceu” a batalha eleitoral, mas não venceu a guerra pela democracia.