Foi no dia 12 de Julho de 2004.

Pedro Santana Lopes cometia o erro político da sua vida (traído pela sua ambição pessoal e pressionado pelos interesses corporativos do PSD) de aceitar das mãos torcidas e dissimuladas de Jorge Sampaio uma indigitação esperada, mas totalmente armadilhada, para o cargo de primeiro ministro de Portugal.

Estava escrito nas estrelas que tinha de ser assim?

Não estava.

Tinha toda a razão quem defendia à data que a única forma de resolver o imbróglio deixado pela “fuga para a frente” do incumbente Durão Barroso – que largara o cargo de primeiro-ministro como um pano atirado ao chão para assumir a presidência da União Europeia às ordens de outros – era a convocação de eleições antecipadas.

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Mas a sua ansiedade pessoal e uma lógica demasiado rasteira de ajuntamento partidário falou mais forte.

Muita água correu, entretanto, desde esse dia.

Foi cínico e foi rápido o golpe presidencial da dissolução parlamentar que se seguiu à sua indigitação e Santana Lopes perdeu-se politicamente, de embaraço em embaraço.

Nas directas de 2008, candidato a líder do PSS, mas derrotado por Manuela Ferreira Leite.

Em 2009, concorrente em coligação à Câmara de Lisboa, mas perdedor para António Costa.

Finalmente, em 2011, por proposta do anterior governo, veio alguma calmaria e é nomeado Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, cargo que exerceu de forma tranquila até hoje (tendo sido reconduzido pelo actual governo em 2016 para novo mandato de três anos).

Neste momento, num cenário muito difícil para as oposições, num ciclo de aparente desafogo económico que embota totalmente a percepção dos governados, numa conjuntura frágil mas muito favorável à geringonça, no rescaldo da pesadíssima derrota eleitoral autárquica em Lisboa, um PSD sem alma e ideologicamente desorientado requer um novo fôlego e reclama por uma nova liderança.

Santana Lopes saiu da sua praia de conforto e já disse que vai a jogo e que é candidato à liderança do PSD.
Um PSD com uma história que ele ajudou a fazer e que conhece como poucos.

Cuja matriz verdadeira, além de reformista, nunca foi de esquerda, nunca foi anticlerical, nem nunca foi fracturante.

Num encontro com a história, a candidatura frontal e resoluta de Santana Lopes é a possibilidade dele se redimir definitivamente do dia mau da sua infeliz indigitação para o cargo de primeiro-ministro.

O momento de unir os social-democratas.

A oportunidade de fazer pontes para urgente mobilização de um projecto político-ideológico alternativo, profundo e amplo, ganhador à actual maioria parlamentar.

A hipótese virtuosa e patriótica de uma nova e revigorada união de esforços do centro e da direita em Portugal, a única capaz de num futuro próximo superar e derrotar definitivamente a geringonça.

É a hora de Santana Lopes.

Miguel Saldanha Alvim é advogado e membro da Comissão Política Nacional do CDS