Um estudo recente aquando das celebrações do 48º aniversário do 25 de Abril concluiu que as mulheres são quem mais valoriza a revolução. É claro que sim. Com a revolução veio a possibilidade de acesso à educação de forma generalizada, a possibilidade de ingressarem no ensino superior sem restrições, a possibilidade de viajarem sem terem que pedir autorização ao marido, a possibilidade de hospedeiras da TAP, enfermeiras e telefonistas se casarem. Sempre achei piada ao pormenor de as telefonistas não se poderem casar. Do que teriam medo os homens que fizeram essa lei (sim, foram homens…)? De ficarem sem chamadas telefónicas? Muito curioso. Veio também o acesso ao controlo da sua saúde reprodutiva, o acesso à pilula, o acesso à possibilidade de serem independentes financeiramente. Seria caso para dizer que tanta coisa mudou nas últimas cinco décadas… No entanto, apesar de todas estas alterações, ainda se continua a discutir a falta de igualdade de género.

Outro estudo recente indicou que as mulheres portuguesas, em pleno século XXI, trabalhavam mais 8 horas semanais que os homens em tarefas de foro doméstico. Ao mesmo tempo que isto acontece discute-se porque é que não há tantas mulheres em lugares de liderança quanto os homens. E interrogam-se sobre esta realidade como se fosse uma pergunta cuja resposta fosse muito difícil de encontrar. A resposta é simples: o dia só tem 24 horas e as mulheres não têm o dom de o aumentar. Enquanto as mulheres continuarem a ser responsáveis maioritariamente pela educação dos filhos, pela coordenação das tarefas domésticas, enquanto o seu instinto maternal as levar a tentar acompanhar e educar as crianças, dificilmente teremos o mesmo número de CEOS. O mesmo se passa no mundo Académico, a que eu pertenço. Um artigo do Financial Timesiv indicou que nas Universidades as mulheres são muito mais sobrecarregadas com serviço à escola do que os homens e que levam mais anos a progredir na carreira. E isto acho que é verdade em qualquer escola. Os homens são mais hábeis a dizer que não, a esquivarem-se das tarefas que consomem tempo, a dizerem que estão focados num artigo académico e não podem ter distrações. Daí algumas mulheres estarem a criar os seus “clubes do não” com o intuito de aprenderem a dizer habilmente “não”!

Além de ser necessário as mulheres aprenderem a dizer “não” com mais veemência, é importante também que se perceba que a igualdade de género tem que começar em casa: na forma como nós mesmos nos comportamos, na forma como educamos os nossos filhos e filhas, na forma como instigamos e fomentamos igualdade de género, na forma como impelimos meninos e meninas para as mesmas oportunidades e desafios, na forma como os munimos de educação e lhes consolidamos o importante conceito de igualdade. E se o fizermos todos de forma alinhada, e consistentemente nos comportarmos de acordo com estes ideais, em breve poderemos deixar de falar em quotas, e outros mecanismos artificiais que fomentam uma “falsa igualdade”, aspirando pela verdadeira igualdade de género, baseada no mérito e aspirações individuais de cada um de nós.

i Estudo conduzido pelo CESOP CESOP – Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica realizado para a Fundação Mário Soares – Maria Barroso, Fundação Calouste Gulbenkian e Universidade Católica.
ii Estudo feito com base em dados do Instituto Nacional de Estatística e do Eurostat
iii Há poucas mulheres no topo das empresas. Só 6% chegam a CEO – ECO (sapo.pt)
iv The club that teaches women how to say ‘no’ to office housework | Financial Times (ft.com)

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